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Brasil: “Não sei o desfecho, nem sei o dia que ele partiu”

"A possibilidade de algo novo em nossa velha história". É assim que um dos familiares de pessoas desaparecidas durante o regime militar no Brasil (1964-1985) define o encontro ocorrido em São Paulo.

A reunião, promovida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) entre os dias 22 e 23 de abril, foi uma oportunidade para o grupo formado por familiares do "Caso Vala de Perus" se fortalecer, compartilhar histórias, conversar sobre desafios do presente e ações futuras, além de renovar as esperanças depois de quarenta anos de buscas.

"Familiares de pessoas desaparecidas frequentemente têm que enfrentar o estigma e o isolamento social. Incompreendidos em sua dor, acabam sendo afastados de suas comunidades e não podem contar com redes de apoio", explica o responsável pelo Programa de Pessoas Desaparecidas da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai., Cleber Kemper . Com isso, o desaparecimento vira um tema tabu, algumas vezes dentro da própria família. "Esses espaços são importantes para estreitar os laços afetivos. Perceber que não estão sozinhos renova as energias para enfrentar os processos de busca", complementa.

Participantes de três gerações trabalharam em grupos sobre o impacto do desaparecimento, como preservar a memória e formas de apoio mútuo. Muitos não se conheciam, alguns são companheiros de décadas de buscas, outros aprenderam a ver a história com outros olhos, os olhos dos outros.

Em todo o mundo, o CICV se empenha em sensibilizar tanto as autoridades como a sociedade sobre o profundo sofrimento e as consequências humanitárias originadas a partir do desaparecimento de um ente querido, uma vez que considera como vítimas não apenas pessoas desaparecidas, mas também seus familiares. A pedido das autoridades brasileiras, o CICV começou a trabalhar na problemática dos desaparecidos no Brasil em 2013.

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