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República Democrática do Congo: dinheiro para ajudar à recuperação após violência étnica

Em 2018, as disputas pelas terras provocaram conflitos mortais entre grupos étnicos em Kakenge, que se encontra na região de Kasaï, na República Democrática do Congo (RDC). Um grande número de pessoas fugiu para o mato, deixando tudo para trás. Quando voltaram, muitos deles tiveram que reconstruir suas casas e suas vidas.

As necessidades eram muito variadas, por isso, em agosto de 2019 fizemos pagamentos em dinheiro para cerca de 10.000 famílias que sofriam os efeitos da violência. Isso permitiu que eles pudessem decidir como lidar com a crise. Hoje, nos contam histórias de esperança, improvisação e medo do que o amanhã pode trazer. E a forma como eles usaram seu dinheiro salienta algumas necessidades universais.

“Eu posso estar sorrindo, mas por dentro estou sofrendo,” diz Françoise. CC BY-NC-ND / CICV / Carol Lumingu.

Françoise tem nove filhos. Ela investiu o dinheiro entregue pelo CICV na criação de uma pequena empresa para a sobrevivência da sua família. Ela continua sorrindo, "mas por dentro estou sofrendo." Françoise utilizou parte do dinheiro para pagar as dívidas que contraiu com a educação de seus filhos. Uma das suas filhas está estudando na Universidade de Lubumbashi, na província de Haut-Katanga. "Eu compro garrafas de azeite de dendê a um bom preço e as envio para ela. Ela as vende, fica com o lucro para cobrir as despesas e me devolve o capital."

Jean comprou uma mala, então, se a violência irromper de novo, ele poderá levar consigo tudo o essencial. CC BY-NC-ND / CICV / Carol Lumingu

"O motivo pelo qual comprei uma mala é que, quando começou a violência, eu tinha somente minhas mãos para carregar o essencial," explica Jean, que é casado e tem duas filhas. Quando ele voltou do mato, sua casa estava vazia – os atacantes tinham levado tudo. Agora, ele está preparado, pronto para levar consigo todas as coisas importantes se tiver que fugir de novo. Jean também utilizou parte do dinheiro que recebeu para comprar os materiais necessários para o novo período escolar das suas filhas, além de alguns artigos domésticos. Ele também comprou milho, "porque estávamos famintos." Há mais de um ano que Jean não consegue cultivar sua terra devido à tensão entre as comunidades.

Alphonsine comprou tudo o que era necessário para o novo ano escolar da sua neta. CC BY-NC-ND / CICV / Carol Lumingu

Para Alphonsine (67), a principal prioridade era a assistência médica para sua filha, quem sofre a doença do sono e malária. O marido de Alphonsine morreu devido à violência e só ficou a sua filha para ajudá-la. Ela comprou os materiais que a sua neta precisava para retomar a escola. E uma mala, para poder transportar seus pertences mais importantes se tiver que fugir de novo. "Tivemos que sair com pressa, com todas as nossas coisas embrulhadas numa rede para mosquitos," ela conta. "Senti tanta vergonha!"

David foi ferido no enfrentamento e já não pode trabalhar nos campos. CC BY-NC-ND / CICV / Carol Lumingu

David (67) está reconstruindo a sua casa, que foi saqueada e destruída por causa da violência. Ele já comprou algumas pranchas de madeira e espera poder comprar algumas telhas de zinco para o teto. Ele tem dez filhos e, antes da crise, era agricultor. Mas David já não pode trabalhar nos campos, porque ele quebrou o tornozelo direito quando fugia do enfrentamento. Para piorar a situação, todas as suas ferramentas e equipamentos foram roubados.

Georgette com um dos seus filhos, que voltou à escola depois de passar um ano escondido no mato. CC BY-NC-ND / CICV / Carol Lumingu

Georgette (35) preparou seus filhos para o novo ano escolar, ela comprou mochilas, uniformes e lápis. Ela e a sua família passaram por um momento difícil: sua casa foi atacada e seus pertences saqueados. Durante um tempo, eles tiveram que coletar e vender lenha para sobreviver. "Houve épocas em que meu marido e eu dávamos comida às crianças, mas nós passávamos fome," explica. Hoje, ela vende comida na frente da sua casa, e o estoque inicial foi comprado com o dinheiro do CICV. Georgette ganha um pouco menos do que o equivalente a US$ 2 por dia – o suficiente para alimentar sua família.

Em 2018, as disputas pelas terras provocaram conflitos mortais entre grupos étnicos em Kakenge, que se encontra na região de Kasaï, na República Democrática do Congo (RDC). Um grande número de pessoas fugiu para o mato, deixando tudo para trás. Quando voltaram, muitos deles tiveram que reconstruir suas casas e suas vidas.