Visa d'Or Humanitário: Hugh Kinsella Cunningham vence prêmio por documentar situação de civis na República Democrática do Congo
Em 18 de junho de 2024, em sua 14ª edição, o Visa d’Or Humanitário do CICV foi concedido ao fotógrafo freelance Hugh Kinsella Cunningham por sua notável reportagem sobre as pessoas civis afetadas pelo conflito armado no leste da República Democrática do Congo (RDC).
"São cinco anos da minha vida!", disse Cunningham, extremamente emocionado, ao saber que tinha recebido o prêmio Visa d'Or Humanitário do CICV por uma decisão quase unânime do júri. O fotógrafo vem registrando há vários anos os impactos do conflito armado entre as forças governamentais e o Movimento 23 de Março (M23) na RDC.
Este conflito impede que a população civil tenha qualquer controle sobre sua própria história e, agora, com o uso de artilharia pesada contra civis... É um tema muito importante, um conflito realmente negligenciado. Por isso, é incrível pensar que mais pessoas poderão se informar sobre algo que talvez não seja noticiado.
Hugh Kinsella Cunningham,
fotógrafo e vencedor do prêmio Visa d'Or Humanitário do CICV
A editora-chefe de fotografia do jornal francês La Croix, Isabelle de Lagasnerie, foi enfática: "A qualidade das fotografias – composição, ângulo, edição – é inegável. Elas contam uma história, se complementam e nos levam em uma jornada. Cada foto suscita perguntas, captura a atenção e contém um subtexto que enriquece a narrativa."
Membros de uma comunidade enlutada sentam-se e aguardam a chegada de uma ambulância para remover os corpos de três vítimas de um ataque de morteiro.
O tema do 14º Visa d'Or Humanitário foi "Civis, as principais vítimas dos conflitos armados", em alusão aos 75 anos da IV Convenção de Genebra, que protege civis em tempos de guerra. Foi difícil para o júri escolher um vencedor entre os projetos, que também incluíam trabalhos sobre Ucrânia, Gaza, Israel, Mianmar e Sudão.
"Fiquei comovido com o trabalho de um fotógrafo em Gaza e com esse sobre a República Democrática do Congo”, disse o presidente da organização Médicos do Mundo, Jean-François Corty. "Houve consenso em relação ao trabalho do fotógrafo na RDC, já que civis da região vêm sofrendo terrivelmente há vários anos, e as equipes humanitárias também enfrentam dificuldades para atender às necessidades dessas pessoas. Este fotógrafo se envolveu completamente e esteve na linha de frente junto aos civis e às organizações humanitárias."
Membros da comunidade fogem para a cidade de Sake. Após chegarem a um lugar seguro, as famílias deslocadas precisam construir abrigos e ir em busca de alimentos.
Mais de 5,6 milhões de pessoas foram deslocadas pelo conflito no leste da República Democrática do Congo, das quais 2,5 milhões somente na província de Kivu do Norte. A crise humanitária na região tem sido devastadora. "Mais de um milhão de pessoas estão vagando nos arredores de Goma. Os acampamentos para pessoas deslocadas estão transbordando, completamente saturados. É uma situação absolutamente horrenda", afirmou o correspondente internacional da Radio France, Claude Guibal, que esteve recentemente na região de Goma. "Até mesmo o acesso ao local é extremamente complicado. A escolha do tema – e a força incrível desse trabalho fotográfico – nos dá uma mostra de como é a vida dos civis no leste do Congo
Uma família se desloca rumo à cidade de Goma. Os impactos da artilharia podiam ser ouvidos ao fundo, enquanto os civis fugiam.
“Uma foto que me chamou a atenção mostra duas pessoas, uma das quais não tem uma perna e está andando de muletas. É uma jornada eterna, que tem durado décadas”, disse o chefe da delegação do CICV em Paris, Christophe Martin. "Trabalhei na República Democrática do Congo por algum tempo, e pude ver de perto o que, infelizmente, continua sendo realidade até hoje: é um conflito que nunca termina. Os civis ficam no fogo cruzado entre diferentes grupos. O CICV vem tentando atender à enorme necessidade de ajuda dessas pessoas, atuando e permanecendo junto a elas no terreno. Estou feliz por este trabalho fotojornalístico prestar uma clara homenagem a todas as pessoas em dificuldade naquela região da RDC.”
O trabalho de Hugh Kinsella Cunningham será exibido no próximo festival Visa pour l'Image em Perpignan.
O júri foi composto por (da esquerda para a direita):
- Christophe Martin, chefe da delegação do CICV na França
- Marie-Hélène Barberis, pesquisadora e documentarista freelance
- Isabelle de Lagasnerie, editora fotográfica do jornal La Croix
- Jean-François Corty, presidente da organização Médicos do Mundo
- Claude Guibal, repórter de assuntos internacionais da Radio France
- Véronique Gaymard, jornalista da Radio France Internationale
- Frédéric Joli, ex-porta-voz do CICV na França
- Cyril Drouhet, diretor de fotografia e reportagem do jornal Le Figaro Magazine
