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Desaparecimento de pessoas: CICV lança ciclo de oficinas em parceria com delegacia no Ceará

O desaparecimento de entes queridos é uma realidade para milhares de famílias no Brasil e no mundo e a resposta às pessoas impactadas exige esforços coordenados. A busca pela pessoa desaparecida e a constante incerteza fazem do dia a dia dos familiares uma rotina angustiante.

Foi pensando nessa assistência integral que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) realizou a oficina "O desaparecimento de um familiar: O visível não é só o desaparecimento", que reuniu a equipe da própria organização e profissionais da 12ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil do estado do Ceará (PCCE). A unidade policial é especializada em investigar casos de pessoas desaparecidas em Fortaleza.

Reunindo delegado, policiais, escrivães e inspetores, a oficina foi realizada no dia 31 de agosto na sede da DHPP e foi ministrada pelo assessor de saúde mental do CICV Elvis Posada e pelo assessor do programa Pessoas Desaparecidas e suas Famílias do CICV em Fortaleza, Daniel Mamede. Este é o primeiro de quatro encontros que devem ocorrer com a equipe em Fortaleza.

O assessor do programa Pessoas Desaparecidas e suas Famílias do CICV em Fortaleza, Daniel Mamede. Foto: Camila de Almeida/CICV

"Acreditamos que um atendimento acolhedor e respeitoso e uma escuta ativa dos familiares de pessoas desaparecidas têm potencial reparador, já que as famílias sentem que seu sofrimento é reconhecido. Além disso, a acolhida e a escuta humanizada, são ferramentas que ajudam a criar um ambiente de confiança mútua, o que pode ser decisivo para as buscas", explica Mamede.

O assessor de saúde mental do CICV destaca a importância de compartilhar e fortalecer reflexões com os profissionais da Delegacia sobre a importância da saúde mental e psicossocial das famílias de pessoas desaparecidas em contexto de violência e outras circunstâncias. "Este ciclo de oficinas com os profissionais da Delegacia é uma grande oportunidade de criar laços interinstitucionais em Fortaleza para construir e fortalecer, entre todos, respostas variadas e articuladas em saúde mental e psicossocial, entre outras respostas, para o bem-estar integral dos familiares que procuram seu ente querido desaparecido", afirma Posada.

Elvis Posada destaca a importância de compartilhar e fortalecer reflexões com os profissionais da Delegacia sobre a importância da saúde mental e psicossocial das famílias de pessoas desaparecidas. Foto: Camila de Almeida/CICV

Com esta série de oficinas, o CICV busca apoiar a construção de um mecanismo eficaz de busca e identificação de pessoas desaparecidas e um serviço multidisciplinar que seja capaz de atender às necessidades dos familiares de pessoas desaparecidas em sua complexidade. Essa atividade compõe a série de ações realizadas pelo CICV em razão do Dia Internacional dos Desaparecidos, lembrado anualmente no dia 30 de agosto. O primeiro encontro realizado no fim de agosto é fruto de um trabalho de diálogo permanente com a delegacia desde o início de 2020.

Ícaro Coelho, delegado da 12ª Delegacia de Homicídios do DHPP, reforçou a importância da parceria com o CICV. "A porta de entrada dos familiares das pessoas desaparecidas é exatamente a instituição policial, e quando unimos esforços com o CICV nesta parte voltada à psicologia, à sociologia, nós conseguimos entregar uma visão mais humana, mais social para aquela família e aquelas pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade".

 A oficina contou com a presença de Ícaro Coelho, delegado da 12ª Delegacia de Homicídios do DHPP além depoliciais, escrivães e inspetores. Foto: Camila de Almeida/CICV

No Brasil, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), são registradas em média mais de 60 mil pessoas desaparecidas a cada ano. A falta de mecanismos de busca e cruzamento de dados; a dificuldade de se ter uma dimensão do problema e do reconhecimento da situação como uma questão conjuntural; além das consequências do desaparecimento para as famílias das pessoas desaparecidas estão entre as principais complexidades para mitigar os impactos.

Ana Paula Oliveira, inspetora que integrou a formação, reconhece a amplitude dessa assistência. "Os familiares são pessoas que estão geralmente aflitas, desesperadas porque tiveram algum parente próximo, alguma pessoa querida que sumiu do seu seio familiar. Nossa delegacia procura tratar com muito tato, nós disponibilizamos redes sociais para que as pessoas se comuniquem e iniciamos a busca o mais rápido possível, desmistificando aquela história de que tem que ter o prazo de 24 horas", explica. Para ela, formações e diálogos constantes são necessários para a equipe se manter atualizada e atender melhor a essa integralidade.

Formações e diálogos constantes são necessários para a equipe se manter atualizada e atender melhor a essa integralidade, segundo Ana Paula Oliveira, inspetora que integrou a formação. Foto: Camila de Almeida/CICV