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Camboja: depois de dois anos de separação, família de detido finalmente volta a vê-lo

Quando ele me disse que tinha sido condenado a 20 anos de prisão, senti como se a minha alma tivesse sido arrancada.

Já passaram mais de dois anos desde que o marido de Champa* foi detido e está no presídio de Stung Treng, localizado a mais de 400 quilômetros da capital de Camboja, Phnom Penh. No entanto, somente agora ela pôde se encontrar com ele, quando visitou a penitenciária com a ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), como parte dos esforços para restabelecer laços familiares.

Champa, de 37 anos, mora com a mãe em uma velha casa de madeira na margem do lago Tonel Sap, na comuna de Chrang Chamres, na capital, junto com as suas filhas de 17 e 6 anos. "Trabalho em um hotel e mal posso cobrir os gastos diários. Por isso, nunca pude fazer a viagem de oito horas para encontrar o meu marido. Ele me telefonava do presídio e tínhamos cinco minutos para conversar. Mas essas minutos passavam voando, porque ao ouvir a sua voz, eu ficava muito emocionada. Poder reencontrá-lo depois de dois anos foi surreal. A nossa filha de seis anos já não se lembrava do rosto dele...", conta, tentado esconder as lágrimas.

Champa passou a ser o arrimo da família quando o seu marido foi detido. Antes desse emprego atual, ela trabalhava como segurança e costureira em uma fábrica de roupas. A sua filha mais velha, embora sendo menor de idade, teve de abandonar os estudos e começar a trabalhar.

Poder se reencontrar com o marido foi o único ponto positivo na vida de Champa nos últimos anos. Ao falar sobre a importância dessas visitas, Maramy Chey, encarregada do CICV no terreno para assuntos de garantias judiciais, responsável por organizar a visita da família ao presídio de Stung Treng, afirma: "É uma excelente maneira de diminuir os níveis de estresse dos detidos. O apoio da família é uma fonte crucial de força para os detidos e ajuda a que se mantenham positivos."

O CICV arcou com as despesas de transporte, alimentação e hospedagem de Champa e das suas filhas. "Nunca pensei que seria possível encontrá-lo outra vez", acrescenta Champa.

No Camboja, o CICV lançou um programa de visitas familiares em 2015 com o objetivo de restabelecer os laços entre entes queridos que foram separados em decorrência de detenções. Até o momento, nove famílias receberam graças à assistência de buscas da Cruz Vermelha Cambojana. Também há esforços para reunir outras 12 famílias.

Um reencontro emotivo

Quando o carro parou na entrada do presídio de Stung Treng, Champa e as filhas correram para o portão. Impaciente e entusiasmada, Champa mal podia se sentar, enquanto esperava o marido. Os seus olhos se encheram de lágrimas quando, finalmente, chegou o momento e a família se uniu em um abraço apertado: cada momento importa, já que as crianças puderam, por fim, encontrar o pai e Champa pôde passar alguns minutos com o marido.

"Ele parecia mais velho. Fiquei sem palavras quando o vi. Eu tinha tanto para lhe contar", afirmou Champa, relembrando aqueles 30 minutos. Ela entregou ao marido fotos das crianças que ela tirou nos últimos dois anos. "Ele pode vê-las quando estiver com saudade", acrescentou.

"Embora parecesse que o tempo passou voando, fiquei extremamente feliz de vê-lo", concluiu Champa, com um grande sorriso, ao mesmo tempo em que os seu olhos se enchiam de lágrimas de novo. Mas, desta vez, lágrimas de alegria e alívio.

*O nome foi modificado para proteger a identidade.