Relatório

Programa de Restabelecimento de Laços Familiares é reforçado

+ de 120 mil
Depoimento
Balanço Humanitário 2020

Apesar do fechamento das fronteiras da Venezuela e de outros países vizinhos em razão da pandemia do novo coronavírus, o trabalho realizado pelo programa de Restabelecimento de Laços Familiares (RLF) continuou vigente – e ainda mais reforçado pela necessidade de comunicação com os entes queridos. A imposição de distanciamento, no entanto, trouxe consigo um esforço para a reinvenção das práticas e protocolos das atividades.

Em 2020, foram realizados mais de 120 mil serviços de conectividade entre ligações telefônicas, acesso gratuito à internet e recarga de baterias, além de 56 pedidos de buscas nos cinco países da Delegação Regional . Esses pedidos ocorrem quando a comunicação telefônica ou por internet não é possível, ou não se sabe o paradeiro de um ente querido, e o programa tenta localizá-lo com base nas informações fornecidas pelo familiar.

"A gente queria justamente entrar nessa lógica de biossegurança e protocolos de proteção, mas lembrar que o distanciamento social não quer dizer necessariamente a perda do contato das famílias", explica José Guillermo Giraldo, responsável pelo Programa de RLF da Delegação Regional, que visa manter os laços familiares das pessoas separadas por causa de conflitos armados, desastres naturais ou migração.

No Brasil, o CICV atende aos migrantes em Pacaraima e Boa Vista (RR), na fronteira do Brasil com Venezuela, e em Manaus (AM). De acordo com José, o desafio ocorreu também em outros postos de conectividade como a fronteira da Argentina com o Brasil e a fronteira colombiana com a Venezuela.

Se pensarmos que houve o fechamento das fronteiras, este número ainda é muito 

Em razão da pandemia, e por se tratar de uma emergência mundial, houve neste ano uma articulação ainda mais forte com as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha de cada país, com quem é realizado o RLF. Deste modo, o CICV ofereceu orientações técnicas e apoio aos parceiros da região. Na América do Sul, foram realizadas reuniões periódicas e foram coordenadas ações na plataforma AmerSur.

"Em termos práticos, nós também tivemos de reinventar a roda, porque, em condições fora da Covid-19, nós trabalharíamos com chamadas telefônicas em aparelhos compartilhados, então o que fizemos neste ano foi usar muito mais o sistema de videochamadas", explica Jose Guillermo.

Com o elevado número de mortes em razão do novo coronavírus, a identificação destas pessoas foi outro desafio imposto para o programa. "Este foi outro motivo pelo qual nós tivemos que trabalhar bastante a sensibilização das autoridades sobre a importância do Restabelecimento de Laços Familiares, nós precisamos manter este contato com as famílias. O cuidado que temos que ter como organização é dar uma resposta também para essas famílias", conclui.

Foto: Felipe Wunder/CICV

Thomas Ribeiro
Assessor de Cooperação para o Brasil

A pandemia nos pegou de surpresa e, realmente, o programa de Restabelecimento de Laços Familiares foi ainda mais necessário e então nos adaptamos. As primeiras chamadas "multiconferência" foram operadas diretamente entre nós, o nosso ponto focal nos abrigos de migrantes e o familiar na Venezuela. Muitas das pessoas que nós atendemos, às vezes, não sabem mexer no celular ou têm dificuldades com o idioma. A gente acaba desenvolvendo uma relação forte com as pessoas que atendemos, sabendo das dificuldades, das vontades e torcendo juntos para a ligação dar certo depois de várias tentativas.

O desafio maior foi sempre estar nesta movimentação de entender que as pessoas precisavam muito do nosso serviço, mas que a gente não podia colocá-los em risco e nem nos colocar em risco. Em Manaus, por exemplo, contamos com o apoio de profissionais de saúde voluntários da Cruz Vermelha Brasileira para fazer as chamadas e escrever mensagens. Foi um trabalho lindo que desenvolveram conosco.

Realizamos muitas avaliações para que pudéssemos alcançar essas pessoas de maneira mais segura, e sinto que conseguimos fazê-lo. Eu estou muito contente por trabalhar no CICV e no Movimento Internacional da Cruz Vermelha. Para mim, foi a realização de um sonho!