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Mostra imersiva comove público e amplia debate sobre desaparecimento

"O SOFRIMENTO FAZ A GENTE COMEÇAR A DAR VALOR AOS GESTOS AMÁVEIS DAS PESSOAS", CONTA A MONITORA DA MOSTRA LUCINEIDE DAMASCENO, QUE TEM UM FILHO DESAPARECIDO. FOTO: REINALDO CANATO/CICV

"Eu saio hoje dessa exposição amando mais as pessoas."
"Você não consegue se levantar até ouvir todos os depoimentos. Seria um desrespeito àquelas mães."
"Drama mesmo é o sofrimento delas, que nunca mais souberam dos seus filhos."

São declarações emocionadas, algumas delas pronunciadas com a voz embargada, coletadas entre o público da mostra após a experiência de imersão nas histórias dos familiares de pessoas desaparecidas. A instalação, com vídeos, textos e fotografias de 16 famílias de pessoas desaparecidas, no Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo, dura pouco mais de seis minutos. Quem passa por ali, contudo, se transforma. Em uma semana de exposição, foram quase duas mil pessoas.

O tema do desaparecimento cala fundo naqueles que assistem à exposição A falta que você faz. Organizada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), com fotos de Marizilda Cruppe e video mapping de Rogerio Costa, a mostra fica em cartaz na cidade até o dia 30 de setembro.

O drama de pais, filhos, avós e tios é o fio condutor dos relatos. São histórias, textos e ampliações de fotos que aproximam o mais desavisado visitante de um universo de emoções que mistura perda, sofrimento e dor com esperança e tenacidade.

Por meio de uma instalação de video mapping, os visitantes da exposição "A falta que você faz" são imersos a histórias de familiares de pessoas desaparecidas, com retratos e depoimentos dessas pessoas. Foto: Reinaldo Canato/CICV

Carol Rahal, fotógrafa e professora, e sua companheira Ligia Vendrame, administradora, estavam na entrada do museu, sentadas num banco. "Saí da sala tão emocionada. Foi quando me dei conta que a monitora da exposição era uma das mães retratadas. A gente se deu um abraço apertado e eu fiquei sem fala", conta Carol com olhos marejados, abraçada à Lucineide Damasceno, uma das mães voluntárias da monitoria.

"Algumas pessoas se espantam com o fato de eu estar aqui na exposição, achando que não há vida depois da tragédia que eu sofri, mas o sofrimento também faz a gente começar a dar valor aos gestos amáveis das pessoas", conta Lucineide. "Eu acabei de ver que a Carol e a Ligia me adicionaram no Facebook. Ganhei duas novas amigas."

As histórias de 16 famílias de pessoas desaparecidas são apresentadas aos visitantes da mostra imersiva. "Você não consegue se levantar até ouvir todos os depoimentos. Seria um desrespeito àquelas mães", afirma um visitante. Foto: Reinaldo Canato/CICV

Tocada, ao sair da sala expositiva, Luciana Alves relembra o caso de uma senhora de seu bairro na Zona Leste, cujo marido desaparecera por alguns meses e acabou voltando. Também recorda quando viu uma pessoa acudir o olhar suplicante de uma jovem no metrô: a moça estava sendo discretamente ameaçada com uma faca e o vagão todo a resgatou de seu raptor. Vitor Brito, por sua vez, impressionou-se com a história dos Torigoi, que por anos guardaram silêncio sobre o desaparecimento do tio Hirohaki, em 1972.