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Afeganistão: nove profissionais abrem novos caminhos na reabilitação física a longo prazo

Depois de se formar no programa de próteses e órteses, o afegão Abdul Qadir Najm não vê a hora de aplicar o seu conhecimento para facilitar a vida das pessoas com deficiência. Levado pela necessidade de ajudar, Najm decidiu aprimorar as suas habilidades quando viu o número cada vez maior de pessoas que haviam perdido membros devido a ferimentos causados pelo conflito.

Junto com outras oito pessoas, Najm é parte de um projeto-piloto desenvolvido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em colaboração com Human Study e.V., com sede na Alemanha, e a Sociedade Internacional para Próteses e Órteses (ISPO). O programa do curso, com duração de quatro anos, é o primeiro dessa natureza realizado mediante uma combinação de aulas à distância e treinamento in loco. O grupo de nove alunos – sendo duas mulheres – concluíram com sucesso seis semestres e se formaram ao final de uma prova de cinco dias realizada em Bangkok. Esse é o primeiro grupo de especialistas em próteses e órteses no Afeganistão com Categoria I reconhecida pela IPSO e agora poderão atender casos graves e diversos de deficiências.

"O conhecimento é poder", afirma Najm ao contar o que o levou a participar do programa. "A reabilitação física pode ser um grande incentivo para as pessoas com deficiência", acrescenta.

A sua colega Mahpekay Sidiqy, oriunda de Cabul e com amputação bilateral, também reconhece que precisam habilidades e conhecimentos atualizados para lidar com o crescente número de pessoas com deficiências físicas. Ela também destaca que algumas pacientes deixam de participar da reabilitação por não quererem ser tratadas por médicos do sexo masculino. "Infelizmente, faltam profissionais do sexo feminino no país.

A minha colega e eu somos as primeiras especialistas em próteses e órteses com Categoria I. Por sorte, as coisas melhorarão daqui em diante", afirma.
Nos últimos quatro anos, Najm, Sidiqy e os colegas continuaram trabalhando e sustentando as suas famílias, ao mesmo tempo em que se dedicavam aos estudos. Até mesmo a constante ameaça à segurança, os frequentes cortes de energia e a má conexão de internet não os impediram de alcançar o que ninguém alcançou até o momento no Afeganistão.

Como o programa funciona

Para responder a crescente demanda de profissionais para atender pessoas com deficiência no Afeganistão, o CICV colaborou com as autoridades locais e começou um programa de treinamento de nível superior em próteses e órteses em 2004. Este curso cumpria com os requisitos do programa de Categoria II segundo a ISPO, entidade que estabelece os padrões profissionais.

"O Afeganistão tem sete centros de reabilitação física que recebem apoio do CICV, o que faz com que seja um dos maiores Programas de Reabilitação Física (PRF) administrado pela organização. Para empoderar a força de trabalho e garantir serviços de reabilitação física de alta qualidade e duradouros, estamos buscando formas inovadoras de proporcionar acesso a um desenvolvimento profissional contínuo reconhecido internacionalmente", afirma Michael Rechsteiner, da equipe do PRF em Genebra.

Isso levou ao CICV a colaborar com Human Study e.V., uma organização sem fins de lucro especializada no ensino superior na área de próteses e órteses através de uma metodologia combinada. "Já ministrávamos programas de Categoria II usando a 'combinação de três formas', que inclui aulas virtuais, seminários e treinamento in loco", conta o CEO de Human Study e.V., Christian Schlierf, e acrescenta que cada módulo está apto para candidatos que não podem viajar facilmente para fora do seu país.

Para o Afeganistão, no entanto, Human Study, em parceria com o ISPO e o CICV, decidiram melhorar e desenvolver um novo currículo correspondente à Categoria I da ISPO ou a um programa de nível universitário. Para obter a acreditação desta combinação única de ensino afegão, Human Study trabalhou em conjunto com a Escola de Próteses e Órteses de Sirindhorn, da Universidade de Mahidol na Tailândia, um instituto de renome internacional especializado em próteses e órteses acreditado pela ISPO com a mais alta Categoria I.

O futuro

Os nove profissionais afegãos que concluíram a Categoria I do programa de próteses e órteses também representam uma inovação na sustentabilidade a longo prazo dos serviços de reabilitação física. O programa-piloto foi um grande sucesso e pavimentou o caminho para replicar em contextos menos desafiantes, como Tanzânia e Tunísia, entre outros. Como destaca Rechsteiner, treinar profissionais locais garantirá "serviços de reabilitação de alta qualidade e duradouros".

 

Um especialista do CICV monitora de perto um aluno durante a prova em Bangkok.

Um aluno confecciona com cuidado o aparelho para atender as necessidades do paciente. Essa é uma das partes mais difíceis da prova.

Uma aluna avalia e receita os aparelhos adequados para um paciente como parte da prova.

Um aluno mede e marca as necessidades do paciente em um papel antes de confeccionar os aparelhos.