Relatório

De máscaras a apoio psicossocial, programa Acesso Mais Seguro reforça apoio a profissionais dos serviços essenciais

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Depoimento
Balanço Humanitário 2020

Se de um lado a pandemia trouxe novas questões que desafiaram a articulação das ações humanitárias, do outro, ela também foi responsável pelo agravamento de vulnerabilidades já existentes em territórios violentos. No caso do programa Acesso Mais Seguro para Serviços Públicos Essenciais, além de adaptar respostas às novas necessidades das áreas atendidas, o desafio foi também manter o apoio nos âmbitos em que o programa atua, mitigando e prevenindo o impacto da violência armada nos serviços públicos essenciais.

A responsável pelo AMS no Brasil, Karen Cerqueira, reforça que respostas rápidas e adaptadas exigem flexibilidade e olhar atento para que as ações se mantenham sustentáveis.

Diante de uma pandemia, vulnerabilidades econômicas e sociais acabam se agravando, o que pode impactar em mudanças nas dinâmicas da violência e, consequentemente, afetar os serviços públicos essenciais.

As primeiras ações foram sanar a falta de materiais para a realização do trabalho adequado e com redução de riscos. Ao longo do ano, o CICV doou equipamentos de proteção individual (EPIs) e produtos de higiene aos seis municípios brasileiros parceiros: Florianópolis (SC), Duque de Caxias (RJ), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Vila Velha (ES). 

 

Foto: Adriano Rodriguês/CICV

De forma paralela, o CICV também atuou no apoio à saúde mental dos profissionais de serviços essenciais. Foi promovida a troca de boas práticas adaptadas à Covid-19 entre os parceiros, além do envio de recomendações aos profissionais e aos gestores em matéria de autocuidado e gestão do estresse das equipes.

Troca valiosa

O CICV fez recomendações e indicou parceiros para apoiar os serviços a lidar com situações de risco associadas à violência armada em meio urbano durante a pandemia. Três webinars foram feitos sobre esta temática. "Estes são eixos que nós já trabalhávamos, mas percebemos a necessidade de intensificar estas ações durante a pandemia. A rede de parceiros que implementam o AMS foi fortalecida, porque é o momento em que uns precisam dos outros, o que proporcionou uma troca valiosa", explica a responsável técnica do AMS, Lívia Schunk.

"Tivemos muito apoio por meio das recomendações que nos foram enviadas e que nós repassávamos para as unidades", é o que explica Vanusa Alves, representante da Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) de Fortaleza. "Destaco principalmente no que diz respeito às recomendações de saúde mental, porque, além do medo causado pelo novo coronavírus, permanecia o medo de alguns profissionais em decorrência da violência". Para ela, os encontros neste ano fortaleceram o AMS e trouxeram ainda mais protagonismo aos municípios.

Foto: Encontro remoto da Rede AMS

Outro importante foco de resposta do CICV diante da vulnerabilidade dos profissionais na pandemia foi a realização da campanha Valorize o Essencial. Com atuação em duas vertentes, de um lado, a campanha foi dirigida aos profissionais e gestores desses serviços, em especial em contextos afetados pela violência, e trouxe dicas práticas de autocuidado e gestão do estresse.

A segunda vertente foi voltada à população para fomentar a valorização e empatia para com esses profissionais, e promover o apoio às equipes dos serviços essenciais por meio de histórias e depoimentos. "Nós tivemos um excelente feedback tanto dos nossos parceiros como dos profissionais e da população que reagiu e interagiu com a campanha", ressalta Lívia.

"Acreditamos que essa consolidação e fortalecimento do AMS junto aos parceiros vai continuar em 2021, nós continuaremos essa estratégia de estar cada vez mais próximos dos parceiros, e fortalecer a troca de experiências e o apoio mútuo entre as diferentes instituições prestadoras de serviços. O objetivo é que a nossa resposta seja sempre adequada ao contexto e às necessidades de nossos parceiros. Que seja uma resposta oportuna e inclusiva, e que busque sempre o desenvolvimento e fortalecimento das capacidades locais. Então, essa é nossa expectativa para o ano que vem", projeta Karen.

 

O AMS em números

Flávia Caetano, assessora do programa Acesso Mais Seguro nos municípios de Duque de Caxias, Vila Velha e do Rio de Janeiro

Eu acho que o principal desafio durante a pandemia de Covid-19 foi manter a postura de apoio. Os profissionais entravam em contato comigo para solicitar assistência, então eu tinha que estar ali firme diante deles, mas, ao mesmo tempo, eu percebia o quanto eles não tiveram tempo para viver o luto.

Muitos interlocutores perderam familiares e colegas de trabalho, e cada vez que eu ouvia a notícia de que alguém estava infectado com Covid-19 era muito difícil. Mas essas pessoas, elas continuaram presentes no trabalho e eu pensava que também devia estar tão firme quanto elas.

Eu tenho uma interlocutora que é da Secretaria de Educação de Duque de Caxias. Ela teve Covid-19, depois teve o esposo, e os dois sogros faleceram da doença. Ainda assim, ela continuou conosco para dar continuidade ao trabalho.

Então, são pessoas que se preocupam com quem está dentro do território e que querem manter esse apoio que é proposto pelo Acesso Mais Seguro. Foi um processo muito rápido, onde procuramos atender a real necessidade dos nossos parceiros.

Outra coisa que marcou uma diferença foi que a gente fez a solicitação do equipamento de proteção individual para doações no momento de escassez, porque estavam todos comprando, então nem as secretarias estavam conseguindo os materiais. Imagine o quanto foi gratificante ficar firme para poder garantir esse apoio não só na escuta, mas em saber que o material chegou para eles.

Aí, sim, cada minuto valeu a pena. Na minha opinião, o CICV mostrou ainda mais a sua capacidade de realização de trabalho humanitário. Eu cresci muito como profissional e sou muito grata por fazer parte desta organização, porque eu pude, de alguma forma, colaborar para que essa pandemia tivesse um menor impacto em alguns municípios. Eu me sinto como um pedacinho de quem ajudou a tecer toda essa teia.

De forma paralela, o CICV também atuou no apoio à saúde mental dos profissionais de serviços essenciais. Foi promovida a troca de boas práticas adaptadas à Covid-19 entre os parceiros, além do envio de recomendações aos profissionais e aos gestores em matéria de autocuidado e gestão do estresse das equipes.