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A falta que você faz

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) apresenta a exposição "A falta que você faz", no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo. Com imagens de Marizilda Cruppe e direção artística de Rogério Costa, a mostra imersiva retrata o difícil cotidiano e as incertezas vividas por famílias de pessoas desaparecidas.


Essa realidade vivenciada por milhares de famílias pelo mundo é consequência de diferentes circunstâncias críticas, como a violência urbana, catástrofes ambientais, conflitos armados, migrações e outras crises humanitárias.

Entre agosto de 2016 e dezembro de 2017, Marizilda e a equipe do CICV visitaram residências em Curitiba, Maceió, Rio de Janeiro e São Paulo, onde ouviram as histórias de pais, filhos, avós e tios de pessoas que desapareceram, sobre cujo destino e paradeiro eles nunca receberam respostas. Os vídeos foram feitos com a produtora Realejo.

 

Conheça algumas histórias

M. Cruppe/CICV

Família Almeida

"O que me alegra e me conforta é quando alguém me diz assim: "não desiste, você vai encontrar teu filho, vai dar tudo certo." - Mirian dos Santos Almeida, mãe do desaparecido Alison Santos de Almeida.

Desde 24 de agosto de 2013, Mirian dos Santos Almeida não encontra seu filho Alison. "Mãe, tenha uma boa noite, um bom descanso. Mãe, eu te amo". Foi a última conversa que Mirian teve com o seu filho por telefone, em uma noite de agosto de 2013. Desde então, a família Almeida procura por Alison em toda São Paulo. A família se uniu para insistir na busca, fortalecendo-se com outras famílias do grupo das Mães da Sé.

M. Cruppe/CICV

Família Campioto

"A minha vida parou, eu não fui mais em médico, minha família desabou. Tem dia que eu levanto que a minha carne tá trêmula. Aí me dão remédio para dormir, mas eu não durmo, 3 horas da manhã eu tô acordada. É uma experiência terrível, são 24 horas pensando nele." – Dalva Campioto, mãe do desaparecido Leonardo Campioto.

Dalva e Carlos Campioto esperam há dez anos por uma resposta sobre o paradeiro de seu filho, Leonardo de Souza Campioto, que desapareceu quando tinha 27 anos. A última vez que o viram, Leonardo brincava com o filho recém-nascido no sofá de casa. Leonardo estava desempregado e fazia bicos de frete. Uma noite saiu de casa para fazer uma entrega e não voltou. Desde então, a vida dos pais passou a ser a busca de notícias do filho, uma peregrinação constante entre delegacias, instituto médicos legais e advogados.

M. Cruppe/CICV

Família Capistrano

"A nossa expectativa em relação a essas buscas de desaparecidos, evidentemente tanto tempo depois, é a de conseguir contar o mais proximame nte possível da realidade essa história. Nosso interesse foi sempre divulgar (a questão do desaparecimento). Estamos falando há mais de 40 anos." – Maria Cristina Capistrano, filha do desaparecido David Capistrano.

Maria Carolina Capistrano espera há mais de quatro décadas alguma informação sobre o destino do marido, David Capistrano da Costa. Ele desapareceu junto com um amigo em março de 1974, e, desde então, sua família busca saber sobre o seu paradeiro. Como Maria Carolina, as duas filhas e a neta de Capistrano também esperam pelo desfecho dessa história. Cecília Capistrano Bacha, neta de David, acredita na importância de continuar juntando as informações sobre o avô. Cecilia diz que a família só passou a aceitar a morte dele a partir da Lei de Anistia, de 1979, quando ao contrário do que se esperava, ele não voltou para casa.

M. Cruppe/CICV

Família Cruz

"Quantos Robsons existem, quantas pessoas desaparecidas? Eu vejo as pessoas que estão na Sé, as pessoas que têm familiares desaparecidos. A gente se abate, a gente sente, é muito constrangedor, torturante isso." - Leonardo da Cruz, pai do desaparecido Robson Roberto da Cruz.

Robson Roberto da Cruz, filho de Leonardo da Cruz e Izilda Maria Pesolato, desapareceu em junho de 2016, no dia do aniversário de sua mãe. Diagnosticado com esquizofrenia, saiu de casa apenas com a roupa do corpo e nunca mais foi visto. . Em maio de 2018, a família recebeu um telefonema: logo após o seu desaparecimento, Robson foi socorrido pelo serviço de resgate de São Paulo, ficou hospitalizado por um mês e veio a falecer. Ele foi enterrado sem identificação ou notificação aos pais, que buscavam por ele desde o primeiro dia. Agora , a família pleiteia por uma nova sepultura e para garantir o merecido
descanso ao seu filho.

M. Cruppe/CICV

Família Damasceno

"Nós temos 50% de chance de encontrar eles vivos e 50% de encontrar eles mortos. Mas não importa, em 100% eles vão vir para nós. Nós temos que estar preparados e nós precisamos ter a certeza do que aconteceu com os nossos desaparecidos. E mesmo se encontrar, eu não vou parar de ajudar os outros." – Lucineide Damasceno, mãe do desaparecido Felipe Damasceno.

Lucineide Damasceno busca por uma explicação sobre o paradeiro de seu filho Felipe desde novembro de 2008, quando ele saiu de casa de moto para visitar um amigo e não voltou. Desde então, começou a sofrer de crises de pânico, especialmente em locais com muita gente, e enfrenta dificuldades para que o caso do desaparecimento de seu filho seja devidamente investigado. Como forma de recordar o filho desaparecido, fez uma tatuagem nas costas, uma antiga vontade de Felipe.

M. Cruppe/CICV

Família Esperidião

"A cada dia que passa, a cada ano que passa, a dor vai aumentando. É como se fosse uma ferida que vai aumentando. Se eu tivesse enterrado a minha filha, eu já teria acostumado com a ideia de não ver mais ela. Agora o que tem me matado aos pouquinhos, é não saber o que aconteceu." – Ivanise Esperidião, mãe da desaparecida Fabiana Esperidião.

A busca de Ivanise Esperidião por sua filha começou às vésperas do Natal de 1995. À época com 13 anos, Fabiana Esperidião da Silva tinha ido ao aniversário de uma amiga junto com uma colega da mesma idade. A casa da aniversariante ficava a menos de 300 metros da sua. Na volta, Fabiana se separou da amiga, e, desde então não foi mais vista. A dificuldade em encontrar apoio e informação levou Ivanise a fundar a Associação Brasileira de Busca e Defesa à Criança Desaparecida, em 1996, organização que ficou conhecida mais tarde como Mães da Sé.

M. Cruppe/CICV

Família Inácio

"Para mim ele não está vivo. Ou sem sequelas. Porque ele não me deixaria nessa situação. Mas a gente sempre fica com aquele 1% de esperança. Mas se ele também não estiver, eu espero ter a resposta." – Debora Inácio, mãe do desaparecido Kaio Alves Inácio.

Há cerca de 5 anos, Debora Inácio procura seu filho, Kaio, que desapareceu após ir à uma festa na casa de amigos e dormir fora. Ela ainda conseguiu falar com Kaio por telefone uma última vez, quando ele disse que iria resolver alguns problemas, e, desde então, não teve mais notícias., Debora visitou diversas delegacias, hospitais e Institutos Médicos Legais (IMLs) em busca do filho. Após um longo período de depressão, encontrou apoio e conseguiu enfrentar o trauma de retornar ao litoral, onde ocorreu o desaparecimento de Kaio.

M. Cruppe/CICV

Família Massena

"Eles (seus filhos) cresceram, todos se mandaram e eu fiquei aqui sozinha. Vou chegar aos 100 anos, e espero que até lá tenham alguma coisa desse sumiço, alguma verdade pra gente. Acho que quando a gente mora muito tempo em um lugar, cria raízes. A gente se apega à casa, às lembranças. Esse portão, foi o João que fez. Ele ficava ali na frente, mas trouxemos para o jardim." – Ecila Massena, esposa do desaparecido João Massena.

João Massena Melo, ex-vereador e deputado pelo Rio de Janeiro, desapareceu em abril de 1974. Décadas depois do desaparecimento de João Massena, o assunto segue como um tabu para a família Massena, embora todos concordem que ele esteja morto. O desaparecimento de João Massena representou um estigma para sua família - a casa onde viviam era conhecida na vizinhança como casa de "comunista" – e levou vários membros da sua família a sofrerem com sequelas psicológicas.

M. Cruppe/CICV

Família Mesut

"Eu não sabia quem era meu pai. Nem tinha ideia." – Grenaldo Erdmundo Mesut, filho do desaparecido Grenaldo Mesut.

Grenaldo Mesut não conhecia a história do pai, o marinheiro Grenaldo de Jesus Silva, que desapareceu em maio de 1975, quando ele tinha 4 anos de idade. Durante mais de trinta anos, nunca teve nenhuma informação sobre ele. Grenaldo só começou a descobrir mais sobre o assunto quando, anos depois, por acaso, uma parente de sua esposa viu uma reportagem sobre o pai dele.
Por volta do ano 2000, Grenaldo começou a pesquisar e a descobrir a verdade sobre seu pai, e até hoje se emociona ao falar dele.

M. Cruppe/CICV

Família Miranda

"Eu tenho o direito de saber onde foram parar os restos mortais do meu marido, não é? Eu e os meus filhos, toda a família, procuramos encontrar, resgatar essa história, que é muito difícil. Porque, afinal de contas, eu passei a vida inteira nessa luta, sempre esperando notícias, sempre querendo saber. Eu acho que é um direito de todos. " - Elza Miranda, esposa do desaparecido Jayme Amorim Miranda.

O jornalista e advogado Jayme Amorim Miranda desapareceu em 1975, deixando a esposa, Elza Miranda, sozinha com os filhos para criar. Foram muitos anos de dificuldades. Como ele não retornou após a Lei da Anistia, em 1979, a família passou a acreditar que ele estaria morto.

M. Cruppe/CICV

Família Nascimento

"A gente sabe que quando a pessoa morre não tem mais jeito, mas quando está desaparecida, a gente não sabe se ela está comendo, se está bebendo, como é que está dormindo... É um desespero." – Valmir do Nascimento, cunhado do desaparecido Teodomiro Bernardo dos Santos.

Natural do Ceará e filho do meio de uma família com 12 irmãos, Teodomiro Bernardo dos Santos morava, assim como boa parte da sua família, na periferia de São Paulo, para onde mudou-se ainda jovem em busca de oportunidades. Em novembro de 1995, enquanto seguia um tratamento psiquiátrico em um hospital da cidade, Teodomiro saiu pela porta da frente do estabelecimento e nunca mais foi visto pela sua família. Logo após seu desaparecimento, toda a família se mobilizou para procurá-lo. Com os anos, sua irmã, Zélia dos Santos Nascimento, e principalmente seu cunhado, Valmir Nascimento, assumiram a missão de manter as ações de busca – o que fazem ativamente.

M. Cruppe/CICV

Família Padilha

"Um dia de manhã ele foi ver uma peça de caminhão e nunca mais voltou. Será que eu vou ter uma resposta?" – Vilma Padilha, filha de José Padilha, desaparecido.

Vilma Teresa Padilha vive com a família e os animais de estimação em São Paulo. Ela tinha 13 anos quando o pai, o caminhoneiro José Padilha Aguilar, desapareceu, em 1972. Desde então, busca por ele, com recursos próprios. Sempre que recebia pistas de que o pai poderia estar em algum lugar, ela viajava Brasil afora atrás dele. Depois de tantos anos, ela nunca desistiu da busca. A principal preocupação dela e de sua família é receber uma resposta definitiva sobre o destino e o paradeiro de seu pai.

M. Cruppe/CICV

Família Santos

"A esperança é a última que morre e eu pretendo encontrar ele a qualquer momento" – Alberto Correia dos Santos, pai do desaparecido Rodrigo Correia Santos.

Rodrigo Correia Santos está desaparecido há seis anos, desde uma sexta-feira em que saiu para trabalhar e não voltou mais. Rodrigo tinha 22 anos, era taxista e morava com seus pais, Alberto Correia e Zuleide Santos, além de três irmãos. Desde este dia, a família faz uma busca incessante em bairros de São Paulo.

M. Cruppe/CICV

Família Torigoi

"Eles não contavam nada pra gente. Não podia nem falar o nome dele porque tinham medo. Eu até chamei os outros familiares, mas eles não querem (participar). Ficam todos chateados." – Célia Torigoi, sobrinha do desaparecido Hirohaki Torigoe.

O estudante Hirohaki Torigoe desapareceu em 1972. Os pais, agricultores de Piracicaba, em São Paulo, buscaram o filho junto às autoridades e obtiveram a informação de que ele estaria morto. Mas nunca receberam seus restos mortais. Os pais e avós não contaram às crianças da família, como Naomi, com 5 anos na época, e Celia, um pouco menor, sobre o que realmente aconteceu com o tio. O assunto foi tabu durante anos. Só na adolescência elas souberam a verdade, de que o tio estava desaparecido.

M. Cruppe/CICV

Família Vasconcelos

"Eu acho que a melhor recordação do meu irmão é falar da minha mãe. Ela escreveu para todos os órgãos, todos. Ela escreveu para o Papa! A minha mãe era uma pessoa que tinha a quarta série primária. Ela ia para a Cinelândia com um cartaz dizendo: hoje faz três dias, hoje faz quatro dias, hoje faz 31 dias e aí por diante." - Altair Vasconcelos, irmã do desaparecido Joel Vasconcelos.

Joel Vasconcelos Santos desapareceu em 1971. A partir de este ano, sua mãe, Elza, começou a busca pelo filho, uma jornada que a acompanhou até o fim da vida. Regularmente, ela ia a locais onde Joel poderia estar. Sua filha, Altair, que hoje segue na busca, testemunhava a mãe escrever cartas e ir à praça todos os dias para clamar por informações sobre Joel. Mas mesmo com toda essa mobilização, sua família nunca recebeu nenhuma informação oficial sobre seu paradeiro.

M. Cruppe/CICV

Família Wright

"Então, tem no desaparecimento uma coisa interminável. A gente levanta de manhã pensando nisso, é algo constante. Nós não temos esse evento, a cerimônia do enterro. Então temos essa pessoa que vaga perto da gente, e a gente precisaria realmente, pelo menos para mim e para as pessoas próximas, que uma cerimônia acontecesse." – João Paulo Wright, filho do desaparecido Paulo Stuart Wright.

Filho de missionários norte-americanos, Paulo Stuart Wright foi deputado estadual de Santa Catarina. Atuante no movimento de esquerda, desapareceu em 1973. Desde então, sua família busca saber seu paradeiro.

Sobre a fotógrafa Marizilda Cruppe

De técnica em mecânica e estudante de Engenharia, passando a candidata a piloto de avião, Marizilda Cruppe encontrou sua vocação no fotojornalismo. Trabalhou em veículos de imprensa, tornou-se uma profissional independente, fundou um coletivo com outras mulheres fotógrafas – o coletivo EVE Photographers que durante cinco anos teve seu trabalho exibido e publicado em dez países –, foi instrutora de fotografia e participou de diversas premiações fotográficas internacionais – entre elas o maior e mais prestigiado concurso de fotojornalismo mundial, o World Press Photo, no qual foi jurada por duas vezes. Já fotografou para Greenpeace, Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras, Oxfam e Banco Mundial, e colaborou com The New York Times, The Guardian, National Geographic France, The Global Post, Svenska Dagbladet, Expressen, Trip, TPM e GQ.

Sobre Rogério Costa

Rogério Costa é diretor de arte, designer, artista visual e o responsável pela criação artística do vídeo mapping da exposição 'A falta que você faz'. Artista com atuação em cinema, televisão, teatro, shows e eventos há quase quatro décadas, entre seus principais projetos de videografismo e video mapping, destacam-se a criação do projeto em motion graphics para a projeção em video mapping do cubo ecossistemas no Museu do Amanhã e a criação do videografismo da Sala dos Rádios no Museu do Futebol.

Sobre a exposição

'A falta que você faz'
De 12 a 30 de setembro de 2018
Terça a sábado: 10h às 20h
Domingos e feriados: 9h às18h
Museu da Imagem e do Som – MIS
Av. Europa, 158, Jd. Europa - São Paulo
Entrada gratuita.