Comunicado de imprensa

Líbia: COVID-19 e conflito armado agravam crise humanitária

Genebra (CICV) - Na Líbia, um país já devastado pela guerra, os casos de COVID-19 aumentaram mais de 13 vezes em menos de dois meses, passando de 571 em junho para mais de 7.500 atualmente. Mais de meio milhão de pessoas precisam de assistência à saúde, enquanto o conflito armado, a pandemia e a crise econômica ameaçam mergulhar centenas de milhares de civis no caos.

Os líbios ainda se recuperam de nove anos de conflito, quando famílias foram obrigadas a deixar suas casas, estabelecimentos de saúde foram destruídos, a infraestrutura se desintegrou e a economia entrou em colapso, afirmou Peter Maurer, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), ao concluir sua visita ao país esta semana.

"Em Benghazi e Trípoli, presenciei como os civis estão sofrendo devido às consequências catastróficas do conflito", disse Maurer. "Os bairros da antiga linha de frente em Trípoli estão destroçados, e as famílias praticamente não têm para onde voltar." As pessoas também correm risco de serem mortas ou feridas pelas perigosas munições não detonadas. Ao mesmo tempo, a infraestrutura do país inteiro foi sucateada. Os habitantes têm fornecimento limitado de eletricidade, água potável, saneamento e assistência médica em meio a uma pandemia crescente."

Em Benghazi, Maurer se reuniu com o marechal de campo Khalifa Haftar, comandante do Exército Nacional Líbio (LNA), após um encontro em Trípoli com Fayez Al-Sarraj, chefe do Conselho Presidencial e primeiro-ministro do Governo do Acordo Nacional (GNA) da Líbia. Maurer também se reuniu em Benghazi com a liderança do Crescente Vermelho Líbio, que desempenha um importante papel para conter a propagação da COVID-19.

O conflito também afetou o sistema de saúde da Líbia. Hospitais e clínicas foram atingidos pelos combates, enquanto outros foram obrigados a fechar suas portas por estarem próximos das linhas de frente. Outros estabelecimentos se deterioram por falta de investimento.

O impacto econômico do conflito e da COVID-19 também é sentido com intensidade. A maioria das pessoas entrevistadas pelo CICV disse que a pandemia prejudicou seus meios de subsistência. Diaristas e migrantes são os mais afetados, pois as oportunidades de trabalho desapareceram e os preços dos alimentos básicos aumentaram em média 20%, chegando a dobrar em algumas áreas. Estima-se que os preços continuem subindo, já que a Líbia importa a maior parte de seus alimentos e a produção de petróleo foi interrompida. Já há escassez de leite, vegetais, pão e combustíveis.

O CICV acompanha de perto a concentração militar ao redor de Sirte e permanece comprometido com sua função de intermediário neutro entre o Governo do Acordo Nacional e o Exército Nacional Líbio, a fim de atender às necessidades humanitárias e aos pedidos de segurança e acesso desimpedido às pessoas necessitadas de todos os lados do conflito.
"Pedimos a todas as partes do conflito, incluindo seus apoiadores internacionais, que respeitem o Direito Internacional Humanitário", afirmou Maurer. "Os civis devem ser poupados das hostilidades e nunca devem ser alvos de ataque, assim como a infraestrutura da qual dependem para sobreviver, incluindo hospitais, escolas, centrais elétricas e estações de tratamento de água. Seu direito à assistência humanitária também deve ser respeitado."
O CICV, em parceria com o Crescente Vermelho Líbio, continua respondendo às necessidades dos líbios decorrentes do conflito e da COVID-19. Em 2020, a ajuda incluiu cestas básicas para quase 93 mil pessoas e transferências de dinheiro que beneficiaram 35 mil deslocados internos líbios, incluindo famílias lideradas por mulheres, além de reparações nos sistemas de água e saneamento para 570 mil pessoas e em três centros de saúde para 57 mil. Cerca de 100 hospitais e estabelecimentos de assistência à saúde primária receberam material médico, e quase 300 profissionais da saúde fizeram treinamento sobre prevenção e controle da COVID-19. Mais de mil pessoas com deficiência receberam serviços de reabilitação física, incluindo próteses.

Mais informações:
Qusai Alazroni, porta-voz do CICV na Líbia, tel: +216 5516 6657, qalazroni@icrc.org
Crystal Wells, porta-voz do CICV na África, tel: +254 716 897 265, cwells@icrc.org