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Brasil: A resiliência das mulheres que buscam por familiares desaparecidos

A cada ano, mais de 80 mil pessoas são registradas como desaparecidas em todo o Brasil. As circunstâncias são inúmeras assim como as consequências para aqueles que ficam, como isolamento, depressão, empobrecimento, dentre várias outras. Neste Dia Internacional da Mulher, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) destaca a resiliência de muitas dessas mulheres que vivem a incerteza de não saber o paradeiro de seu ente querido, mas não desistem de procurar e ainda tomam conta de suas famílias.

É o caso de Vilma Lima, que busca seu filho Marcelo há sete anos. "Tem momentos em que eu sou muito fraca, mas tem momentos em que eu sou forte", conta. Embora tenha passado por problemas graves de saúde que comprometeram até sua visão, ela não desiste de procurar por seu filho, e, além disso, encontra forças para cuidar de si e apoiar toda a família. "Eu sou muito forte quando é para lutar pelos meus filhos e pelos meus netos. Vem uma força interior muito grande para eu poder ajudar um filho ou um neto que está precisando de mim. E eu estou sempre à disposição."

Em Fortaleza, Lucila França busca por seu irmão Leonardo desde 2013, quando desapareceu após acompanhar um vizinho caminhoneiro em Minas Gerais. As divergências sobre os motivos do desaparecimento de Leonardo provocaram um distanciamento entre os familiares por anos, mas Lucila nunca deixou de procurar por seu irmão, nem de apoiar sua mãe, dona Antonieta. "Eu tenho de procurá-lo para minha mãe, é um presente que eu quero dar a ela", afirma.

"Pelo que temos observado em nossos acompanhamentos, muitas vezes são as mulheres que têm força para continuar as buscas e ao mesmo tempo trabalhar e cuidar daqueles familiares que ficaram", afirma a coordenadora das atividades de Proteção do CICV no Brasil, Marianne Pecassou. "Elas nunca desistem e ainda fazem um esforço extra para tomar conta de todas as questões que afetam suas famílias", acrescenta. Na avaliação do CICV, é fundamental responder à questão de pessoas desaparecidas a partir das experiências das famílias e com a participação delas. "Quando as famílias são colocadas no centro, sabemos que os esforços estarão na direção certa", afirma Pecassou.

No Brasil, o CICV apoia autoridades nas respostas a este problema humanitário. Desde 2014, a organização trabalha na avaliação das necessidades dos familiares de desaparecidos, apresenta recomendações e apoio técnico às autoridades, além de desenvolver metodologias de atenção aos familiares que sejam apropriadas para a realidade brasileira, trabalhando diretamente com grupos focais de familiares.