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Bangladesh: mulheres quebram estereótipos com o basquete em cadeira de rodas

As pessoas com deficiência física em Bangladesh costumam enfrentar barreiras sociais, sofrendo percepções negativas e discriminação. São estigmatizadas e muitas vezes consideradas dependentes. Entre essa população, as mulheres são altamente marginalizadas e as mais vulneráveis por causa de preconceitos, maus-tratos e pobreza.

O Centro de Reabilitação de Paralisados (CRP), em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), continua inovando ao envolver essas mulheres com o basquete em cadeira de rodas. A equipe, criada em 2016 com o apoio do CICV e do CRP, já participou de vários treinos de pré-temporada e torneios internacionais no Nepal (2017) e na Indonésia (2018). As atletas venceram o campeonato em Bali, derrotando as anfitriãs.

Conversamos com algumas integrantes do time e ficamos impressionados com a sua coragem e perseverança.

Shapna

A falta de um atendimento de emergência avançado deixou Shapna em uma situação crítica em 2007, após ela sofrer um acidente. Os médicos inicialmente lhe deram apenas algumas horas de vida. Shapna sobreviveu à operação, mas os cirurgiões não puderam salvar os seus membros. Um familiar distante contou à família sobre o CRP, lembrando que a iniciativa havia provado ser um divisor de águas.

Me disseram que eu não sobreviveria, mas sou ativa e jogo basquete em cadeira de rodas por Bangladesh.

Muitos questionaram sua decisão de entrar para o time, mas agora se orgulham dela perante o mundo. "As pessoas me valorizam aqui e não me julgam pela minha deficiência", diz Shapna, que também trabalha como recepcionista no CRP.

Seu nome é Ratna

Criada na zona rural, Ratna nunca havia sonhado em subir em um avião – e menos ainda como jogadora de basquete profissional. Mas a vida reservou outros planos para ela. "Eu tinha apenas 11 anos quando me casei, e fui mãe pouco depois. Fiquei com deficiência após cair do telhado. Desde então, esta cadeira de rodas tem sido a única coisa constante em minha vida."

Ratna consegue se encontrar raramente com o filho, já que a família do marido não aprova. Mas, sempre que se veem, ela e o garoto abrem seus corações.

Mostro vídeos dos meus jogos ao meu filho, e isso o deixa entusiasmado. O basquete me motiva a viver.

Superar seu constrangimento de treinar ao lado da equipe masculina foi uma tarefa difícil. Mas aqueles dias ficaram para trás. Hoje, Ratna é uma jogadora de basquete confiante que sente um enorme orgulho por representar seu país na arena global.

Khatun

Fahima não se esquece do último jogo da série disputada no Nepal.

Meus dedos sangravam, mas queríamos dar tudo de nós. A alegria que sentimos com a vitória é indescritível!

A equipe havia perdido duas partidas seguidas, e ela tinha chorado copiosamente após a última derrota.

A Fahima de hoje não se parece em nada com a Fahima que esteve confinada em uma cadeira de rodas devido a uma queda do telhado. "Eu estava terrivelmente deprimida e pensava que não tinha futuro. Mas minha família sempre me apoiou a cada passo do caminho", afirma. Além de jogar basquete, ela hoje trabalha como recepcionista no CRP e valoriza todo o esforço realizado pelo centro e o CICV na sua reabilitação e na de muitos outros como ela. Graças a essa dedicação, Fahima promete se tornar uma jogadora ainda melhor e vencer competições para o seu país.

Marzana

"Eu tinha 16 anos quando caí de uma árvore em minha casa no povoado. Por ser uma jovem mulher com deficiência em Bangladesh, enfrentei muitos desafios ao longo do caminho. Mas meus pais e meus entes queridos me incentivaram para que eu nunca desistisse", diz Marzana. Eleita capitã do time durante o torneio em Bali, ela não se continha de felicidade ao vencer todos os cinco jogos contra a equipe da casa.

Agora sou considerada uma celebridade entre meus familiares e amigos. Só quero continuar jogando pelo meu país e ver o nosso time brilhar.

Lutfa Akter

Ela tinha apenas três anos quando contraiu pólio. Hoje, Lutfa Akter diz que o basquete a ajudou a romper as amarras mentais da deficiência. "Tenho que viajar mais de 100 km da minha cidade até o centro para jogar, mas a paixão pelo basquete é tão forte que nada pode me impedir."

Acho isso libertador!

A primeira competição no exterior abriu um novo mundo para Lutfa. "Até mesmo viajar a Dhaka era um sonho distante. Mas ir para um novo lugar fora de Bangladesh era surreal", recorda.