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Etiópia-Somália: mudança climática e violência deixam milhões de pessoas encurraladas em crises frequentes

Adis Abeba (CICV) – Milhões de pessoas no Chifre da África estão encurraladas em crises quase constantes. A combinação de secas, enchentes e violência obriga os moradores a deixarem as suas casas e destrói os já precários meios de subsistência, afirmou o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, ao encerrar uma visita à região na quarta-feira.

"As pessoas na Etiópia, na Somália e em outras partes do leste da África estão cada vez mais presas entre extremos", disse Maurer. "As condições são úmidas demais ou quentes e secas demais. As pessoas que fugiram da violência podem ser desarraigadas de novo por causa das secas e enchentes."

Milhares de pessoas são deslocadas todos os dias das suas casas devido aos choques climáticos ou à violência. Dados preliminares do Centro de Monitoramento de Deslocados Internos (IDMC) indicam que, em média, o número de pessoas deslocadas das suas casas por dia em 2019 foi de 3.715 na Etiópia e 1.860 na Somália.

A Etiópia foi o país africano com o maior número de novos deslocados pela violência no ano passado: 930 mil, sendo que outros 426 mil foram deslocados por secas e inundações. No mesmo período, o IDMC registrou 500 mil deslocamentos por causa de desastres e outros 180 mil em virtude da violência e do conflito armado na Somália.

A região sofreu uma seca no início de 2019 e enchentes em maio. Depois voltou a ter seca e foi assolada por chuvas torrenciais em outubro e novembro, que provocaram as piores inundações em décadas.

Apesar de serem os menos responsáveis pela mudança climática, cinco dos 20 países mais vulneráveis aos seus efeitos estão no leste da África, incluindo a Somália (o mais afetado), segundo dados disponíveis reunidos pela Iniciativa de Adaptação Global de Notre Dame. Todos eles foram atingidos por violência ou conflitos armados recentes.

"Nesta semana, conversei com grupos de mulheres na Etiópia que sofreram sucessivos golpes. Seus maridos foram mortos, elas foram obrigadas a fugir de confrontos violentos, algumas foram vítimas de terríveis abusos sexuais e agora tentam construir suas vidas em meio a pobreza, choques climáticos e insegurança", disse Maurer. "Quando a violência e os desastres se sobrepõem, as pessoas costumam ser deslocadas das suas casas não apenas uma, mas diversas vezes, e por longos períodos. Essa terrível combinação deixa as famílias com dificuldades para obter o seu sustento e sem saber se algum dia poderão voltar para casa."

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Mais informações: 

Aurelie Lachant, porta-voz, Genebra, +41 79 244 64 05, alachant@icrc.org