Comunicado de imprensa

Crise global da fome se aprofunda, alerta Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho

Genebra (CICV/FICV) – As luzes de advertência estão todas acesas: conflitos armados, emergências relacionadas ao clima, dificuldades econômicas e obstáculos políticos provocam uma onda crescente de fome em países do mundo inteiro. Se não houver uma ação urgente e imediata, o sofrimento aumentará para milhões de pessoas.

Para escapar de um ciclo de crises recorrentes, é preciso melhorar os sistemas tanto com investimentos em uma produção de alimentos que seja adequada ao clima nas áreas afetadas por conflitos quanto com mecanismos confiáveis para apoiar as comunidades de difícil acesso que foram atingidas pela escassez de alimentos e pela disparada de preços, afirmaram a Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) antes da próxima Assembleia Geral das Nações Unidas.

O conflito armado internacional na Ucrânia provocou interrupções nos sistemas globais de abastecimento de alimentos e, por seu impacto na disponibilidade de fertilizantes, afetou as safras futuras de muitos países. É de suma importância que mais remessas da Iniciativa de Grãos do Mar Negro cheguem a populações vulneráveis na África Oriental. O número de carregamentos de grãos que chegam aonde são necessários é pequeno demais.

As situações emergenciais de fome chegam às manchetes em um momento em que muitas pessoas estão cansadas de crises. No entanto, o mais assustador agora é a amplitude e a profundidade dessas necessidades. Mais de 140 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar aguda por causa de conflitos armados e situações de instabilidade, e as mudanças climáticas e a precariedade econômica indicam que a fome aumentará nos próximos meses.

Recursos e vontade política são necessários já. Sem isso, muitas vidas vão se perder e o sofrimento perdurará por anos. Apenas uma resposta emergencial não será suficiente para acabar com essas crises de fome. A única maneira de romper o ciclo é realizar uma ação conjunta com abordagens de longo prazo.

Ao atender às necessidades urgentes, é essencial estabelecer as bases para a resiliência. Mais esforços devem ser feitos — por governos, setores privados e grupos humanitários e de desenvolvimento — para apoiar a segurança alimentar, meios de subsistência e planos de resiliência de longo prazo.

As medidas devem incluir investimentos para fortalecer os sistemas alimentares de base e atores comunitários, para que possam alcançar de forma sustentável a segurança alimentar e econômica. Uma das abordagens que devem ser consideradas é a ação preventiva para a segurança alimentar, com base em previsões e análises de risco.

O presidente da FICV, Francesco Rocca, afirmou: "Mais de vinte países na África estão enfrentando a pior crise alimentar em décadas. Cerca de 22 milhões de pessoas no Chifre da África estão passando fome devido a uma somatória de crises: secas, inundações, consequências econômicas da Covid-19, conflitos armados e até mesmo gafanhotos do deserto. Por trás desse número incrivelmente alto, há pessoas de verdade: homens, mulheres e crianças que lutam contra a fome todos os dias. A situação deve piorar em 2023. No entanto, com uma ação rápida, é possível salvar muitas vidas. Precisamos de medidas amplas e urgentes para que a assistência que salva vidas chegue a milhões de pessoas que precisam desesperadamente de ajuda, mas também para abordar de forma decisiva as causas desta crise com compromissos de longo prazo."

A FICV e seus membros – que consistem em equipes da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho em quase todos os lugares do planeta – estão prestando ajuda em comunidades de difícil acesso. Isso inclui assistência financeira em mãos para que famílias possam custear alimentos, cuidados de saúde e outras necessidades urgentes. Na Nigéria, voluntários da Cruz Vermelha se concentram em grávidas e lactantes, pois sua nutrição é fundamental para nascimentos e infâncias saudáveis. Em Madagascar, voluntários restauram a terra e as fontes de água por meio de atividades antierosão, construção de pontos de captação de água e foco na irrigação, além das formas tradicionais de combater a fome, como o monitoramento nutricional.

O presidente do CICV, Peter Maurer, disse: "O conflito armado é uma das grandes causas da fome. A violência impede agricultores de plantar e colher. Sanções e bloqueios impedem a entrega de alimentos aos mais vulneráveis. Desejo que a resiliência seja incluída na resposta humanitária para que as comunidades sofram menos com os abalos da violência e das mudanças climáticas. Um ciclo de soluções provisórias não será suficiente nos próximos anos."

Este ano, o CICV ajudou quase 1 milhão de pessoas no centro-sul da Somália a comprar uma cesta básica distribuindo dinheiro para mais de 150 mil famílias. Um programa semelhante na Nigéria ajudou 675 mil pessoas, e mais de 250 mil pessoas receberam insumos adequados ao clima para restaurar a produção agrícola. O CICV busca fortalecer a resiliência por meio do fornecimento de sementes, ferramentas e cuidados com a pecuária, para que as comunidades possam absorver melhor os recorrentes choques. Seus profissionais médicos administram centros de estabilização em lugares como a Somália, onde crianças recebem cuidados nutricionais especializados.

Comunidades em todo o mundo estão enfrentando profundas dificuldades. Um breve panorama de algumas das regiões necessitadas inclui:

Na África Subsaariana: uma em cada três crianças com menos de cinco anos sofre de desnutrição crônica, enquanto duas em cada cinco mulheres em idade fértil estão anêmicas por causa da alimentação deficiente. A maioria das pessoas na África Subsaariana vive com menos de US$ 1,90 por dia.

No Afeganistão: três décadas de conflito armado e um colapso econômico que resultou em poucas oportunidades de emprego e uma enorme crise bancária devastaram a capacidade das famílias afegãs de comprar alimentos. Mais de metade do país – 24 milhões de pessoas – precisa de ajuda. O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho aprecia qualquer medida para atenuar as consequências das sanções econômicas. Mas, diante de uma crise humanitária tão profunda, também gsão necessárias soluções de longo prazo, e Estados e agências de desenvolvimento devem retomar projetos e investimentos em infraestruturas essenciais.

No Paquistão: as recentes inundações provocaram perdas estimadas em US$ 12 bilhões. A situação no país já era alarmante antes desta última catástrofe, com 43% da população sem segurança alimentar. Agora, o número de pessoas que enfrentam fome aguda aumentará consideravelmente. Cerca de 78 mil km² de cultivos estão debaixo d'água. Estima-se que 65% da cesta básica do país – culturas como arroz e trigo – tenha sido destruída e que mais de 733 mil cabeças de gado tenham morrido. As inundações também vão abalar a entrega de alimentos no Afeganistão, país vizinho.

Na Somália: o número de crianças desnutridas que precisam de cuidados quintuplicou. No mês passado, o Hospital Regional de Bay, em Baidoa, recebeu 466 crianças, em comparação com 82 em agosto de 2021. Crianças internadas aqui morrem sem os cuidados nutricionais especializados que deveriam receber.

Na Síria: as taxas de insegurança alimentar aumentaram mais de 50% desde 2019. Hoje, dois terços da população síria – 12,4 milhões de 18 milhões – não conseguem suprir suas necessidades alimentares diárias. As sequelas de mais de uma década de conflito armado, incluindo as consequências das sanções, corroeram o poder de compra das pessoas. Os preços dos alimentos quintuplicaram nos últimos dois anos.

No Iêmen: A maioria dos iemenitas sobrevive com uma refeição por dia. No ano passado, 53% da população do Iêmen estava em situação de insegurança alimentar. Neste ano, a proporção é de 63%, cerca de 19 milhões de pessoas. Os organismos de assistência foram obrigados a reduzir a ajuda alimentar devido à falta de recursos. Por causa disso, cerca de 5 milhões de pessoas agora receberão menos de 50% de suas necessidades nutricionais diárias.

Observação para editores

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Tommaso.DellaLonga@ifrc.org,

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jenelle.eli@ifrc.org,

CICV:
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cwells@icrc.org,

Jason Straziuso, +41 79 949 35 12
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