Comunicado de imprensa

Brasil e Cone Sul: Em novo relatório de atividades, Comitê Internacional da Cruz Vermelha alerta para os impactos menos visíveis da violência armada

Balanço Humanitário é uma prestação de contas da organização humanitária; documento traz um resumo das atividades em favor de diferentes populações e de promoção do Direito Internacional Humanitário e do Direito Internacional dos Direitos Humanos

Brasília (CICV) – Em nova edição do Balanço Humanitário, referente ao ano de 2021, onde presta conta sobre suas atividades, a Delegação Regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai chama atenção para os impactos da violência armada. Para a organização, este problema complexo tem muitas consequências que vão além de estatísticas como número de homicídios e tiroteios.

"A violência armada continua sendo um grave problema em alguns estados do Brasil. Embora os dados tenham flutuado nos últimos anos, permanecendo altos, as dinâmicas de confrontos, disputas e suas mudanças seguiram tendo grande impacto na vida da população", afirma o chefe da Delegação Regional do CICV, Alexandre Formisano. "Para além dos homicídios e feridos, estão as consequências menos visíveis, como deslocamentos internos, desaparecimento de pessoas, afetação da saúde mental, impacto no acesso a serviços públicos essenciais como unidades de saúde e escolas, entre outros."

A partir de atividades de diversos programas , o CICV atua de maneira coordenada e transversal para apoiar a sociedade e o Estado brasileiro a enfrentar as consequências humanitárias da violência armada. Esse trabalho é conduzido por meio de parcerias, com recomendações e assessoramento, a fim de fazer mais e impactar mais pessoas, ter ações sustentáveis.

Outro ponto observado no Balanço Humanitário é que comunidades afetadas pela violência armada seguiram convivendo com a apreensão diária pela ameaça de paralisação do atendimento de serviços públicos essenciais, além da insegurança do alto risco do contágio pelo vírus da Covid-19. Atento a isso, o CICV trabalhou ao longo de 2021 para alcançar e beneficiar ainda mais comunidades por meio do programa Acesso Mais Seguro (AMS), que já estava presente em seis municípios brasileiros. Entre as atualizações dessa resposta estão a criação de um curso de capacitação on-line e a chegada do AMS a São Paulo, bem como a continuidade das formações e o trabalho junto aos parceiros para sua legitimação como política pública.

Foram realizados treinamentos em 152 unidades públicas de Saúde, Educação e Assistência Social dos municípios de Vila Velha (ES), Fortaleza (CE) e Porto Alegre (RS). Juntas, essas unidades beneficiam diretamente mais de 42 mil pessoas. No primeiro semestre de 2021, a apropriação e utilização da metodologia AMS ajudou a reduzir em 26% as horas de fechamento das unidades de saúde de Duque de Caxias (RJ) e Fortaleza (CE), quando comparada com 2020.

"O Acesso Mais Seguro é muito importante aqui no Rio, onde temos muitas unidades escolares localizadas em comunidades que sofrem as consequências da violência armada. Quem passa pela capacitação consegue perceber melhor os sinais de que podem acontecer confrontos na região", conta Renata Costa de Oliveira, que atua como ponto focal da Equipe de Educação Preventiva na Gerência de Proteção Escolar da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. "Independentemente de estarmos em uma comunidade ou não, é importante saber como se prevenir de certas situações de violência às quais todos nós estamos sujeitos", conclui.

Trabalho com população migrante busca preservar vínculos familiares

"Não é fácil estar longe da nossa família, mas tudo nessa vida tem um sacrifício. É por isso que estamos aqui. Como não tenho telefone, venho usar o serviço (de conectividade) para falar com os meus familiares. Para saber como eles estão, avisar que estou bem", o relato é de William Guaiquirima, migrante venezuelano que está em Roraima, no norte do Brasil. Para ele, a oferta de uma linha telefônica tem um significado maior: o de não perder contato com a família, que ficou na terra natal.

"Os serviços de reestabelecimento de laços familiares são essenciais para as pessoas migrantes, e precisam ser adequados a cada realidade. No caso de migrantes indígenas vivendo em abrigos, por exemplo, é muito importante termos regularidade nos dias em que oferecemos nosso atendimento", explica o chefe do escritório do CICV em Boa Vista, Viani González. "Muitas de suas famílias vêm de áreas bastante remotas na Venezuela, com sinal de celular instável, e compartilham aparelhos celulares entre as pessoas da comunidade. Assim, os familiares já ficam a postos nos dias em que disponibilizamos os serviços de telecomunicações, esperando o contato de um ente querido no Brasil".

Ao longo de 2021, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha ofereceu mais de 150 mil oportunidades de contato entre migrantes e seus familiares, tanto por chamadas telefônicas como com acesso a internet, além de oferta de carregamento de aparelhos celulares. No norte do Brasil, o CICV também trabalhou na melhoria da infraestrutura de locais que oferecem acolhimento e serviços, garantindo o acesso à ambientes saudáveis e seguros para quase 7 mil pessoas, entre migrantes e população local.

De maneira integrada e não só focando a população migrante, o CICV também atuou para proteger os vínculos entre familiares, buscando reduzir o efeito da perda de contatos e do desaparecimento de pessoas, oriundos de fenômenos como a migração e a violência armada. Além dos serviços de conectividade, o CICV tem ajudado migrantes em situação vulnerável a buscar por seus familiares e também tem realizando ações de fortalecimento de grupos de familiares de pessoas desaparecidas no Brasil. Além disso, a organização assessora autoridades em temas como a gestão sobre pessoas falecidas, os processos e para a busca por pessoas desaparecidas e o atendimento multidisciplinar às pessoas afetadas, incluindo atenção de saúde mental e apoio psicossocial.

A promoção e adoção do Direito Internacional Humanitário e do Direito Internacional dos Direitos Humanos também são ações prioritárias do CICV na região.

A ação do CICV no Brasil e no Cone Sul em números

  • Mais de 150 mil oportunidades de contato entre migrantes e seus familiares;
  • No norte do Brasil, melhoria da infraestrutura de locais que oferecem acolhimento e serviços, garantindo o acesso à ambientes saudáveis e seguros para quase 7 mil pessoas, entre migrantes e população local;
  • Mais de 130 mil acessos à Plataforma Acesso Mais Seguro, que realiza o mapeamento de situações de risco, ao longo do ano;
  • Mais de mil profissionais capacitadas em treinamentos do Acesso Mais Seguro e de Comportamentos Mais Seguros;
  • Foram realizados treinamentos em 152 unidades públicas de Saúde, Educação e Assistência Social dos municípios de Vila Velha (ES), Fortaleza (CE) e Porto Alegre (RS). Juntas, essas unidades beneficiam diretamente 42.477 pessoas;
  • No primeiro semestre de 2021, a apropriação e utilização da metodologia AMS ajudou a reduzir em 26% as horas de fechamento das unidades de saúde de Duque de Caxias (RJ) e Fortaleza (CE), quando comparada com 2020;
  • Mais uma cidade parceira do AMS, São Paulo, somando 7 cidades brasileiras;
  • O CICV e a Cruz Vermelha Brasileira (CVB) fizeram doações de materiais de higiene e proteção e caixas térmicas para o estoque de vacinas a cinco municípios brasileiros parceiros do AMS: Duque de Caxias (RJ), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS) e Vila Velha (ES). Foram máscaras triplas descartáveis (83.500 unidades), luvas cirúrgicas (112.800 unidades) e 12.300 litros de álcool em gel 70%, entre outros materiais;
  • Entrevistas com 350 pessoas privadas de liberdade do Ceará para compreender a realidade e as necessidades de grupos em situações de vulnerabilidade no encarceramento;
  • Apoio a 11 países em um trabalho conjunto no desenvolvimento de um guia técnico sobre gestão e infraestrutura mais humana para o sistema prisional da américa latina;
  • Identificação dos restos mortais de 6 combatentes argentinos enterrados nas ilhas Malvinas/Falklands, o que pôs fim à incerteza em que as famílias viviam há 39 anos;
  • Mais de 900 policiais e guardas foram capacitados em direitos humanos.

Nota aos editores:
· Acesse aqui a íntegra do Balanço Humanitário 2021.
· Acesse aqui uma seleção de fotos para a imprensa.

Mais informações
Diogo Alcântara, CICV Brasília, (61) 98248-7600, dalcantara@icrc.org
Sandra Lefcovich, CICV Brasília, (61) 98175-1599, slefcovich@icrc.org