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Síria: milhões enfrentarão o frio de mais um inverno

Milhões de deslocados sírios irão passar o seu quinto inverno gélido na interminável crise Síria. Todos contam histórias tristes e similares de deslocamento das suas casas, de temor ao frio extremo e de escassez de água, comida e eletricidade. A escolha que as pessoas têm é extremamente dura: levar comida aos filhos ou mantê-los aquecidos. Para a maioria, nenhuma das duas opções é acessível.

Um e Abu Mohammed

vivem em uma escola em Kessweh, na zona rural de Damasco, agora um centro para deslocados.

 

Abu Mohammed têm problemas cardíacos. Sua mulher, que sofre de graves problemas de saúde, enrubece quando ele a elogia. Eles vivem sozinhos, já que todos os filhos e netos estão dispersos pelo país ou no exterior. Também perderam um filho durante o longo conflito.

O nosso amor e aflição cresceram nos últimos anos

Um aquecedor à lenha encontra-se no meio do seu pequeno quarto. Um Mohammed explica que ela se preparou bem para o inverno que chega. "Juntei tudo que podíamos queimar para nos aquecer, incluindo os ramos secos de menta e salsa."

Quando Abu Mohammed tenta falar sobre a sua vida em Darayya, os olhos dele se enchem de lágrimas de amor, esperança e tristeza profunda, e muda de assunto. Sua mulher fala por ele e diz: "Vamos ficar no presente. A doçura dos dias passados dói."


Um Abdul Rahman

deslocada no distrito de Tariq al-Bab na parte leste de Aleppo.

 

Um Abdul Rahman é viúva e mãe de cinco filhos. Ela abandonou a casa quando esta foi destruída por um ataque, mudando-se a outro bairro pobre da parte leste de Aleppo.

Se a situação neste inverno for igual ao inverno passado, então eu preferiria a morte para mim e meus filhos

"Fiquei exausta no inverno passado buscando ajuda de um lado a outro. Depois de pedir ajuda às pessoas, tinha remorso e começava a queimar os pertences dos meus filhos para aquecer até que me deram combustível e lenha. Agradeci a Deus pela ajuda, mas depois ficamos sem combustível e não sabia como conseguir mais."

A família depende de algumas poucas doações que Um Abdul Rahman recebe dos seus vizinhos e se preocupa como manter os seus filhos aquecidos com a chegada do inverno.

"No inverno passado, tínhamos medo do escuro e das noites frias, esperávamos o sol sair no dia seguinte para nos aquecermos outra vez."


Abdul Rahman

deslocado no distrito de Tariq al-Bab na parte leste de Aleppo.

Como outros moradores da região, Abdul Rahman, de dez anos, o mais velho dos seus irmãos, tem de coletar destroços para usar como combustível para cozinhar e aquecer a família.

Dois dos seus irmãos possuem deficiência mental e ele deve apoiar a mãe no sustento deles.


Om Arabi

deslocada de Darayya em 2012 e agora vivendo em um centro para deslocados em Kessweh, zona rural de Damasco.

O sobrinho de Om Arabi, Mohammed, conseguiu, com a ajuda de terceiros, levar a sua tia de 105 anos a um centro para deslocados em Kessweh, onde ela vive com a família.

Sinto o frio nos meus ossos, dói sempre nos invernos, mas o meu coração está aquecido

"Tive de deixar tudo para trás quando os meus filhos foram embora", lembra Om Arabi. Desde que ela se mudou para o centro, os voluntários do Crescente Vermelho Árabe Sírio cuidam dela. Embora Om Arabi tenha medo da chegada do inverno, ela diz: "Graças a Deus, estou muito melhor do que milhões de outras pessoas".


Qasem

deslocado em um abrigo coletivo em Kessweh, zona rural de Damasco.

Qasem, três anos de idade, vive no abrigo coletivo para deslocados que fugiram a Kessweh de áreas vizinhas atingidas pelos pesados combates. Com a chegada do inverno, Qasem acaba de receber novas roupas de inverno como parte do programa conjunto de assistência humanitária do Crescente Vermelho Árabe Sírio e do CICV. Ele agora está contente e sem frio.


Jannud et Amina

deslocados em Jabal Badro, na parte leste de Aleppo, vivendo com a família em um prédio semi-destruído.

Jannud é pai de seis fihos e marido de Amina. Ele e alguns dos filhos saem todos os dias ao redor de Jabal Badro para buscar objetos que possam ser usados como combustível para cozinhar e aquecer a família.

A mãe de Jannud também vive com eles. Com tantos familiares para cuidar, Amina diz que eles quase não têm dinheiro suficiente para comida e não podem comprar lenha ou roupas quentes de inverno, ou mesmo consertar a casa que foi danificada pelo bombardeio ao bairro.

Sempre que as meninas querem tomar banho, elas têm de sair para juntar escombros.

O maior medo de Amina é a chegada do inverno. No ano passado a família enfrentou grandes dificuldades para sobreviver já que a maior parte das roupas, cobertores, colchões e outros pertences foram destruídos pelo conflito em curso.


Maram

vive em uma velha escola utilizada para acolher deslocados em Kewwweh, zona rural de Damasco.

Maram, de nove anos, fugiu de casa em Daraya há quatro anos. "Não me lembro dos meus amigos, mas gosto muito daqui. Tenho grandes amigos que brincam comigo e me ajudam com os deveres de casa". Ela e os seus amigos ficaram felizes ao receber as novas roupas de inverno.

A minha mãe diz que, como eu estou crescendo muito rápido, ela tem de me trazer roupas novas todos os invernos.

Maram sonha em se tornar uma oftalmologista. "Gosto de olhar nos olhos das pessoas", ela conta. Ela está ansiosa para começar a trabalhar e ajudar a sustentar a sua família.

Quando recebeu as novas roupas de inverno do CICV e do Crescente Vermelho Árabe Sírio, ela logo vestiu o blusão. "Está quentinho", diz com um sorriso, saindo para brincar com os amigos.


Nadia et son petit-fils Yazan

vivem em um prédio inacabado em Kewwweh, zona rural de Damasco.

Yazan, de dez anos, e sua avó Nadia, de 60, vivem em um pequeno quarto em um prédo inacabado que abriga outras 100 pessoas.

Yazan sofre de epilepsia desde a tenra infância. Depois que a mãe morreu, o pai de Yazan o entregou à Nadia. Ela vivia em uma casa grande com um lindo pátio em Daraya junto com os nove filhos. "Era um paraíso", conta. Eles tiveram de fugir a Daraya há três anos quando os combates se intensificaram.

Assim que Nadia chegou ao abrigo coletivo, ela começou a trabalhar. Ela economizou dinheiro suficiente para comprar uma máquina de costura velha com a qual faz roupas. Está muito orgulhosa e contente de que, apesar de tudo, consegue trabalhar e comprar remédios para o seu querido neto Yazan.

Nadia sabe que o seu quarto estará constantemente frio e que o vazamento continuará através das paredes e do teto, mas ela reza para que o seu neto se sinta melhor e mais quente com as novas roupas de inverno.

Desde o início da crise na Síria, o CICV, em cooperação com o Crescente Vermelho Árabe Sírio, trabalha para atender as crescentes necessidades dos mais vulneráveis no país. Neste inverno, as duas organizações distribuirão roupas para o frio a mais de 300 mil crianças.