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Venezuela: formando o futuro em uma escola de Petare

Apesar da pandemia e de outras adversidades, as portas da creche Guillermina Rickel estão sempre abertas para receber seus pequenos estudantes. Ali os espera a funcionária Tamara Cárdenas. Com Johankys, Losbeida e outras mulheres que se apelidaram de “As Guillermineras”, Tamara se encarrega de receber e educar as crianças e cuidar da creche e do refeitório.

Tamara trabalha há mais de 20 anos nesta creche da comunidade 24 de Marzo de Petare, uma das áreas mais afetadas pela violência armada na Venezuela. Ela já foi operária e porteira da creche e atualmente é assistente da diretoria. "Eu oriento as crianças e às vezes ajudo em questões de saúde, porque também trabalho em um Centro de Diagnóstico Integral (CDI) e estudo enfermagem. Ajudo em tudo o que eu posso porque gosto de desafios", comenta orgulhosa, mas com um sorriso discreto.

Enquanto conta a história da sua creche, Tamara lembra que em 2019 a instituição tinha muitas carências. As professoras não tinham recursos para se deslocar até lá e a cantina foi fechada em algumas ocasiões por falta de insumos. Apesar disso, a equipe se manteve muito unida e nunca faltou a motivação para melhorar a situação. Portanto, Tamara decidiu entrar em contato com o CICV.

"Quando os funcionários do CICV entregaram insumos no CDI onde trabalho, pedi ajuda para a creche, comentei sobre as carências das 250 crianças que estudam lá e expliquei que não contávamos com todos os recursos e equipamentos para o refeitório naquela época", diz Tamara.

Com grande entusiasmo e esperança, ela esperava a visita que finalmente levaria alegria para sua querida creche. "Alguns não acreditavam que alguém viesse nos ajudar. Mas pouco depois o CICV nos visitou, e desde então recebê-lo tem sido muito gratificante para mim. Em 2019, o CICV doou o fogão, a geladeira e o liquidificador para a cozinha da creche. Tínhamos o interesse, mas não tínhamos as ferramentas, e graças a esses equipamentos conseguimos fazer um melhor trabalho", lembra Tamara com emoção.

Quando as aulas presenciais foram interrompidas pela pandemia da Covid-19, as professoras e outras colaboradoras da creche se empenharam para manter o refeitório aberto por causa da maior necessidade de alimentação das crianças. "Elas precisavam continuar se alimentando, e nós fizemos o impossível para aproveitar os insumos que recebíamos. Às vezes, os membros da comunidade contribuíam com alguns ingredientes e nós cozinhávamos não apenas para as crianças, mas para quem precisasse".

Os constantes confrontos armados nesta zona de Petare são outra das muitas adversidades que afetam a vida da comunidade, mas não impediram Tamara e seus colegas de estar frequentemente na creche para proteger o espaço da violência armada. "Essa é a nossa escola, e nós devemos protegê-la. Meus filhos estudaram aqui, e as futuras gerações também precisarão deste espaço para se formar e aprender. Portanto, mesmo sem aulas, nós viemos", diz.

Graças ao compromisso e à confiança de Tamara, das professoras e de outros membros da comunidade, o CICV tem tido acesso à área para trabalhar na melhora das condições da creche, instalando um sistema elétrico para a instituição e capinando as áreas externas e o parque - tarefas que ajudarão muito quando as crianças voltarem às aulas.

"As pessoas me perguntam o que eu faço aqui, e a resposta é simples: é pela satisfação de ajudar os outros, mesmo com poucos recursos. Quando você forma uma criança, cria valores e fortalezas, cria pessoas maravilhosas para o futuro, não importa que estejam neste bairro".

O CICV reconhece o acesso à educação como uma necessidade das crianças e adolescentes que lhes permite desenvolver seu potencial e melhorar sua qualidade de vida, pois morar em ambientes afetados pela violência armada prejudica e dificulta seu acesso a oportunidades de aprendizagem.

A organização apoiou a creche Guillermina Rickel de Petare com a doação de utensílios e equipamentos de cozinha para o refeitório, artigos de higiene, molhoria da instalação elétrica, reabilitação de espaços e capinagem das áreas externas, para que as crianças possam ter um espaço digno onde aprender.

Na mesma região, a organização também ajudou a escola Manuel Aguirre doando utensílios e artigos de higiene para o refeitório, consertando uma bomba d'água e organizando oficinas de comportamento seguro e primeiros socorros.

Durante várias semanas, a equipe do CICV realizou tarefas de capinagem e instalou um sistema elétrico para a creche.