O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e a Universidade de Brasília (UnB) lançaram, nesta sexta-feira (28), o Observatório de Desaparecimento de Pessoas no Brasil (Obdes).
Integrado por 17 pesquisadores de instituições de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, o Obdes tem a missão de produzir conhecimento sobre as circunstâncias, dinâmicas e causas de desaparecimentos no Brasil. A parceria visa a produzir subsídios para o aperfeiçoamento das políticas públicas voltadas ao enfrentamento e à mitigação do fenômeno.
“Há um desconhecimento sobre o desaparecimento no Brasil”, avaliou a coordenadora do Obdes, Simone Rodrigues, durante a cerimônia de lançamento, no auditório da Reitoria da UnB. Rodrigues lembrou que há 211 registros de boletins de ocorrência por dia, e apontou que a este número deve-se somar a subnotificação de casos. Ao ser um assunto complexo e diverso, requer pesquisadores qualificados e dedicados, considerou. “É um fenômeno gigantesco, vamos ter muito trabalho”, comentou.
Já Mônica Bonfim, neta de Orlando Bonfim, que completa 50 anos de desaparecimento em 2025, relatou que a famillia não tem, até hoje, notícias das circunstâncias em que o avô foi levado, nem tem certidão de óbito. “E ele não é o único”, disse. “A gente precisa de respostas”, afirmou.
Dalva de Souza Campioto, cujo filho Leonardo desapareceu há 17 anos, também procura por respostas. Em representação do Movimento Nacional de Pessoas Desaparecidas, assim como Mônica, Campioto considera que estudar e pesquisar sobre o tema ajuda a entender essa complexa realidade, e que é importante as famílias sejam também incluídas nesse processo.
Entre outras reinividicações, Campioto destacou a necessidade de um Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas que unifique os dados de todo o Brasil, e um Banco de DNA alimentado com as amostras de familiares e de cadáveres não-identificados.
Compreensão
Bruna Martis, diretora substituta de Defesa dos Direitos Humanos do MDHC, destacou a importância de compreender melhor o fenômeno e promover a sensibilização, inclusive para trazer financiamento para as políticas públicas da área. Martins mencionou o trabalho que o governo está realizando com os familiares de pessoas desaparecidas, o chamado diagnóstico participativo, que é um processo de escuta qualificado que conta com o apoio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e foi realizado no Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.
“Vemos com entusiasmo essa iniciativa do Observatório para apoiar a concretizar, estruturar e consolidar pesquisas e conhecimento que contribuirão para trazer respostas ao fenômeno do desaparecimento e minimizas as diversas consequências que impactam tantos familiares”, afirmou a coordenadora adjunta de Proteção do CICV, Patricia Badke. “Também é de grande valia a aproximação com a sociedade civil para contribuir na construção das políticas públicas”, complementou.
“Hoje é um dia de simbolismo para a UnB”, disse a reitora da UnB, Rozana Naves, em referência ao líder estudantil Honestino Guimarães, que nasceu em 28 de março, aluno da UnB, que desapareceu em 1973. Naves considerou a parceria fundamental para a Universidade, citando o mote do “conhecimento em movimento, sociedade em transformação”.
No encerramento, o ex-secretário executivo adjunto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos Ariel Dulitsky ministrou palestra sobre a temática do desaparecimento. “Todos têm proteção. Todos têm direitos. E temos que dar respostas”, concluiu.