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Colômbia: CICV leva ajuda humanitária a comunidades afetadas pelo conflito na costa do Pacífico

Comunidades afrodescendentes e reservas indígenas de Chocó, Vale do Cauca e Nariño enfrentam os riscos derivados dos confrontos entre grupos armados e da presença dos artefatos explosivos nos seus territórios. Para responder a esta situação, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) levou ajuda humanitária de emergência a 950 famílias nos últimos dois meses.

"Somente peço aos grupos armados que nos deixem viver tranquilos, como os nossos antepassados", diz Isabelina, integrante de uma comunidade indígena do noroeste da província de Chocó. A ênfase que ela coloca nessas palavras reflete a angústia dos moradores da zona que tiveram de deixar as suas casas para fugir dos enfrentamentos entre os grupos armados.

Os combates entre grupos armados e os efeitos graves da presença de artefatos explosivos nessas zonas geraram uma difícil situação humanitária, desde janeiro, em vários pontos da costa do Pacífico.

Muitas dessas comunidades sofrem ainda com uma situação de confinamento na região devido ao temor de serem afetados pela explosão dos dispositivos improvisados. Isso ameaça as suas opções de alimentação, já que as impede de ter acesso aos seus cultivos, caçar ou pescar. Nessas regiões, o CICV realizou oficinas para que as comunidades aprendam a reduzir o risco de acidentes.

Durante a primeira semana de abril, foram entregues mais de 2,5 mil cestas alimentares, kits de higiene e outros produtos básicos a várias comunidades afrodescendentes no norte de Chocó que foram obrigadas a se deslocar até o município da região. Esta entrega também foi feita a várias comunidades indígenas que estavam confinadas nos seus territórios.

"Esta é apenas uma ajuda de emergência que aliviará a situação durante um mês, mas que não é suficiente para resolver as graves condições em que se encontram essas famílias. Há muitas outras pessoas que foram obrigadas a se deslocar na região e que necessitam apoio", declarou Sebastien Fustier, chefe da subdelegação do CICV em Medellin, que cobre a província de Chocó.

As equipes do CICV que se deslocaram a essas zonas para assistir as famílias afetadas encontraram um grave panorama em términos humanitários, bem como um desafio na hora de promover o respeito pelas normas humanitárias em uma região onde ainda é prematuro falar do fim do conflito armado.

"Todas as partes envolvidas nos confrontos devem respeitar a população civil. Nada justifica submeter as comunidades a essa falta de proteção. Não nos cansaremos de continuar insistindo nesse ponto, através do diálogo confidencial com os grupos armados", explicou o coordenador de proteção do CICV na Colômbia, Marc Linning.

A emergência atendida recentemente no norte do Chocó não é a única que revela a crueza do conflito armado no oeste do país. Entre fevereiro e março, o CICV atendeu a 195 famílias que se haviam deslocado na zona rural de Tumaco (Nariño) por temor ao enfrentamento entre as forças policiais e militares e os grupos armados presentes na zona. Em meados de março, o CICV realizou distribuições de alimentos e artigos de higiene a cerca de 300 famílias no Alto Baudó.

Buenaventura (Vale do Cauca) é outra das cidades que receberam vários deslocamentos durante os últimos meses. Somente durante a primeira semana de abril, foram atendidas 32 famílias afrodescendentes que chegaram a esta cidade em princípios de abril, fugindo do fogo cruzado dos grupos armados. "Sinto saudades da minha casa", dizia uma das pessoas deslocadas que pediu para manter o anonimato. "Tínhamos pouco, mas pelo menos era a nossa casa. Ali não ficou ninguém, até os cachorros saíram".