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Nigéria: lágrimas de alegria no reencontro das famílias

A crise humanitária na região do Lago Chade deixou milhares de mortos, 2 milhões de deslocados, centenas de sequestrados e centenas de milhares de pessoas obrigadas a fugirem, muitas vezes perdendo contato com as suas famílias. O CICV está localizando as pessoas e as colocando em contato outra vez com os seus familiares.

Irmãos repatriados da República de Camarões

Em abril de 2014, Ahmed e Yussuf Chiroma (12 e 11) iam à escola quando os combates chegarem até Kumshe, cidade natal deles no nordeste da Nigéria. Os pais fugiram e nunca mais ouviram falar deles.

"Voltamos à Nigéria em agosto. Sem notícias dos nossos pais, não conseguíamos chegar até a nossa vó, Maryam, que vive em Maiduguri", conta Yussef. "Quando chegamos à fronteira, fomos levados a um campo de trânsito para deslocados em Mubi."

Ahmed and Yussuf Chiroma

Ahmed e Yussuf Chiroma. CC BY-NC-ND / CICV / Jesus Andres Serrano Redondo.

Em Mubi, Ahmed e Yussuf encontraram os irmãos mais velhos, Bakura e Foke, que tinham sido repatriados de Camarões. Nesse momento, os irmãos mais novos foram transferidos para um campo de deslocados em Yola e os maiores foram levados para Maiduguri.

Filho busca a mãe

Ibrahim Mustapha (17) também ia à escola em Camarões.

Em meados de agosto, Ibrahim foi repatriado para a Nigéria, mas no caminho perdeu o telefone com todos os números de contato e ficou sem possibilidades de contatar a mãe.

Ibrahim Mustapha

Ibrahim Mustapha. CC BY-NC-ND / CICV / Jesus Andres Serrano Redondo.

"Fomos levados para Mubi e depois para um campo de deslocados em Yola. Não tinha dinheiro para comida nem água, e não podia ligar para a minha mãe. Pensei que nunca mais veria a minha família", diz Ibrahim.

Hafsat Mohammed, de Maiduguri, estava nos estágios avançados da gravidez quando o filho sumiu. O estresse de não saber o que aconteceu com Ibrahim fez com que tivesse o bebê algumas semanas antes da data prevista.

"Fiquei muito triste, mas eu rezei por Ibrahim durante todos esses meses, esperando que um dia ele me ligasse para dizer que estava vivo e viria para casa para conhecer o seu novo irmão", conta Hafsat.

Jovem busca a família

Halima Hauwa (15) passou um ano morando na mata com outros deslocados depois que a aldeia dela foi atacada há três anos.

"Quase não tínhamos comida, água ou abrigo para as chuvas. Nos mudamos para uma aldeia e ficamos lá durante outro ano, mas em janeiro fomos atacados de novo e tivemos de fugir para Camarões", explica.

Halima mandou uma mensagem cruz vermelha para a tia Aisha Baha em Maiduguri. Poucos dias depois, ela recebeu uma resposta e uma foto.

"Não podia acreditar que haviam encontrado a minha tia. Foi ainda mais incrível quando disseram que iam me levar até ela. Estava tão contente que pulava de alegria", lembra Halima com um sorriso.

Halima Hauwa

Halima Hauwa. CC BY-NC-ND / CICV / Jesus Andres Serrano Redondo.

Em Maiduguri, a tia da Halima começou a chorar quando uma equipe da Cruz Vermelha lhe levou a carta da sobrinha.

"Não tinha nenhuma notícia da Halima por mais de três anos. Ainda procuramos os pais dela. Tinha perdido todas as esperanças de encontrá-la viva", diz Aisha.

Um voo organizado pelo CICV reuniu Halima com a tia.

"Quando aterrissamos e eu vi Aisha, não podia acreditar. Corri até ela sem parar de chorar", conta Halima.

"Não tenho palavras para dizer o quanto estamos felizes por Halima estar de volta", diz Aisha. "Quando meu marido voltou pra casa do trabalho e a viu, a única coisa que ele disse foi 'Estávamos te esperando para jantar'".

Restabelecimento do contato e da esperança

Uma equipe do CICV e da Cruz Vermelha Nigeriana encontrou os irmãos Chiroma e Ibrahim no campo de deslocados de Yola, tendo o CICV visitado Hafsat em Maiduguri para verificar se Ibrahim era filho dela.

"Não posso dizer o alívio que senti quando vi a foto de Ibrahim", diz Hafsat. "Ele está vivo, depois de todos esses meses de ansiedade, finalmente sei onde ele está".

"Quando a Cruz Vermelha me mostrou uma foto da minha mãe e do meu novo irmãozinho, comecei a me sentir em casa", lembra Ibrahim.

Ibrahim Mustapha, reunited with his family.

Ibrahim Mustapha, reunido com a família. CC BY-NC-ND / CICV / Jesus Andres Serrano Redondo.

Outra pessoa deslocada em Yola contou aos irmãos Chiroma que tinha o telefone da avó deles e que o CICV poderia ajudar a encontrá-la.

"O CICV voltou alguns dias depois com a foto da nossa avó. Eu e meu irmão ficamos muito felizes quando nos disseram para arrumar as nossas coisas e ir para casa", diz Yussuf.

Ahmed and Yussuf Chiroma.

Ahmed e Yussuf Chiroma. CC BY-NC-ND / CICV / Jesus Andres Serrano Redondo.

"Passei todo o voo olhando a foto da minha vó com o meu irmão Ahmed", conta Yussud, com um sorriso permanente no rosto.

Ahmed and Yussuf Chiroma. x

Ahmed e Yussuf Chiroma. CC BY-NC-ND / ICRC / Jesus Andres Serrano Redondo.

Assim que o avião pousou, as crianças correram para encontrar as suas famílias que estavam esperando na pista.

"Quando vi Ibrahim, queria carregá-lo nas minhas costas como eu fazia quando ele era pequeno. Não tenho palavras para agradecer a ajuda da Cruz Vermelha para encontrar o meu filho", relata Hafsat.

Ahmed and Yussuf Chiroma, reunited with their family. CC BY-NC-ND / ICRC / Jesus Andres Serrano Redondo.

Ahmed e Yussuf Chiroma, reunidos com a sua família. CC BY-NC-ND / ICRC / Jesus Andres Serrano Redondo.

Para Maryam, a avó dos Chiroma, encontrar os meninos era como se fosse um milagre.

"Ainda sofro com a falta de notícias do meu filho, pai deles, mas agora só tenho lágrimas de alegria porque as crianças voltaram para casa!", exclama Maryam.

Ahmed and Yussuf Chiroma, surrounded by family and friends.

Ahmed e Yussuf Chiroma, rodeados pela família e amigos. CC BY-NC-ND / ICRC / Jesus Andres Serrano Redondo.

"Quando eu crescer, quero entrar para o CICV para ajudar outras crianças a encontrar as suas famílias", afirma Yussuf com o seu sorriso constante.

O conflito armado na Nigéria infligiu feridas físicas e psicológicas que serão difíceis de esquecer, mas Ibrahim, Hafsat, os irmãos Chiroma, Maryam, Halima e a família dela sempre terão a lembrança desse momento de reunião familiar. Uma memória inesquecível que marcará a vida deles para sempre.

Os nomes foram modificados para proteger a identidade das pessoas envolvidas.