Brasil: honrando as memórias das pessoas desaparecidas e de seus familiares

O Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas aconteceu nesta semana (30/8) e foi um momento importante para lembrar e honrar a memória daquelas pessoas que desapareceram e seguem sendo buscadas por seus entes queridos. Participando de atividades em Brasília, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo, homenageamos e reconhecemos também a luta de todas aquelas pessoas que buscam e que têm que conviver diariamente com a dor da ausência.

Assim, em Brasília, o chefe da nossa Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Alexandre Formisano, a nossa coordenadora de Proteção, Marta Gomes de Andrade e a Coordenadora de Proteção de Vínculos Familiares do CICV, Larissa Leite, participaram do evento de lançamento do plano do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil que visa a ampliação das capacidades de busca e consolidação de estratégias para implementação da Política Nacional de Pessoas Desaparecidas.

Estivemos presentes também na InterForensics, um dos maiores eventos de Ciências Forenses do mundo. A coordenadora Forense do CICV para as Américas, Alejandra Jimenez, abriu a plenária do dia discursando sobre as experiências e lições aprendidas pela organização nas Américas no que se refere as respostas oferecidas aos familiares de pessoas desaparecidas que sofrem pela falta de notícias sobre o paradeiro de seus entes queridos.

Já, nas trilhas internacionais de Genética e Antropologia Forense, Larissa Leite, chamou atenção para a abordagem humanitária no atendimento de familiares de pessoas desaparecidas. O painel também teve a participação do Assessor Forense do CICV, Frederico Mamede, que destacou a importância de promover a cooperação de forma interinstitucional e reforçar as redes nacionais, regionais e internacionais para a busca de pessoas desaparecidas, como é o exemplo da Rede Ibero-americana de Instituições de Medicina Legal e Ciências Forenses.

Fortaleza

Em Fortaleza, o chefe de nosso escritório na cidade, Mario Guttilla e o assessor de proteção, Daniel Martins Mamede, participaram de uma audiência pública sobre os desafios e as políticas públicas de enfrentamento ao desaparecimento de pessoas no Ceará, a qual foi organizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

"É preciso falar sobre o desaparecimento e romper o silêncio que envolve o tema. Não podemos esquecer que atrás das estatísticas há pessoas vivendo em um luto congelado. Necessitamos também criar um canal de comunicação entre o mecanismo de busca e as famílias de pessoas desaparecidas", disse Guttila.

No evento, participaram o grupo de familiares "Mulheres de Fé com Esperança", acompanhado pelo CICV, além da Secretaria de Direitos Humanos, da Polícia Civil, do Ministério Público, da Defensoria Pública, da Perícia Forense e do Corpo de Bombeiros, que são membros do Comitê de Enfrentamento ao Desaparecimento de Pessoas do Ceará.

"Não interessa o tempo, a dor é a mesma, ela não diminui, ela aumenta. Queremos mais apoio das autoridades. Mais respeito sem preconceito. Não interessa o motivo pelo qual a pessoa sumiu, interessa o que vai ser feito e resolvido", disse Eliaria Ferreira, que tem seu familiar desaparecido.

São Paulo

Em um ato simbólico, familiares de pessoas desaparecidas se reuniram na Praça da Sé, em São Paulo. O evento foi organizado conjuntamente por diferentes grupos e associações acompanhados pelo CICV, como Mães em Luta, Mães da Sé, Abrace Familiares de Pessoas Desaparecidas, Esperança na Rua, Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Integrantes do Ministério Público Estadual, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e da Cruz Vermelha Brasileira também prestigiaram o evento.

Durante o ato, líderes de algumas dessas associações reforçaram a necessidade de visibilizar ainda mais a temática, da união entre os familiares para a luta e de mais respostas por parte dos órgãos públicos. No final, os familiares de pessoas desaparecidas soltaram balões com fotos de seus seres queridos.

"O ato de hoje é de extrema importância, principalmente porque nossa Luta começou aqui na praça da Sé em 1996. Retornar aqui, no Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas e com um ato dessa dimensão, trouxe sentimentos que estavam camuflados para mim. Renasce aqui uma união entre associações, líderes e familiares que se dispersou no passado. Temos que lutar e militar juntos. Juntos somos mais fortes sempre, não existem ações isoladas", disse Vera Lúcia Ranu, líder da associação, Mães em Luta.

Também em São Paulo, a assessora de proteção do CICV, Fernanda Baldo, acompanhou o evento de apresentação do Sistema de Informações e Prevenção do Desaparecimento de Pessoas, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Segurança Pública de São Paulo. A apresentação foi compartilhada por membros da assessoria do Secretário e do Centro Integrado de Comando e Controle do estado, e contou com a presença integrantes das Polícias Civil, Militar e Técnico Científica, do Ministério Público, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e de familiares de pessoas desaparecidas.

Rio de Janeiro

Por último, estivemos presentes no Rio de Janeiro participando do evento "Enfrentamento e Prevenção ao Desaparecimento de Pessoas no Rio de Janeiro: Avanços e Desafios" organizado pela Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.

Na atividade, realizada no período da manhã, também participaram representantes do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, da Fundação para Infância e Adolescência, do Disque Denúncia, e as associações de familiares de pessoas desaparecidas "Mães Virtuosas do Brasil" e "Mães Braços Fortes".

"No mundo inteiro, nossas ações são guiadas pelos familiares de pessoas desaparecidas. São eles os que sofrem as consequências do desaparecimento e os que podem falar sobre suas necessidades em consequência desta situação. Por isso, enfatizamos sua participação nos processos de busca e de soluções para ajudar a aperfeiçoar os sistemas e políticas existentes", disse Diego Portela, oficial de Proteção do nosso escritório no Rio de Janeiro.

No fim da tarde, em conjunto com a Secretaria de Estado de Direitos Humanos e da Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro, apoiamos cerca de 30 familiares de pessoas desaparecidas a participarem de um ato simbólico no Cristo Redentor com o objetivo de dar mais visibilidade à temática na cidade.

Todas essas ações com a presença de familiares de pessoas desaparecidas e mobilizadas por diferentes instituições refletem a relevância da questão do desaparecimento. Ações assim contribuem para fortalecer as expressões de solidariedade em relação às famílias de pessoas desaparecidas. Além disso, reforçam importância de se investir no desenvolvimento de um mecanismo amplo e capaz de responder aos casos recentes e antigos de desaparecimento, assim como de assistir às famílias das pessoas desaparecidas ao longo da busca. Da nossa parte, reiteramos nosso compromisso em seguir prestando apoio técnico às instituições e aos familiares de pessoas desaparecidas no Brasil.