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Líbano: crianças sírias refugiadas recebem tratamento em hospital do CICV

Quando não está fazendo selfies com o telefone da mãe, Ahmad, de nove anos, troca os curativos das suas pernas amputadas e inspeciona sozinho os seus ferimentos que estão cicatrizando.

Quatro anos atrás, em Idlib, Síria, um morteiro caiu perto da casa de Ahmad, onde ele brincava. Ele perdeu as duas pernas no ato.

"Ahmad é o mais novo dos meus cinco filhos", explica a sua mãe, Yaman. "Depois que se feriu, ele passou por cirurgias e terapia, antes de nos mudarmos para o Líbano, em 2012, mas não foi suficiente. Desde o acidente, com frequência ele sofre dores lancinantes".

Ao chegar ao Líbano, ele foi submetido a outra operação, mas as dores não iam embora. Ahmad está agora sob os cuidados do CICV no Centro em Treinamento em Traumatologia por Armas de Fogo (WTTC) há três meses.

Ahmad foi ferido em Idlib, Síria, quando um um morteiro caiu perto da casa de Ahmad, onde ele brincava. Ele perdeu as duas pernas no ato. CC BY-NC-ND / CICV / Hussein Baydoun

O WTTC é um centro de procedimentos cirúrgicos para ferimentos causados por armas de fogo assim como um centro de treinamento para os cirurgiões locais estabelecido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Trípoli, norte do Líbano, depois de um acordo com o Ministério da Saúde libanês.

O centro oferece tratamento cirúrgico, ademais de cirurgias reconstrutivas de forma gratuita.

"Desde que soubemos do WTTC é como se eu finalmente tivesse meu filho de volta. Ele é um menino diferente agora," diy a màae de Ahmad. CC BY-NC-ND / CICV / Hussein Baydoun

Ao ver Ahmad, pode-se ver o seu amor pela vida reluzindo através do seu sorriso. Mas quando chegou ao WTTC, Ahmad era um menino traumatizado. Gritava cada vez que um médico ou enfermeiro se aproximava dele. Quase sempre, precisava estar sedado para que a equipe médica pudesse fazer o seu trabalho.

"Ele tinha medo de tudo e de todos. Tentávamos 'suborná-lo' e fazer brincadeiras com ele, mas nada funcionava", contou Maj Gottarp, uma enfermeira do WTTC. "Uma vez, ele gritou que queria morrer", acrescentou.

"Todas as experiências pelas quais ele passou foram terríveis, então tentamos usar a ludoterapia", explicou Gottarp. "Pegamos uma esponja e fizemos suturas como as que ele tinha nas pernas. Depois, o convidávamos para participar de um jogo no qual ele seria o médico e tinha que retirar as suturas da esponja com a nossa ajuda".

Ahmad passou de estar aterrorizado para ser o centro da própria brincadeira. Inclusive perguntou se poderia repeti-la. Quando chegou o momento de tirar as suturas de verdade, a enfermeira levou três horas – mas Ahmad não gritou durante todo o procedimento.

No entanto, Ahmad não era a única criança encurralada pelo fogo cruzado da atual crise na Síria que termina indo para o WTTC. No quarto contiguo ao de Ahmad está Hiba, de seis anos, oriundo de Homs, Síria.

Hiba, com seis anos de idade, tem estado em tratamento há quatro meses no WTTC após duas cirurgias. Ela foi ferida em Homs, Síria. CC BY-NC-ND / CICV / Hussein Baydoun

A perna de Hiba foi ferida há dois anos, quando a sua casa foi atacada, em Homs. Ela recebe tratamento há quatro meses no WTTC, depois de ter sido submetida a duas operações.

Ahmad e Hiba deixaram de frequentar a escola devido aos ferimentos. As mães de ambos se aferraram à esperança de que as suas crianças em breve estarão bem, poderão voltar às aulas e crescer para serem adultos de sucesso que ajudarão as suas comunidades.

A dor dos seus filhos uniu essas mulheres.

Hiba pode sentir o progresso que está fazendo e está orgulhosa de si mesma. Tudo o que ela quer agora é poder voltar à escolar para ser cirurgiã.

Ahmad também reclama com a sua mãe sobre voltar a estudar.

Quero duas coisas para o meu filho. Que ele possa voltar a andar e vê-lo terminar a escola. Mas, acima de tudo, o que eu mais quero é que ele possa andar de novo sem sentir dor

Apoio aos refugiados no Líbano

Ademais de administrar o WTTC em Trípoli, o CICV apoia estabelecimentos de saúde no Líbano que atendem pessoas que fugiram da Síria, em particular por meio da doação de material e equipamentos.

A organização contribui para o restabelecimento de laços entre parentes que perderam o contato ou que foram separados pelo conflito na Síria, e, quando é possível, facilita a reunião de famílias, dando atenção especial aos mais vulneráveis, incluindo menores desacompanhados.

O CICV também fornece material de ajuda para as pessoas obrigadas a fugir do conflito, incluindo refugiados palestinos da Síria e retornados libaneses em diversas áreas do país.

Para aliviar a sobrecarga imposta à infraestrutura e às comunidades acolhedoras por parte da fuga em massa da Síria em consequência do conflito, o CICV realizou programas de fornecimento de água em todo o Líbano. Ao longo do ano passado, a organização implementou importantes projetos de abastecimento de água no vale de Beqaa e no sul do país, beneficiando mais de 240 mil pessoas, incluindo cerca de 90 mil refugiados.