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RD Congo: Agredida sexualmente na adolescência, Thérèse recupera sua confiança e dignidade

Três anos depois de ter sido estuprada por homens armados na província de Cassai, Thérèse* tenta superar o trauma físico e psicológico. Com ajuda financeira e tratamento médico em um prestigiado hospital em Bukavu, ela pode recomeçar.

Em 2017, Thérèse achava que tinha escapado da violência que assolava a região onde vivia quando fugiu para um vilarejo a 80 quilômetros. No entanto, ao chegar lá, três homens armados atacaram e estupraram Thérèse. Embora tenha ficado profundamente traumatizada, ela está melhor agora. "Não evito mais as pessoas. Ao contrário, agora as pessoas vêm me visitar para ver minha transformação milagrosa", conta ela.

Ela engravidou no estupro — com apenas 13 anos — e deu à luz uma criança.

Por causa do estigma da agressão sexual e do tabu de criar uma criança concebida nessas circunstâncias, Thérèse foi excluída pelas pessoas e não recebeu nenhum apoio. As consequências de suas lesões — uma fístula deixou-a constantemente incontinente — só pioraram a rejeição da comunidade.

Sofrendo e longe de casa, Thérèse não tinha a quem recorrer. O pai dela havia sido assassinado nos confrontos violentos e ela não sabia onde a mãe e a irmã estavam. "Eu estava desesperada. Estava só esperando morrer", disse.

Acusada de atrair azar

Um dia, no entanto, alguém mencionou a história de Thérèse para uma equipe do CICV que trabalhava na região. Quando se conheceram, ela contou que queria reencontrar sua família. Uma busca foi realizada e, com ajuda da Cruz Vermelha local, Thérèse reencontrou a mãe em junho de 2020. "Eu estava perdida, longe de meu vilarejo, incapaz de me virar. Achei que nunca mais veria minha mãe. Quando nos reencontramos, chorei de alegria", conta ela. A irmã dela, infelizmente, ainda não foi localizada.

Chandrasekhar Chatterjee/CICV

Mas, em agosto de 2020, acompanhada pela mãe, ela foi admitida no Hospital Panzi, dirigido pelo dr. Mukwege, vencedor do Prêmio Nobel. "Muita gente que me viu antes de eu ir para o hospital achou que eu não iria sobreviver", conta ela. Depois de quatro meses, Thérèse estava em boas condições de saúde e recebeu alta.

"Eu me sinto bem. Os odores desagradáveis desapareceram e minha menstruação voltou ao normal", conta ela. "Ainda preciso tomar remédio, e disseram que tenho que descansar bastante."

"Recuperei o gosto pela vida"

De volta a seu vilarejo, Thérèse continuou encontrando obstáculos. Sem dinheiro, como ela poderia se reintegrar à comunidade? Como poderia deixar de ser condenada ao ostracismo? Ela teria que recorrer ao trabalho sexual, como às vezes acontece em situações semelhantes?

Didier Revol/CICV

Para que Thérèse consiga se sustentar por conta própria, demos a ela dinheiro, um celular e capacitação para que ela possa administrar seu pequeno negócio. Mas, por enquanto, ela ainda precisa descansar. A mãe está à disposição para ajudar e passou a comprar e vender azeite de dendê para se manter. A filha, por sua vez, decidiu vender doces e biscoitos em frente a uma escola que fica perto de sua casa. "São pequenos e leves, então não vão me cansar", diz ela.

Thérèse espera retomar os estudos quando estiver completamente recuperada da cirurgia e pretende fazer roupas. "Sempre sonhei com isso. Eu me sinto forte e recuperei o gosto pela vida. Eu me sinto bem no meu corpo de novo."

*O nome foi alterado.

Apesar do reencontro, os moradores do vilarejo não foram empáticos. Muito pelo contrário: "Ninguém nem chegava perto de mim", conta Thérèse. "Diziam que eu atraía azar e que eu deveria me arrepender. Minha mãe ficou muito magoada e quis se matar."

Depois, tratada por um vencedor do Prêmio Nobel

Thérèse precisou passar por um tratamento médico intenso por causa das lesões provocadas pelo estupro e por dar à luz tão jovem. O CICV decidiu transferi-la para um hospital no leste do país para fazer uma cirurgia reconstrutiva. Infelizmente, ela precisou esperar vários meses para ir, por causa das restrições vigentes para enfrentar a pandemia de Covid-19.

O dr. Denis Mukwege, 65, é ginecologista e defensor dos direitos humanos na República Democrática do Congo. Apelidado de "o homem que conserta as mulheres", ele recebeu o Prêmio Sakharov em 2014 e o Prêmio Nobel da Paz em 2018 por ter trabalhado a vida inteira para combater a violência sexual. Ele trabalha atualmente no Hospital Panzi, na província Kivu do Sul, no leste do país. Este hospital é reconhecido pelo tratamento especializado de patologias ginecológicas, em particular de problemas reprodutivos e lesões vinculadas à violência sexual, além de fornecer um tratamento holístico a sobreviventes da violência sexual. O CICV vem trabalhando continuamente com o dr. Mukwege há mais de 20 anos. A partir de 1997, cirurgiões de guerra do CICV trabalharam com o dr. Mukwege no Hospital Lemera, onde ele era diretor, para ajudar milhares de mulheres a se recuperarem de suas lesões. Esta colaboração continua até hoje no Hospital Panzi, lugar aonde o CICV encaminhou a primeira paciente atendida pelo dr. Mukwege em 2002.

Fundação Dr. Denis Mukwege

 

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