Mali. Samuel Turpin/CICV

Mudanças do clima, conflitos armados e emergências de saúde: ameaça tripla pode ser fatal para pessoas mais vulneráveis em contextos frágeis

Genebra (MSF/CICV) – A mudança climática não é uma ameaça distante. Ela já afeta drasticamente a vida de pessoas vulneráveis no mundo inteiro. Em particular, a mudança do clima tem consequências devastadoras para quem vive em situações de conflito armado e para quem não tem acesso aos cuidados básicos de saúde.
Comunicado de imprensa 04 novembro 2022 Somália Mali Sudão do Sul Moçambique

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho têm trabalhado de perto com comunidades em países onde a convergência dessas três ameaças – as mudanças climáticas, os conflitos armados e as emergências de saúde – é uma triste realidade. Dos 25 países mais vulneráveis às mudanças climáticas e menos preparados para se adaptar, a maioria também enfrenta conflitos armados. Em muitos desses lugares, as pessoas não têm acesso aos cuidados básicos de saúde. Quando choques climáticos abalam países com poucos recursos alimentícios, hídricos e econômicos, a vida, a saúde e os meios de subsistência das pessoas ficam ameaçados.

Nos últimos anos, a Somália passou por um ciclo irregular de secas e inundações que exacerbou a terrível situação humanitária provocada por três décadas de conflito armado. As pessoas têm pouco tempo para se adaptar porque os choques são muito frequentes e graves.

As organizações humanitárias também têm respondido às inundações no Sudão do Sul e em toda a região do Sahel, aos devastadores ciclones em Madagascar e Moçambique, e à severa seca no Chifre da África. A crise climática agrava as crises humanitária e da saúde.

Como humanitários, estamos alarmados com a realidade atual e as projeções para o futuro. Vemos secas, inundações, pragas de insetos e mudanças nos padrões de precipitação que podem comprometer a produção de alimentos e os meios de subsistência das pessoas. Vemos eventos climáticos mais extremos e mais poderosos, como ciclones que destroem a infraestrutura básica de saúde. Vemos mudanças nos padrões de doenças mortais, como malária, dengue e cólera. Os conflitos armados e a violência aumentam a necessidade de atendimento médico de emergência e, ao mesmo tempo, limitam a capacidade dos centros de assistência.

Todas essas situações ocorrem num mundo que está 1,2 ºC mais quente que os níveis pré-industriais, enquanto as pessoas mais vulneráveis do planeta pagam o preço mortal de um problema causado principalmente pelos países mais ricos. O aquecimento adicional provocará consequências desastrosas, a menos que medidas atenuantes urgentes e ambiciosas sejam tomadas e que as pessoas e os países mais afetados recebam o apoio adequado para conseguir adaptar-se aos crescentes riscos climáticos.

"Hoje, as necessidades já superam a resposta. Esta é uma crise de solidariedade que está se tornando uma crise de moralidade. O mundo não pode deixar de apoiar as pessoas que sofrem as consequências mais trágicas", disse o diretor-geral de MSF, Stephen Cornish.

O apoio financeiro e técnico deve chegar às pessoas que mais precisam, o que não está acontecendo com a devida magnitude. O compromisso do Acordo de Paris de aumentar o apoio aos países menos desenvolvidos não reconhece que vários desses países também são afetados por conflitos armados e precisam ser priorizados. Até o momento, não foram cumpridas as promessas de reduzir as emissões de carbono e de apoiar os países que enfrentam os maiores impactos.

Do Afeganistão à Somália, do Mali ao Iêmen, vemos como é grave que, aos efeitos dos crescentes riscos climáticos, somem-se as consequências dos conflitos armados. Nosso trabalho nesses lugares ajuda as pessoas a lidar com a crise climática. No entanto, os atores humanitários não podem responder sozinhos à enorme quantidade de desafios. Sem um apoio financeiro e político decisivo aos países mais frágeis, o sofrimento só vai piorar", disse o diretor-geral do CICV, Robert Mardini.

Pedimos que os líderes mundiais cumpram os compromissos assumidos no Acordo de Paris e na Agenda 2030 e garantam que as pessoas vulneráveis e afetadas por conflitos contem com o apoio adequado para se adaptar às mudanças do clima. Precisamos, coletivamente, encontrar soluções e garantir o acesso ao financiamento climático adequado em contextos desafiadores. Deixar as pessoas para trás não é uma opção.

Observação para a imprensa:

A liderança do CICV estará disponível para entrevistas na COP27. Acompanhe as novidades do CICV no Twitter. Novas filmagens e mais informações também estarão disponíveis na nossa sala de imprensa.

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Mais informações:

Christoph Hanger, CICV Genebra (inglês, francês e alemão)
+41 79 731 04 03  changer@icrc.org

Nesma Nowar, CICV Cairo (inglês e árabe)
+20 100 289 24 19  nnowar@icrc.org

Alexandra Malm, MSF Genebra (inglês e francês),
+ 41 76 695 15 12  alexandra.malm@geneva.msf.org