Artigo

Gaza e Cisjordânia: ajudar a todas as vítimas em meio à crescente crise

O conflito em curso que afeta a Faixa de Gaza e Israel tem um custo terrível para a população civil. Ao tentar ajudar todas as pessoas necessitadas, os profissionais humanitários enfrentam, eles mesmos, sérios riscos de segurança. Um voluntário do Crescente Vermelho Palestino foi morto enquanto tentava atender os feridos em Khuzaa, ao sul da Cidade de Gaza, em 25 de julho. Outros voluntários paramédicos que tentaram socorrê-lo também foram alvejados, impossibilitando que ele fosse levado ao hospital a tempo. Outro voluntário havia sido morto e três mais feridos em Beit Hanoun no mesmo dia.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) condena energicamente esta série alarmante de ataques contra os profissionais humanitários, ambulâncias e hospitais. São violações graves do Direito da Guerra e devem cessar imediatamente.

As hostilidades em curso causaram um grande número de vítimas e danos materiais generalizados, incluindo a destruição de infraestrutura vital. Segundo os profissionais de saúde em Gaza, mais de mil pessoas foram mortas e outras 5.430 feridas até 27 de julho. Uma de cada quatro vítimas seriam crianças.

Todos os moradores de Gaza estão afetados: alguns perderam suas casas, alguns fugiram, outros ficaram encurralados nas zonas de combate, mas todos estão na linha de fogo, temendo pela sua segurança e dos seus entes queridos. Milhares de prédios foram destruídos ou danificados, resultando na fuga de mais de 100 mil pessoas. Muitas delas estão alojadas em acampamentos, escolas, locais de culto ou com parentes. Mesmo assim, ninguém se sente seguro. As pessoas estão com medo constante de uma morte violenta e muitos estão exaustos por não terem dormido durante vários dias por causa das noites ruidosas e horríveis. O preço deste conflito está sendo pago, na sua grande maioria, pelos civis.

A situação da Faixa de Gaza - onde a população já enfrentava dificuldades crônicas provocadas pela infraestrutura frágil, uma economia estagnada e restrições aos movimentos das pessoas e bens devido ao atual fechamento das fronteiras de Gaza – foi exacerbada ainda mais desde o início da operação terrestre em 17 de julho.

Em Israel, milhares de foguetes causaram três mortes, 77 feridos e danos aos bens civis em todo o país, com as pessoas vivendo com medo e constante estresse.

Enquanto isso, a escalada da violência e do número de vítimas civis na Cisjordânia é também uma questão de grande preocupação para o CICV. As nossas equipes estão presentes no terreno, monitorando de perto a situação. Continuamos buscando o diálogo bilateral com a potência ocupante em relação com a necessidade de se fazer todo o possível para assegurar a ordem e segurança públicas, proteger os civis dos ataques o máximo possível e cumprir com as normas internacionais de aplicação da lei.

Prioridades humanitárias

De modo a aliviar o sofrimento nas áreas densamente habitadas da Faixa de Gaza, o CICV trabalha incansavelmente com o Crescente Vermelho Palestino e as autoridades locais para restabelecer o acesso da população à água, assistência à saúde e abrigo.

As ambulâncias do Crescente Vermelho, com o apoio do CICV, trabalham 25 horas por dias para salvar vidas e levar os feridos aos hospitais.

Contudo, o maior desafio é proteger as pessoas de futuros ataques e dos efeitos dos combates. O CICV incrementou o diálogo com as partes em conflito sobre a condução das hostilidades, lembrando-lhes das suas obrigações segundo o Direito Internacional Humanitário, em particular da necessidade de tomar precaução constante para poupar a população e a infraestrutura civis. A ajuda humanitária pode aliviar, de certa maneira, o sofrimento causado pela violência, mas não pode evitá-lo. Em última instância, somente a ação efetiva no âmbito político pode garantir a proteção real aos civis.

Saúde

A ajuda para levar os doentes e feridos aos hospitais e apoiar o trabalho destes são atividades vitais, que o CICV realiza dia e noite. Durante todo o conflito, o CICV vem trabalhando arduamente para garantir o acesso à assistência à saúde. Dentre os esforços, se encontram:

  • Prestação de ajuda financeira e material aos serviços de saúde de emergência do Crescente Vermelho Palestino;
  • Coordenação com as autoridades respectivas, em dezenas de ocasiões, para facilitar a movimentação segura das ambulâncias através das zonas afetadas pelo conflito;
  • Doação de nove kits de cirurgia de guerra (cada kit é suficiente para tratar 50 pacientes gravemente feridos ou 1,5 mil com ferimentos leves), remédios, equipamento cirúrgico, 300 sacos mortuários, 20 macas, 120 leitos hospitalares, cadeiras de roda, quatro conjuntos de curativos cirúrgicos e 200 kits de primeiros socorros;
  • Fornecimento de combustível para ambulâncias e geradores para hospitais, e ajuda para distribuir o combustível doado pela Agência da ONU de Socorro e Trabalho para a Palestina;
  • Colaboração com o Hospital Al Aqsa, após o bombardeio, para que os pacientes da emergência possam ser atendidos antes de serem transferidos pelo Crescente Vermelho a outros hospitais;
  • Envio de um médico especialista em emergências ao Hospital Al Shifa;
  • Desempenho da função de proteção para o Crescente Vermelho e organizações da defesa civil que levam os doentes e feridos ao hospital;
  • Trabalho para facilitar a entrada em Gaza de material médico proveniente do Ministério Palestino de Saúde e do Crescente Vermelho em Ramala, além de outras organizações;
  • Organização para entregar 76 carregamentos de material médico proveniente do Ministério de Saúde em Ramala ao depósito central médico em Gaza.

O CICV também se esforça para garantir que a população civil não seja afetada ainda mais. Para isso, realizou as seguintes atividades:

  • Ajudou a proteger os estabelecimentos de assistência à saúde e depósitos ao coordenar com todos os lados para evitar que sejam danificados;
  • Realizou representações junto aos beligerantes em nome dos hospitais, como os de Al Wafa e Al Aqsa que foram afetados pelas hostilidades, bem como para as ambulâncias que trabalham no terreno;
  • Monitorou e documentou as ações de ambos os lados que lhe preocuparam durante a condução das hostilidades;
  • Coordenou suas atividades com as de outras organizações como a Organização Mundial de Saúde e Médicos Sem Fronteiras.

Água e saneamento

O CICV realizou as seguintes atividades:

  • Implementou 20 projetos desde o início do conflito para assegurar que cerca de 370 mil pessoas tivessem restabelecido o acesso à água e saneamento;
  • Ajudou a avaliar e consertar infraestruturas hidráulicas e elétricas (por pedidos, o CICV também acompanha os técnicos de outros órgãos para garantir a segurança deles);
  • Trabalhou em estreita parceria com a companhia local de água para monitorar as condições do abastecimento e os locais de distribuição, assim como das redes de esgoto;
  • Realizou o conserto de emergência em Beit Hanoun e Rafah, por exemplo, para restabelecer a energia elétrica;
  • Distribuiu 1,5 mil litros de água potável ao Hospital Kamal Edwan para serem coletados pelo Hospital Beit Hanoun.

Assistência

O CICV trabalha em estreita parceria com o Crescente Vermelho Palestino para atender as necessidades básicas dos desabrigados. Em particular:

  • Ajudou, até agora, mais de 3,5 mil deslocados em seis lugares distintos (o CICV e o Crescente Vermelho estão atualmente finalizando um plano abrangente para atender as necessidades de dezenas de milhares de deslocados);
  • Distribuiu artigos de primeira necessidade como cobertores, colchões, utensílios de cozinha e lonas para abrigo a mais de 500 famílias que tiveram suas casas destruídas ou danificadas;
  • Ajudou o Crescente Vermelho a elaborar um mapa de localização das casas danificadas para avaliar as necessidades;
  • Ajudou o Crescente Vermelho a avaliar as necessidades dos deslocados que vivem em abrigos provisórios (prédios governamentais, escolas privadas, igrejas, etc.).
  • Trabalho em conjunto com o Crescente Vermelho Palestino e o Magen David Adom
  • O Crescente Vermelho Palestino levou um total de 2.625 feridos ao hospital e 461 corpos à morgue desde o início do conflito. No processo, o CICV realizou ações para garantir o acesso e a proteção em mais de 35 casos que envolviam zonas inseguras.
  • O CICV presta apoio operacional ao Crescente Vermelho Palestino – que fez um apelo público para doações substanciais – com o aumento do repasse de fundos e outros recursos. (Receberam até agora 2,73 milhões de francos suíços em ajuda do CICV).
  • Para levar os feridos e doentes ao hospital, o Crescente Vermelho possui 42 ambulâncias localizadas em cinco postos em toda a Faixa de Gaza. Além disso, administra hospitais na Cidade de Gaza e Khan Younis, um centro de reabilitação em Khan Younis e seis centros de saúde menores. O CICV faz todo o possível para apoiar este trabalho.
  • Comboios conjuntos do CICV e Crescente Vermelho deslocam-se até as áreas onde se desenrolam as operações militares. O CICV faz todo o possível para maximizar o acesso humanitário.
  • O CICV e o Crescente Vermelho (mais de 400 voluntários) vêm realizando uma operação conjunta com foco na assistência e abrigos de emergência.
  • O CICV e o Magen David Adom fizeram várias missões conjuntas no terreno para monitorar as necessidades em Israel, e o CICV continuou com o levantamento dos casos que afetam a população e bens civis.

É crucial assegurar que haja um estoque estável de material e equipamentos médicos que salvam vidas. Desde o início das hostilidades, o CICV levou ou coordenou o transporte até Gaza dos seguintes artigos:

  • Material médico suficiente para tratar 300 feridos graves durante uma semana;
  • Aprox. 500 kits com utensílios domésticos básicos;
  • 117 carregamentos adicionais com artigos para distribuição pelo Crescente Vermelho (suficientes para centenas de pessoas carentes);
  • 12 caminhões com material médico e unidades de sangue para o Ministério de Saúde;
  • Um carregamento de artigos médicos para uso pelos Médicos Sem Fronteiras.

Mais informações:
Nadia Dibsy, CICV Jerusalém, tel.: +972 52 601 91 48
Maria Cecilia Goin, CICV Jerusalém, tel.: +972526019150 ou +972 598935468
Ran Goldstein, CICV Tel Aviv, tel.: +972 52 27 57 517
Sitara Jabeen, CICV Genebra, tel.: +41 22 730 24 78 ou +41 79 536 92 31