Relatório

Cooperação Coordenada

Balanço Humanitário 2021
R$ 1,425 milhão
13.860 Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
50 cestas básicas doadas
4.325 sacos mortuários
31.240 itens de controle de propagação do novo coronavírus

Em 2021, a flexibilidade da área de Cooperação do CICV ampliou a capacidade de resposta das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha diante do acúmulo de vulnerabilidades gerado pela pandemia da Covid-19

A escuta atenta às comunidades, aliada a uma rápida resposta, foi um marco da área de Cooperação da Delegação Regional para Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em 2021. Sendo um dos quatro pilares de ação do CICV, a Cooperação atuou de forma precisa diante de contextos que se alteravam sem aviso prévio. A pandemia da Covid-19 alterou cenários rapidamente — inclusive no seu segundo ano, quando afetou duramente os países da região.

"O ano foi muito marcado pelo aprendizado mútuo. E, no contexto da Covid, teve a ver com a flexibilidade que tivemos para acompanhar as necessidades reais das Sociedades Nacionais. Nesse desafio, tivemos que reinventar as nossas linhas de cooperação e, a partir dessa proximidade estreita que tivemos com as Sociedades Nacionais, pudemos acompanhar o processo de cada uma delas, desde as suas necessidades particulares, porque a necessidade de um país é diferente da dos demais", defende a coordenadora de Cooperação da Delegação Regional, Ximena Pardo.

No Brasil, por exemplo, o CICV e a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho apoiaram, em um plano conjunto, ações de resposta à Covid da Cruz Vermelha Brasileira, com foco na vacinação.

"Em poucos meses, nosso Movimento ajudou a vacinar milhares de brasileiros. Esse resultado só foi possível graças à cooperação entre as diferentes instituições ligadas ao Movimento Internacional da Cruz Vermelha", explica Jamile Chequer, coordenadora de Cooperação para o Brasil do CICV.

Doações

No caso específico da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, coube ao CICV a tarefa de apoiar a garantia da segurança dos voluntários, que ficaram meses a fio trabalhando em prol da vacinação. Como? Doando à equipe da CVB, aos parceiros de trabalho e às comunidades carentes 13.860 Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), uma série de outros itens essenciais ao combate do novo coronavírus.

Além disso, a Delegação apoiou a criação de um Centro de Formação em Primeiros Socorros para a Cruz Vermelha Brasileira. Inaugurado em 2021, o centro possibilita a prestação de serviços por voluntários, assim como o treinamento de pessoas das próprias comunidades. As capacitações ainda podem gerar renda para a CVB, a partir da venda desses cursos.

A Cruz Vermelha Brasileira investiu em campanhas públicas de apoio à vacinação no país, além de ter cedido dois ônibus para a ação, que se deslocaram para contextos com baixa adesão à vacina ou com dificuldade de locomoção entre pessoas das comunidades.

Região Integrada


Entrega de doações em Roraima com o apoio da CVB

Promover a cooperação e a troca de experiências entre as instituições vinculadas ao Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho é uma característica muito forte da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

"Sempre tivemos uma boa Coordenação, mas este ano conseguimos aprimorar mecanismos. E quanto mais coordenados, quanto mais planejamento conjunto, maior é o impacto humanitário do nosso Movimento, ou seja, mais pessoas atendidas, mais enfoques de qualidade desenvolvidos", completa Jamile.

O trabalho da Cooperação realizado nos cinco países da Delegação ocorre, em geral, por meio de apoios técnicos e financeiros, coordenações ou colaborações ao trabalho das Sociedades Nacionais, por exemplo.

"A equipe da coordenação se encarrega de colaborar, em articulação com as FICV, para que as Sociedades Nacionais façam uma autogestão, uma aliança entre elas e aprendam umas com as outras. Há encontros regionais para favorecer esse tipo de intercâmbio", explica Ximena Pardo.

É a partir das necessidades que o CICV atua, explica a coordenadora. "A Sociedade Nacional diz no que precisa de apoio, porque há determinada demanda, e nos aciona. Nós não formamos instrutores, por exemplo, mas pedimos a alguma outra Sociedade Nacional que apoie essa que está demandando e financiamos essa formação, em colaboração com a Federação".

Em 2021, por exemplo, houve uma formação em Proteção em Gênero e Inclusão na Cruz Vermelha Argentina, apoiada pela Delegação Regional.

Ainda segundo a coordenadora, a Cruz Vermelha Argentina tem um grande desenvolvimento de políticas na temáticas de proteção, gênero e inclusão, e avanços estruturais; e informações sobre esses assuntos são, então, compartilhadas com outras Sociedades Nacionais. A Cruz Vermelha Chilena, por outro lado, se desenvolveu em contextos de violência e manifestações.

A Cruz Vermelha Paraguaia também foi acompanhada de perto pela equipe da Delegação em 2021. "Acompanhamos as mudanças de autoridades, para que os conhecimentos adquiridos não se percam, ou seja, para que haja uma fidelização de todos os saberes e conhecimentos", relata Pardo. Segundo a coordenadora, o CICV se faz presente no apoio às reformulações dos estatutos, para garantir que estejam cada vez mais atualizados.

Outra ação integrada se deu em um treinamento sobre Primeiros Socorros, ocorrido na Cruz Vermelha Paraguaia. "Ali, o CICV apoiou e colaborou para essa troca, onde participaram a Cruz Vermelha da Argentina, a do Uruguai e a do Paraguai. Sempre há um intercâmbio entre todas as Sociedades Nacionais para aproveitar a riqueza da experiência das demais", completa a coordenadora.

De forma integrada, foi oferecido apoio a migrantes também. Por exemplo, em Manaus, o CICV apoiou a CVB, que ofereceu primeiros socorros e restabelecimento de laços familiares. Igualmente, a Cruz Vermelha Argentina e a Uruguaia ofereceram os serviços de RLF e apoio em saúde mental.


 

Profissionalização

Ao presidir a Cruz Vermelha Uruguaia antes de assumir o cargo no CICV, Ximena conta um pouco da sua experiência: "Eu digo que o Comitê foi um fator importante para o desenvolvimento da CVU, não apenas em termos financeiros. O CICV apoia as capacidades das Sociedades Nacionais, por exemplo, no desenvolvimento das filiais, que também dão respostas no terreno", afirma Ximena Pardo.

Para o diretor nacional de Mobilização e Desenvolvimento de Recursos da Cruz Vermelha do Uruguai, Rodrigo Mate, a cooperação com o CICV foi fundamental para a profissionalização da gestão e dos trabalhos da instituição, que chegou a ficar sob intervenção do governo no passado.

"Hoje, posso dizer que somos uma referência para outras sociedades nacionais, que percebem o nosso crescimento e a profissionalização das nossas entregas. Em 2022, por exemplo, vamos formar uma nova turma de instrutores e pediremos a cada um deles que entregue um plano de ação para o ano. Já que o CICV nos apoia, temos de responder a essa cooperação cumprindo esses planos", explica Mate.

Vale destacar: em 2021, a Cruz Vermelha Uruguaia capacitou cerca de 900 pessoas em primeiros socorros infantis, apesar das limitações impostas pela pandemia da Covid-19. A ideia para este ano é levar esse treinamento a cerca de 2.500 pessoas.

"As filiais — após o trabalho do ano passado de cooperação do CICV — viram que esses cursos de formação em primeiros socorros não só dão visibilidade ao movimento e nos fazem chegar às comunidades; eles trazem recursos para a sustentabilidade da instituição", completa o diretor.

Ainda no Uruguai, a Delegação do CICV apoiou, com fundos para alimentação e translado, voluntários que trabalharam em vacinações ao longo de 2021. Esses recursos viabilizaram o trabalho de 350 voluntários, que levaram primeiros socorros a 34.600 pessoas naquele país.


 

Resposta Rápida

"Trabalhar de forma estreita com as Sociedades Nacionais requer uma Coordenação muito maior, e é natural, pois não fazemos sempre um trabalho direto no terreno, realizado pelas próprias Sociedades Nacionais", explica a coordenadora de Cooperação da Delegação para o Brasil, Jamile Chequer.

E foi justamente essa relação que ajudou o Movimento Internacional da Cruz Vermelha a dar uma resposta rápida à pandemia de Covid-19. "Não é por acaso que tenha havido uma resposta coordenada durante a pandemia. Trata-se de um trabalho de muito tempo que fez com que, naturalmente, todos se sentassem para avaliar o melhor a ser feito. Nós nos vimos diante de uma emergência e tivemos que pensar em como fortalecer ainda mais a Sociedade Nacional, para que ela desse a resposta aos desafios humanitários", explica a coordenadora de Cooperação para o Brasil.

De acordo com Jamile Chequer, é a proximidade com Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha que fornece uma profunda conexão do Comitê Internacional com as demandas da sociedade como um todo.

"A Sociedade Nacional tem capilaridade nas comunidades, de onde vêm os seus voluntários. Então, para uma ação de cooperação ter abrangência e impacto, é importante atuarmos em conjunto", afirma. "Em 2021, aprendemos muito com eles. O CICV cresceu com a experiência de parceria intensa e com o exemplo do voluntariado, especialmente diante do enfrentamento da pandemia", avalia Jamile.

"A pandemia aprofundou as vulnerabilidades em diferentes países. E quanto mais profundas e graves elas forem, mais difícil é sair desse lugar. Os próprios Estados sofrem com a dificuldade de sair de uma situação de emergência. Neste momento, há uma crise mundial", explica Ximena.

No caso brasileiro, a complexidade aumentou também em razão da extensão do território. "As comunidades, de maneira geral, já estavam impactadas e sofrendo um impacto a mais, além de contrair o vírus. Era o impacto social e econômico que veio com a pandemia. Então, aumentou o trabalho nesse sentido", completa Jamile.


 

Novos Desafios

A coordenadora de Cooperação para o Brasil do CICV reforça que as vulnerabilidades e as necessidades humanitárias continuarão mesmo após a pandemia: "Precisamos pensar a cooperação em médio e longo prazo. Como apoiar as Sociedades para terem ações sustentáveis no tempo? A pandemia mostrou isso: o que era uma emergência virou um trabalho de dois anos. A partir de agora, podemos começar a pensar um cenário de pós-pandemia, mas as vulnerabilidades foram se somando, e isso criou um impacto nas pessoas e na Sociedade Nacional. Então, nosso desafio é pensar o pós-emergência, mas continuar o operacional em um ritmo distinto do normal, para atender todas as consequências que vieram, todas as vulnerabilidades exacerbadas pela Covid-19".

Segundo o CICV, as ações do Comitê foram e serão redobradas como uma resposta ao aumento de vulnerabilidades provocadas pela pandemia, incluindo a psicossocial.

O CICV lembra, ainda, que a Cooperação atua em ações que vão além das emergências de um contexto específico. "As Sociedades Nacionais nunca deixaram as suas ações humanitárias de lado, mesmo durante a pandemia", reforça Ximena Pardo.

De fato, em 2021, além de apoiar o combate à disseminação do novo coronavírus, o CICV reforçou o atendimento das necessidades de migrantes no Norte do Brasil e apoiou as Sociedades Nacionais na Argentina e no Chile. Vale destacar: em todos os países da Delegação Regional, esse apoio é prestado, fundamentalmente, em parceria com as Sociedades Nacionais.

Quatro Formas de Cooperação do CICV

1. Cooperação operacional — O CICV e a Sociedade Nacional do país unem seus recursos operacionais. Além de lidar com emergências, a finalidade da parceria é permitir que a Sociedade Nacional possa melhor atender as necessidades das pessoas mais vulneráveis.

2. Coordenação dos componentes do Movimento — O CICV busca trabalhar em complementaridade com a Federação Internacional e as Sociedades Nacionais, coordenando a resposta humanitária em conflitos armados e situações de violência para melhor atender às necessidades das populações afetadas.

3. Capacitação da Sociedade Nacional — É um outro braço de atuação da Cooperação pois, em função da capacidade operacional, o CICV pode repassar sua expertise às Sociedades Nacionais em temas como Direito Internacional Humanitário.

4. Cooperação para elaborar as políticas do Movimento — Como um dos órgãos fundadores do Movimento, o CICV desempenha um papel ativo na elaboração e na implementação das políticas do Movimento que são adotadas em reuniões estatutárias, como o Conselho de Delegados e a Conferência Internacional do Movimento da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.


Movimento Global

O Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho é a maior rede humanitária global de 80 milhões de pessoas que ajudam aqueles que enfrentam desastres, conflitos armados e problemas sociais e de saúde. Consiste da união das seguintes organizações:

● Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), com sede em Genebra e presença em cerca de 100 países;
● Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho; 
● 192 Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

É graças ao trabalho de cooperação dessa rede humanitária global que nosso movimento consegue dar uma resposta coordenada e eficiente em contextos que vão da pandemia global a conflitos armados ou outras situações de violência.


 

"A cooperação do CICV com a Cruz Vermelha Uruguaia é de suma importância, porque permite dar continuidade aos trabalhos e ao fortalecimento das nossas Sociedades Nacionais. Mesmo durante a pandemia, conseguimos treinar cerca de 900 pessoas presencialmente em nosso país [em cursos de primeiros socorros]. Tudo isso se conquistou graças à cooperação do CICV."

Rodrigo Mate, diretor nacional de Mobilização e Desenvolvimento de Recursos da Cruz Vermelha do Uruguai

"É sumamente importante o apoio que tivemos do CICV, porque estamos em uma época de pandemia, e chegar a tantas pessoas e empresas era algo que parecia impossível, mas — com o apoio do CICV e da equipe da Cruz Vermelha — conseguimos alcançar. Além disso, o CICV nos ajudou a capacitar o nosso atual grupo de instrutores [há cerca de três anos] e isso permitiu que seguíssemos realizando os trabalhos que fazemos hoje. Profissionalizamos o trabalho muito graças à cooperação do CICV."

Yaña Silveira, coordenadora nacional de cursos da Cruz Vermelha do Uruguai