Comunicado de imprensa

Presidente do CICV: sofrimento em Mariupol não deve se tornar o futuro da Ucrânia

Declaração do presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, que está atualmente na Ucrânia.

Kiev (CICV) – No caminho a Kiev esta semana, os sinais de conflito aumentaram. Primeiro, filas de carros saindo da cidade; depois, prédios bombardeados; finalmente, uma capital assustadoramente silenciosa. Conhecemos um médico que levou a esposa e o filho para o hospital onde trabalha, em Kiev, depois que o seu apartamento foi destruído. O médico continuou trabalhando enquanto o seu filho frequentava a escola online. Novas e comoventes imagens de Mariupol destacaram ainda mais que o preço do conflito é mais pesado para a população civil.


Estou em Kiev esta semana para fazer um apelo urgente às partes em conflito. Elas são as únicas que podem agir agora para trazer um alívio real para a população civil e pessoas que já não participam das hostilidades.

Faço um apelo às partes para que aproveitem todas as oportunidades para construir pequenos passos para aliviar o sofrimento, como o vislumbre de esperança que vimos esta semana em Sumy, quando profissionais humanitários neutros da Cruz Vermelha Ucraniana e do CICV ajudaram milhares de pessoas – crianças, idosos, pacientes - a estarem fora de perigo. Precisamos de muitos mais vislumbres da humanidade como esse. Entristece-me, porém, que as crianças estejam embarcando em ônibus para o desconhecido em vez de rumo às suas escolas.

A devastação deste conflito foi extensa. Mesmo sem um cessar-fogo, há medidas práticas que as partes devem tomar agora, respeitando o Direito Internacional Humanitário (DIH) para limitar o sofrimento da população civil:

  1.  Acordos concretos que permitiriam a saída segura de cidades como Mariupol. A população civil deve poder sair das áreas de violência. Detalhes específicos devem ser acordados e amplamente compartilhados.
  2. Permissão para a entrada de ajuda humanitária. As partes têm a obrigação, segundo o DIH, de garantir que as pessoas que estão sob o seu controle tenham acesso à assistência ou permitir a entrada de ajuda.
  3. Garantia de proteção para quem não faz parte dos combates, onde quer que estejam, seja nas suas casas ou durante a viagem, estejam ou não em um chamado corredor humanitário.
  4. Resguardo da infraestrutura civil contra ataques, incluindo hospitais, escolas, infraestrutura para o abastecimento de água e eletricidade.
  5. Tratamento digno de prisioneiros de guerra e civis detidos. Estas pessoas estão protegidas contra maus-tratos e exposição à curiosidade pública, incluindo imagens nas redes sociais. As Convenções de Genebra também garantem ao CICV o acesso às pessoas detidas.


Durante a minha visita à Ucrânia, reuni-me com o primeiro-ministro Denys Shmyhal, a vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk, o ministro da Defesa Oleksii Reznikov, o ministro da Infraestrutura Oleksandr Kubrakov e o prefeito de Kiev Vitali Klitschko, para discutir as necessidades humanitárias. Também me reuni com os dedicados membros da equipe da Cruz Vermelha Ucraniana e colegas do CICV. Estou imensamente orgulhoso da assistência vital que prestam às pessoas necessitadas.

Há oito anos o CICV atende pessoas na Ucrânia, ajudando a aliviar o sofrimento em Donbas — o qual testemunhei durante minha última viagem a Luhansk e Donetsk. Esse trabalho não vai parar agora e está sendo enormemente ampliado. Só nesta semana mais de 200 toneladas de suprimentos de socorro – material médico, milhares de cobertores, utensílios de cozinha, lonas — chegaram ao país. Enviamos dezenas de funcionários adicionais para a região, incluindo médicos, especialistas em contaminação de armas, engenheiros, logísticos e outros que podem fazer uma diferença imediata para as pessoas necessitadas.

A população civil afetada pelo conflito na Ucrânia está aterrorizada com o que o futuro reserva. Famílias se amontoam em porões sem aquecimento sabendo que os seus bairros agora estão na linha de frente. Mulheres e crianças caminham pelo frio em busca de abrigo. A crise, que se soma a oito anos de conflito, se aprofunda a cada hora.
Kiev hoje está muito vazia, mas a maioria dos moradores escondidos aqui têm água encanada, eletricidade e acesso a cuidados médicos. Em muitas cidades, as famílias estão encurraladas e enfrentam dificuldades para encontrar água e comida suficientes para sobreviver.

O sofrimento em Mariupol não deve se tornar o futuro da Ucrânia.

 

Mais informações:

Crystal Wells (inglês), +41 77 963 7574
cwells@icrc.org
Jason Straziuso (inglês, francês), +41 79 949 3512
jstraziuso@icrc.org
Chris Hanger (inglês, francês, alemão)
+41 79 73 10 403, changer@icrc.org