Comunicado de imprensa

Aumento da violência no leste da República Democrática do Congo leva milhares de pessoas a se deslocarem para Goma

Confrontos intensos e contínuos entre as Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) e os combatentes do M23 no território de Rutshuru forçaram mais de 72 mil pessoas a abandonar suas casas no decorrer de uma semana. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pede que todas as partes envolvidas protejam os civis e facilitem a atividade dos trabalhadores humanitários que se empenham em levar ajuda à população.

Nos últimos dias, os combates têm se aproximado de vários povoados, como Katale e Buvunga, no noroeste de Rumangabo, e causado pânico na população. "Na rota entre Rutshuru e Goma, vemos milhares de pessoas fugindo a pé ou de moto. Alguns moradores levam seu gado, que costuma ser o único meio de subsistência que eles têm", disse o chefe da subdelegação do CICV em Goma, Raphaël Ténaud.

Como os confrontos eclodiram perto de um local de distribuição de alimentos em Rugari, o CICV foi forçado a suspender a distribuição naquela região no dia 24 de maio de 2022. "Pedimos que todas as partes envolvidas façam tudo o que estiver a seu alcance para proteger a população civil e facilitar o trabalho da equipe da Cruz Vermelha, que se empenha em levar ajuda à população", disse a chefe da delegação do CICV na República Democrática do Congo, Rachel Bernhard.

Com a chegada das pessoas recém-deslocadas, as condições de vida nos campos improvisados tornaram-se extremamente precárias. Por exemplo, em Kanyaruchinya, que fica a cerca de dez quilômetros de Goma, mais de 3,6 mil pessoas se refugiaram em igrejas e em uma escola, tanto do lado de dentro quanto do lado de fora. Em sua maioria, são mulheres e crianças.

"As famílias estão amontoadas nas salas de aula. Outras dormem no chão do pátio da escola, no sereno, junto com seus animais. Sem água, sem abrigo, sem comida. As condições precárias de higiene, a falta de água limpa e a promiscuidade são fatores de risco para a cólera", alerta Ténaud.

Diante dessa emergência, uma equipe do CICV instalou cisternas de água potável para melhorar as condições de higiene e garantir o abastecimento diário para 10 mil pessoas, inclusive aquelas afetadas pela erupção vulcânica [2]. Elas demonstraram uma solidariedade exemplar ao acolher as famílias recém-deslocadas.

O CICV continua fazendo de tudo para obter as garantias de segurança necessárias para chegar até as pessoas cujo acesso a cuidados e a artigos de primeira necessidade esteja seriamente ameaçado neste período de confronto armado.

"Nós nos esforçamos para manter um diálogo bilateral e confidencial com as forças e os grupos armados, a fim de garantir que a população civil seja respeitada e protegida e que as pessoas feridas e doentes possam ser evacuadas", concluiu Bernhard.

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Fatos e números do período de abril a maio de 2022 no território de Rutshuru

Em coordenação com as autoridades congolesas, bem como com outros atores humanitários, o CICV está pronto para responder às necessidades das pessoas deslocadas e das comunidades que as acolhem nas áreas de saúde, abastecimento de água potável e distribuição de alimentos e de utensílios domésticos básicos. O CICV também busca fortalecer a capacidade das estruturas existentes, especialmente de água e saúde.

Proteção

  • Duas operações para facilitar a libertação de pessoas capturadas (ao todo, 4) no contexto dos confrontos; acompanhamento dos casos de pessoas detidas.
  • Apoio técnico e material à Cruz Vermelha da República Democrática do Congo para a evacuação e a gestão de cadáveres.


Restabelecimento de laços familiares com a Cruz Vermelha da República Democrática do Congo

  • 38 crianças e adolescentes que haviam sido separadas nos confrontos reencontraram seus familiares.
  • 5 cabines telefônicas nas áreas de refúgio das pessoas deslocadas possibilitaram que 2.746 ligações fossem feitas para restabelecer o contato entre familiares que ficaram separados.


Ajuda médica

  • Doação de provisões médicas a ambas as partes dos confrontos.
    • Doação de provisões médicas para o hospital militar Katindo.
  • Doação de provisões médicas e medicamentos para facilitar o acesso à assistência médica para as pessoas deslocadas e o atendimento dos feridos no Hospital Geral de Referência de Rwanguba, no centro de saúde de Kamira, em Rubavu, e no centro de saúde de referência de Bunagana. 
    • Evacuação médica de 4 pessoas feridas por bala de Rutshuru para o Hospital CBCA Ndosho, em Goma, para que as equipes cirúrgicas do CICV dessem continuidade ao atendimento médico e cirúrgico. Outras 5 pessoas feridas por bala que chegaram de Rutshuru também foram tratadas por equipes cirúrgicas do CICV em Goma.


Assistência alimentar de emergência

Em Rugari, cerca de 13,9 mil pessoas receberam assistência na forma de alimentos (ração alimentar para um mês) e utensílios domésticos básicos.


Acesso à água potável e higiene

  • Melhoria do abastecimento de água no Hospital de Rwanguba e no centro de saúde de Kabindi.
  • Abastecimento de água para os bairros de Kungo e Munanira, em Bunagana, e reparação dos canais danificados do reservatório de água de Bugusa.
  • Desde 27 de maio, entre 15 e 20 litros de água são entregues por pessoa por dia em Kanyaruchinya.

 

Mais informações: 
Halimatou Amadou, CICV Dakar, tel: +221 78 186 687, hamadou@icrc.org
Carol Lumingu Kazadi, CICV Kinshasa, tel: +243 81 292 59 14, clumingukazadi@icrc.org


[1] Cifras do Acnur, 27 de maio de 2022
[2] Quase 6,5 mil pessoas afetadas pela erupção do vulcão Nyiragongo em maio de 2021 continuam vivendo nos campos.