À medida que os combates na região de Tigray e em outras áreas do norte da Etiópia obrigam mais pessoas a deixar suas casas, os refugiados etíopes em campos no sudeste do Sudão enfrentam condições de vida cada vez mais alarmantes. A falta de alimentos, água potável, abrigo e saneamento é desesperadora, e um número crescente de pessoas sofre de desnutrição e doenças como malária e hepatite E. A situação foi agravada pelo começo da temporada de chuvas, e algumas pessoas refugiadas estão optando por encarar rotas migratórias perigosas ou se deslocar a outras áreas do país.
"Todo mundo só está em busca de uma vida melhor, mas os jovens estão em uma situação ruim e recorrendo às drogas e ao álcool. Eles estão começando a apresentar problemas psicológicos. Isso sem contar todas as crianças que foram separadas de suas famílias e estão aqui sozinhas", comenta Daniel, um estudante de 23 anos que vive no campo de refugiados Um Rakouba.
Além das duras condições de vida, milhares de refugiados não conseguem se comunicar com seus familiares, uma vez que as redes de telecomunicações estão fora do ar em várias partes da região de Tigray. Muitas pessoas sofrem traumas e estresse emocional depois de passar meses sem saber se voltarão a estar reunidas com seus cônjuges e filhos.
Desde o início da crise em Tigray, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) facilitou a realização com sucesso de cerca de 22,2 mil ligações telefônicas entre os refugiados e suas famílias. No entanto, mais de 20 mil chamadas não puderam ser completadas no mesmo período, o que significa que milhares de pessoas não puderam receber notícias de casa.
"Meses se passam sem que muitas pessoas recebam notícia de seus familiares", afirma a chefe da subdelegação do CICV em Kassala, Maria Carolina Aissa. "É de partir o coração ver a dificuldade que as pessoas enfrentam para manter a dignidade e a esperança nessas circunstâncias."
Sobre o trabalho do CICV para refugiados no Sudão:
- O CICV presta apoio ao Crescente Vermelho do Sudão em Gedaref e Kassala para ajudar os refugiados a manter o contato com suas famílias. O Crescente Vermelho trabalha nos campos de refugiados etíopes de Um Rakouba e Tunaydba, no campo Shargrab para refugiados eritreus e em dois centros de trânsito, onde, em conjunto com o CICV, capacitou 38 voluntários da comunidade anfitriã e da comunidade de refugiados.
- O CICV reuniu 228 pedidos de busca de familiares dentro dos campos de refugiados e recebeu 20 casos do exterior por meio das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Seis casos foram resolvidos, e 58 menores de idade desacompanhados foram registrados. No total, cerca de 60% a 70% da população de refugiados de Tigray que se encontram no leste do Sudão beneficiaram-se de ligações telefônicas ou serviços de busca.
- O CICV presta apoio ao Hospital Rural de Doka por meio da reabilitação de sua infraestrutura e da disponibilização de material médico, equipamentos de proteção individual e capacitação para a equipe. A organização doou mais de quatro toneladas de suprimentos médicos ao hospital, que atende mais de 40 mil membros da comunidade anfitriã e mais de 18 mil refugiados no campo Um Rakouba.