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Dia Internacional dos Desaparecidos: para CICV, famílias não podem ser desamparadas

Neste ano, relatório inédito no Brasil elencou as múltiplas necessidades que os familiares têm em meio à incerteza; rede de apoio é crucial como ferramenta de acolhimento

Brasília (CICV) – Neste 30 de agosto, quando o fenômeno do desaparecimento de pessoas volta a ganhar visibilidade, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) faz um apelo por atenção e acolhimento aos familiares que vivem a incerteza de não saber o paradeiro de um ente querido. Com base em sua experiência internacional, a organização observa uma série de necessidades dessas famílias e chama à atenção da sociedade e das autoridades para que ofereçam respostas e acolhimento.

No Brasil, o CICV conheceu a realidade das famílias das pessoas desaparecidas através de avaliações de necessidades. Recentemente, foi publicado relatório "Ainda?" Esta é a palavra que mais dói, retratando as necessidades das famílias de pessoas desaparecidas no contexto de violência e outras circunstâncias em São Paulo.

Neste processo, a equipe do programa Pessoas Desaparecidas e suas Famílias do CICV ouviu relatos como: "Eu me afastei de todo mundo, porque eu achava que estava atrapalhando", "não tenho amigas, não tenho ninguém"; ou ainda: "O desaparecimento afetou minha família inteira. Todos sofrem muito. Minha mãe não comemora mais nem o Natal, ficou muito fechada e sofrida."

"O acolhimento a quem passa por essa situação de ter um familiar desaparecido é uma responsabilidade compartilhada. A empatia é necessária desde o atendimento público, como no registro de ocorrência, como também nos círculos dessas pessoas. O estabelecimento de uma rede de apoio não vai solucionar todos os problemas, mas certamente reduzirá a fragilidade de quem já sofre uma série de consequências que o desaparecimento de um ente querido traz", explica a coordenadora do programa Pessoas Desaparecidas e suas Famílias do CICV, Larissa Leite.

As múltiplas necessidades das famílias foram apresentadas no relatório lançado pelo CICV em julho deste ano, após acompanhamento de famílias brasileiras no estado de São Paulo. Sua realidade pode ser descrita em cinco grandes eixos: a necessidade de saber; as necessidades no âmbito da saúde física e mental; a necessidade de reconhecimento, tratamento digno e igualitário e de justiça; as necessidades jurídicas e administrativas; e também as necessidades econômicas.

"A partir do desaparecimento, surgem, para os familiares, necessidades específicas e graves, que precisam ser respondidas por serviços multidisciplinares e associados às investigações sobre o desaparecimento. Sem essa integração de respostas, eles vivem um labirinto cheio de portas e corredores que não se conectam", acrescenta a coordenadora de Proteção da delegação do CICV para o Brasil e países do Cone Sul, Rita Palombo.

Para o CICV, a realidade dos familiares de quem desaparece é o ponto fundamental para orientar as ações relacionadas ao desaparecimento. São eles que conhecem, na maioria dos casos, os fatos essenciais para a busca, os que sofrem as consequências da ausência e, logo, os que podem falar melhor sobre suas necessidades. Além disso, eles também são agentes importantes de apoio a outras famílias que enfrentam o desaparecimento.

"Quando essas famílias têm a oportunidade de se encontrar e estabelecer laços entre si, elas trocam experiências e se fortalecem", lembra a coordenadora de Saúde Mental e Atenção Psicossocial da delegação do CICV, Renata Reali.

Por isso, o CICV enfatiza a importância de apoiar as associações e coletivos de familiares e facilitar a sua participação em todo o processo de busca por soluções e melhorias no sistema para enfrentar a problemática do desaparecimento.

Mais informações
Diogo Alcântara, CICV Brasília, (61) 98248-7600, dalcantara@icrc.org