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Nigéria: medo, ansiedade e um longo caminho para casa

Medo e ansiedade. São as emoções de um adolescente, um homem cego e dois irmãos na Nigéria têm em comum depois do surto de violência que os obrigou a fugir tão rápido que perderam o contato com as suas famílias. Os quatro compartilham algo mais: um final feliz.

Abba, de 13 anos, estava brincando com uma amigos quando uma saraivada de tiros semeou o pânico na cidade de Mubiem uma tarde em 2014. Abba correu para as montanhas nos arredores. Agora separado da sua família, o adolescente viajou quase 200 quilômetros para o norte - a maioria a pé - para a cidade de Maiduguri. Passaram-se os meses depois que ele se instalou e se adaptou à rotina em um campo para pessoas deslocadas. Até que um dia, ele conhece uma equipe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) especializada em reunificar famílias separadas.

A família de Abba está reunida na sua cidade natal, Mubi, após da violência tê-los obrigado a fugir. CC BY-NC-ND / CICV

Na sua cidade natal, Mubi, a paz finalmente voltou. Assim como a família de Abba, que havia fugido. Mas eles não tinham informações sobre o menino que tinha se perdido e temiam que estivesse morto. Quando uma equipe do CICV visitou a cada deles, todos ficaram felizes de saber que Abba estava vivo.

"Quando falei com os meus pais por telefone no campo, foi um momento de muita felicidade para mim", contou Abba. "Eles me perguntaram imediatamente se eu estava voltando para casa em breve e lhes respondi que sim."

A violência obrigou os dois irmãos – Mohammed, 17, e Sadiq, 15 – a fugir duas vezes. A família deles primeiro foi obrigada a deixar a sua cidade natal, Gwoza. Eles se reinstalaram em Mubi, mas o rápido desencadeamento da violência nessa cidade fez com que eles fugissem mais uma vez. Depois de perder contato com a família, os irmãos viajaram primeiro para Yola e depois para Maiduguri. Foi nessa última cidade onde conheceram os oficiais de terreno do CICV.

Os irmãos Sadiq e Mohammed embarcam em um veículos do CICV com os seus pertences, cercados por amigos, pessoas que lhes desejavam boa sorte e funcionários do do CICV. CC BY-NC-ND / CICV

"Dei para eles o telefone de um parente que eu sabia de memória", contou Mohammed. A equipe do CICV conseguiu encontrar o pai dos meninos por intermédio desse parente. "Mal posso esperar para ver a minha família", afirmou Sadiq no dia que foram embora do campo para voltar para casa.

TO caso de Mohammadu foi ainda mais especial. Este homem de 66 anos tem deficiência visual e teve de se deslocar inúmeras vezes. A viagem foi difícil. Em uma ocasião, as pessoas do povoado fugiram e o deixaram para trás, abandonando-o na estrada até que algumas mulheres o encontraram e o ajudaram a encontrar o seu caminho. Depois de caminhar durante muitos dias, chegou a Maiduguri. No ano passado, a Agência Nacional de Gestão Emergencial da Nigéria pediu o CICV para ajudar Mohammadu a encontrar a sua família. "Só quero poder voltar para a minha casa e estar com a minha família antes de eu morrer", contou Mohammadu à equipe do CICV. A cidade onde nasceu ainda não está estável, mas um sobrinho em Yola disse que acolheria Mohammadu na sua casa.

Ishaya (esq.) se reencontra com o tio Mohammadu em Yola. Como a cidade de Mohammadu ainda está devastada pelo conflito, o seu sobrinho se ofereceu para cuidar dele na sua casa. CC BY-NC-ND / CICV

O conflito que começou no nordeste da Nigéria abarcou toda a região do lago Chade, causando o deslocamento de mais de dois milhões de pessoas na Nigéria e separando inúmeras famílias. Uma das principais funções do CICV é restabelecer os laços mediante a localização das pessoas e do restabelecimento de contato entre elas e os familiares desaparecidos.

Depois de meses de tristeza e solidão, quatro compatriotas improváveis - um adolescente, um deficiente visual e dois irmãos - embarcaram em um avião do CICV em meados de abril para começar a sua jornada de volta à casa.

Quando o jovem Abba reviu os pais em Mubi todos riam e sorriam. Mustapha, um tio que criou Abba, não podia conter a sua alegria. "Nós o procuramos por todo lugar depois que voltamos a Mubi", afirmou Mustapha. "Recebíamos notícias divergentes sobre o paradeiro dele até que chegaram as informações do CICV. Foi quando nos alegramos por saber que o veríamos de novo."

O pai de Mohammed e Sadiq acolheu os dois filhos quando retornaram. Apesar de ainda estarem vivendo como pessoas deslocadas em Mubi, a família espera poder retornar em breve a Gwoza.

Abubakar, pai de Mohammed e Sadiq, assina o certificado de entrega do CICV depois de recebê-los de volta em casa. CC BY-NC-ND / CICV

Mohammadufoi recebido no aeroporto de Yola pelo seu sobrinho Ishaya. "Tínhamos desistido de encontrá-lo com vida", contou Ishaya. "Sou muito grato ao CICV pode tê-lo trazido de volta à casa."

Quando chegou à casa do sobrinho, Mohammadu se sentou sob a sombra de uma árvore e disse com um claro alívio na sua voz: "Sinto-me como se tivesse renascido."