Artigo

Desmentir narrativas prejudiciais sobre o trabalho do CICV em Israel e no território palestino ocupado

Com a escalada da violência em Israel, Gaza e Cisjordânia, tem havido uma proliferação de linguagens desumanizantes e de informações falsas e enganosas sobre o CICV e nosso trabalho no atual conflito armado. Dadas as consequências concretas que isso pode ter tanto para as pessoas como para os atores humanitários, queremos abordar claramente as principais narrativas prejudiciais que circulam sobre o CICV e as nossas equipes.

Atualizado em 16/5/2024
Campanhas de desinformação e informações falsas colocam em risco direto quem precisa de ajuda e quem tenta ajudar. Instamos todos os atores de influência a não utilizarem ou apoiarem essas práticas e a promoverem um ambiente informativo de respeito pela dignidade e pela segurança das pessoas, pela ação humanitária e pelo Direito Internacional Humanitário (DIH).

O CICV é "cúmplice" porque não condena publicamente as partes em conflito?

De maneira nenhuma. Como parte do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, o CICV é uma organização humanitária neutra. Não nos envolvemos em política. Nossa preocupação é exclusivamente humanitária: tentamos salvar vidas e diminuir ou evitar o sofrimento das pessoas encurraladas num conflito.
Para operar em zonas de conflito, o CICV constrói a confiança com todas as partes por meio de um diálogo confidencial, com o objetivo de aliviar o sofrimento das pessoas afetadas.
Isso nos permite realizar uma parte fundamental do nosso trabalho: lembrar as partes em conflito das suas obrigações conforme o Direito Internacional Humanitário (DIH), tarefa que também fazemos em público, e apresentar, de forma direta e sincera, nossas preocupações com a condução das hostilidades. Não divulgamos o conteúdo dessas conversas confidenciais ao público.
Se denunciássemos publicamente uma das partes em conflito ou divulgássemos o conteúdo das nossas conversas confidenciais, correríamos o risco de perder a confiança que construímos, assim como o acesso direto e o espaço de que tanto necessitamos para falar com todas partes sobre a necessidade de proteger a população civil durante as hostilidades. Isso também poderia colocar em risco nossa capacidade de levar assistência que salva vidas às pessoas que mais precisam.
Para algumas pessoas, pode parecer que não falamos tanto quanto deveríamos. Porém, com base em décadas de experiência, acreditamos que a abordagem mais eficaz é interceder de forma contínua e discreta perante aqueles que tentamos influenciar.
Sabemos perfeitamente que nossa neutralidade e nossos princípios nem sempre são compreendidos, especialmente em situações de grande intensidade emocional. Mas nossa neutralidade e nossa imparcialidade são fundamentais para podermos operar em qualquer contexto. Continuamos levando a cabo nossas iniciativas para informar as pessoas, incluindo as partes em conflito, sobre o que o CICV pode e não pode fazer conforme nosso mandato e nossos princípios.
Para mais informações sobre por que "ficamos em silêncio", veja esse vídeo curto (em inglês).

O CICV está envolvido em espionagem?

Nunca. O CICV rejeita terminantemente todas as acusações de espionagem. Temos o compromisso de respeitar os princípios humanitários e a ética em todas as nossas operações. Essas acusações falsas comprometem a segurança dos nossos funcionários e impedem a chegada de ajuda humanitária a quem precisa.
O diálogo confidencial do CICV com todas as partes em conflito nos permite realizar uma parte vital do nosso trabalho: lembrar as partes das suas obrigações conforme o DIH e apresentar nossas preocupações com a condução das hostilidades. Esse diálogo confidencial deu lugar a teorias conspiratórias sem fundamento sobre um suposto envolvimento do CICV em atividades militares ou de espionagem. Isso é totalmente falso.
O diálogo com as partes em conflito nos permite instá-las de forma discreta e constante a protegerem a população civil durante as hostilidades. Esse trabalho salva vidas e não deve ser interpretado de outra forma.
O CICV participou da evacuação de hospitais em Gaza?
O CICV recebeu vários pedidos de evacuação de hospitais no norte de Gaza. No entanto, por causa da situação de segurança extremamente complexa (assim como os bloqueios de estradas e as comunicações não confiáveis), não conseguimos ter acesso seguro à área e, portanto, não participamos de nenhuma evacuação.
As imagens que circularam de recém-nascidos falecidos são devastadoras e constituem uma tragédia indescritível. É inaceitável que pessoas civis, entre elas bebês e crianças, paguem um preço tão terrível nesse conflito.
O CICV tem destacado constantemente a necessidade de ter acesso humanitário seguro a todas as partes de Gaza, incluindo o norte. O CICV está pronto para desempenhar seu papel de intermediário neutro durante conflitos e tem a firme determinação de prestar apoio para evacuar pessoas doentes e feridas. Reiteramos nosso pedido de ter as condições necessárias para podermos fazer isso. Somente as partes em conflito podem garantir essas condições. Sem um acordo para fazer isso, as evacuações podem colocar mais vidas em perigo, incluindo as vidas de civis.
As partes em conflito devem cumprir suas responsabilidades de proteger as pessoas doentes e feridas, assim como as equipes de saúde que as atendem.

O CICV participou da evacuação dos hospitais em Gaza?

Em novembro de 2023, o CICV recebeu diversos pedidos de evacuação de hospitais no norte de Gaza. No entanto, em virtude da situação de segurança extremamente difícil – juntamente com estradas bloqueadas e comunicações pouco confiáveis –, não pudemos ter acesso à área com segurança. Portanto, não participamos de quaisquer evacuações.
As imagens que circulam de recém-nascidos falecidos são devastadoras e representam uma tragédia indescritível. É inaceitável que pessoas civis, incluindo bebês e crianças, paguem um preço tão terrível neste conflito.
O CICV tem enfatizado consistentemente a necessidade de acesso humanitário seguro em toda Gaza, inclusive no norte. O CICV está pronto para cumprir o seu papel de intermediário neutro durante os conflitos e está totalmente empenhado em prestar apoio na evacuação dos doentes e feridos. Reiteramos nosso apelo para que sejam cumpridas as condições necessárias para isso. Somente as partes em conflito podem proporcioná-las. Sem esse acordo, evacuações podem colocar mais vidas em perigo, incluindo as de civis.
As partes em conflito devem cumprir suas responsabilidades de proteção de pessoas feridas e doentes, assim como das equipes médicas que as assistem.

 

O CICV está tentando encobrir o fato de que os hospitais em Gaza estão sendo usados ilegalmente?

De jeito nenhum. O Direito Internacional Humanitário (DIH) estabelece que todas as partes em conflito devem respeitar e proteger plenamente os estabelecimentos de saúde.
Em qualquer lugar do mundo onde o CICV observa uma violação do DIH, abordamos o assunto diretamente com as partes de maneira confidencial. Não temos funcionários presentes em Al Shifa, e a última vez que conseguimos visitar o hospital foi em 7 de novembro de 2023 para entregar suprimentos médicos urgentes e acompanhar seis ambulâncias até a passagem de Rafah.
Leia mais: Proteção de hospitais durante conflitos armados: o que diz o DIH

O CICV vai abandonar Gaza?

As equipes do CICV estão em Gaza e permanecerão lá. Não pretendemos ir embora. De fato, estamos aumentando a capacidade das nossas equipes no terreno. O CICV tem mais de 130 funcionários em Gaza, que trabalham sem descanso desde a deflagração do conflito armado para fornecer uma ajuda fundamental.
Além disso, estamos incorporando novos especialistas – incluindo das áreas de medicina, cirurgia e contaminação por armas - de maneira rotativa para aumentar a capacidade do CICV de continuar prestando apoio a hospitais e realizar cirurgias vitais, ajudar as pessoas desesperadas por conseguir água potável e facilitar futuras reuniões de reféns libertados com seus familiares.
As decisões sobre a entrada de suprimentos e funcionários do CICV em Gaza são tomadas exclusivamente com base nas necessidades humanitárias. Esse acesso é resultado do diálogo regular e constante que mantemos com as autoridades competentes, na condição de organização neutra, imparcial e independente.
As equipes e a assistência humanitária essencial que chegam à região levam certo alívio, mas não é suficiente. Instamos as partes em conflito a permitirem o acesso humanitário imediato e desimpedido, de acordo com o DIH. É preciso urgentemente levar um fluxo constante de assistência e pessoal humanitário para toda Gaza.

Por que o CICV não visita os palestinos privados de liberdade?

Desde 7 de outubro, o CICV não tem podido visitar nenhum palestino privado de liberdade em lugares de detenção em Israel.
Estamos trabalhando ativamente com as autoridades competentes nesse assunto fundamental como parte do diálogo bilateral e confidencial que nos caracteriza. Estamos prontos para retomar nossas visitas periódicas aos lugares de detenção assim que possível, para continuar monitorando o tratamento que as pessoas detidas recebem e as condições de detenção em todas as instalações correspondentes. Essa continua sendo uma prioridade para o CICV em Israel e nos territórios ocupados.
O CICV tem uma longa trajetória de visitas a pessoas detidas no mundo todo. Nosso compromisso os detidos e seus familiares permanece inalterado.

O CICV se recusa a levar medicamentos que salvam vidas aos reféns em Gaza?

Desde o início dos acontecimentos de 7 de outubro de 2023, temos apelado incansavelmente pela libertação incondicional dos reféns como uma prioridade, ao mesmo tempo em que pressionamos pelo acesso a eles e pela capacidade de prestar cuidados médicos.
Nós nos reunimos regularmente com as famílias dos reféns, que, compreensivelmente, desejam garantir que seus entes queridos possam prosseguir seus tratamentos médicos. Explicamos a elas que queremos muito entregar os medicamentos e compartilhar notícias familiares se conseguirmos garantir o acesso aos reféns.
Na ausência desse acesso, o CICV tem dialogado com as partes para encontrar outras formas de fornecer aos reféns os medicamentos de que necessitam.
O acordo alcançado pelas partes em janeiro de 2024 para a entrega de medicamentos aos reféns não envolve a participação do CICV em sua implementação, incluindo a entrega de medicamentos.
O CICV acolhe com satisfação o acordo para entrega de medicamentos aos reféns e instalações médicas para a população de Gaza como um passo humanitário positivo.

Por que havia bandeiras que não eram do CICV nos ônibus durante a libertação de palestinos detidos em Ramallah?

Nós não demos permissão para que ninguém segurando bandeiras do Hamas subisse em nossos ônibus em Ramallah, mas tampouco tínhamos a capacidade de impedir isso.
O CICV facilita regularmente a transferência de pessoas detidas e reféns ao redor do mundo, atuando como uma terceira parte confiável. Isso significa que ajudamos a implementar um acordo de libertação definido pelas partes. Uma vez que elas chegam a um acordo, nossa função é garantir que as pessoas sejam libertadas de forma digna e segura e levá-los em segurança a um lugar previamente acordado por ambas as partes.
Nesse tipo de operações de libertação, a segurança de todos os envolvidos, incluindo das nossas equipes, é sempre fundamental para que a libertação seja realizada com sucesso. Lembramos todas as partes, incluindo os familiares das pessoas capturadas, da necessidade de respeitarem nosso papel de intermediário neutro.

Qual a visão do CICV sobre o antissemitismo? Qual foi o papel do CICV durante o Holocausto?

Rejeitamos o antissemitismo em todas as suas formas.
Após uma pesquisa histórica abrangente e muita introspeção, o CICV expressou publicamente suas condolências mais profundas e seu arrependimento por não ter ajudado e denunciado a situação dos milhões de pessoas exterminadas nos campos de concentração, especialmente dos judeus perseguidos e assassinados pelo regime nazista.
A organização descreveu isso como "o maior fracasso da história do CICV" e reconheceu suas fraquezas e seus erros frente à perseguição nazista e ao genocídio, demonstrados na falta de determinação para defender as vítimas da perseguição nazista. Esse fracasso institucional será sempre lembrado pelo CICV, assim como os atos de coragem individual de alguns de seus delegados naquela época.
Para o CICV, a forma mais adequada de honrar as vítimas e sobreviventes do Holocausto é lutar por um mundo em que se respeite, sem exceção, a dignidade de cada criança, mulher e homem.
Para mais informações, veja nossa documentação sobre o Holocausto e o CICV.

Como o CICV impede que a ajuda seja destinada a fins diferentes dos planejados?

Garantir que a assistência chegue a quem mais precisa é a principal prioridade do CICV. Tomamos medidas sólidas de supervisão e mitigação de riscos para garantir que essa ajuda chegue às populações afetadas às quais está destinada.
As atividades do CICV não foram projetadas como apoio às ações e aos objetivos das partes em conflitos armados, sejam Estados ou grupos armados não estatais. Portanto, somos extremamente diligentes quanto à mitigação de possíveis desvios da nossa ajuda, já que isso poderia afetar a aceitação e a confiança que outros têm em nós, impedir nosso acesso no futuro e gerar problemas de segurança para nossos colegas no terreno.
O CICV trabalha duramente para impedir o desvio da ajuda. Com os anos, a organização criou políticas internas e medidas de devida diligência para mitigar esse risco, entre elas o exame de fornecedores e contratados, a avaliação cuidadosa das necessidades, a implementação e a supervisão diretas das atividades e a auditoria dos processos de distribuição.

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