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Ruanda/ Burundi: telefonemas grátis ajudam refugiados a se manterem em contato

Em abril, o vertiginoso aumento das chegadas de refugiados burundineses aos centros de recepção perto da fronteira entre Ruanda e Burundi levou o governo ruandês a abrir um novo campo de refugiados em Mahama, na Província do Leste. Um importante motivo de preocupação para os refugiados é manter o contato com amigos e entes queridos deixados para trás.

Para o final de junho, o total de refugiados que fugiram das tensões pré-eleitorais em Burundi chegou a dezenas de milhares de pessoas. Embora o governo ruandês declarasse o status de refugiados prima facie (automático) para aqueles que fogem de Burundi, um número indeterminado de refugiados se dirigiu diretamente para áreas urbanas, sendo tantas pessoas que as autoridades começaram a cadastrar esses refugiados urbanos no nível das aldeias.

Desde o começo do atual fluxo, o CICV e Cruz Vermelha Ruandesa oferecem serviços de restabelecimento de laços familiares aos refugiados, principalmente por meio de telefonemas. Mais de 13 mil telefonemas foram realizados até o momento, dos quais mais de 8.551 resultaram no reestabelecimento dos contatos entre familiares e/ou a troca de notícias entre famílias. Um dos desafios fundamentais enfrentados pelas organizações humanitárias é a proteção do grande número de menores desacompanhados e separados. Até o momento, foram cadastrados 945 menores desacompanhados.

Ao oferecerem os serviços de telefonia, o CICV e a Cruz Vermelha Ruandesa perceberam que muitos refugiados – até mil – tinham celulares, mas não podiam usá-los por vários motivos, entre eles a falta de acesso à rede de telefonia celular de Ruanda, a falta de tempo de utilização do celular e de meios para carregar os seus aparelhos.

Medidas tomadas para que os refugiados possam utilizar os seus celulares

Em resposta a essas necessidades, o CICV desenvolveu um projeto no intuito de permitir que os refugiados burundineses entrem em contato com os seus entes queridos utilizando os seus próprios celulares. A MTN Rwanda, uma empresa local de telecomunicações, prestou o seu apoio ao projeto com a doação de até 10 mil cartões SIM, cada um deles com uma pré-carga de 500 francos ruandeses em tempo de utilização. A empresa também disponibilizará profissionais para cadastrar e ativar os cartões SIM individualmente. Além disso, tempo de utilização adicional – uma recarga única de mil francos ruandeses para cada cartão SIM – foi comprado pelo CICV.

A falta de eletricidade é um problema importante dentro do campo de refugiados e nas proximidades, em particular porque dificulta a utilização de celulares. A fim de permitir que os refugiados carreguem os seus próprios aparelhos, o CICV montou um pequeno projeto, 'Mobile Solar Kiosk' (que permite carregar 20 aparelhos de vez), para mostrar uma alternativa mais sustentável e prática que também poderia servir de exemplo em outras situações.

 Mahama, Ruanda. Beneficiários fazem fila para utilizar o serviço grátis de carga de celulares do CICV. CC BY-NC-ND / CICV / Emmanuel Kagimbura

Menores desacompanhados que desejam falar com familiares em Burundi e pais que procuram os filhos têm prioridade. Os beneficiados pelo serviço grátis de carga de celulares declaram que isso está os ajudando a garantirem a segurança alimentar das suas famílias, as quais, caso contrário, são obrigadas a vender parte da assistência que receberam para cobrir os gastos em telefonia celular, seja com a carga dos celulares ou com a compra de cartões SIM.

Em média, entre 50 e 60 telefones são carregados a cada dia por esse serviço grátis. Até o momento, aproximadamente 950 cartões SIM foram distribuídos e mais de 650 refugiados se beneficiaram com o serviço grátis de carga de celulares.

Mahama, Ruanda. Um funcionário de campo do serviço de busca do CICV anota os dados de um menor desacompanhado para que a busca pela sua família possa começar. CC BY-NC-ND / CICV / Emmanuel Kagimbura