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Debate em Brasília trata de ataques a profissionais e estabelecimentos de saúde

Segundo estudo apresentado por Rilito Povea, a maior parte dos ataques às equipes de saúde recaem sobre profissionais de saúde locais e não estrangeiros, como muitos supõem. Foto: Alan Santos/CICV

 

Os constantes ataques a hospitais, ambulâncias e equipes médicas em áreas de conflito armado e de emergências estão causando uma erosão nos sistemas de saúde dos países afetados. O alerta foi dado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), no Auditório do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República de Brasília.

“Estamos cientes de que os médicos são pressionados pelas condições de trabalho e pela violência em áreas críticas e de conflito, no entanto, temos que assegurar que eles possam desenvolver seu trabalho de atendimento aos feridos e doentes segundo as bases éticas estabelecidas pela profissão que garantem seu pleno exercício”, afirmou Rilito Povea, gerente da campanha internacional "Assistência à Saúde em Perigo" do CICV, na última quinta-feira, dia 25 de setembro, a uma plateia formada por diplomatas, representantes das Nações Unidas, médicos, militares, estudantes e autoridades do governo brasileiro. 

 

O doutor Miguel R. Jorge, diretor de Relações Internacionais da AMB, ressaltou que a violência muitas vezes impede os profissionais da saúde de exercerem suas funções, chegando ao ponto de abandonar seus postos de trabalho. Foto: Alan Santos/CICV
 
 
 A enfermeira Drª. Angela Maria Alvarez, presidente da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), lembrou as graves consequências da violência contra as equipes de saúde para as populações carentes, principais prejudicadas. Foto: Alan Santos/CICV

 

Rilito Povea ressaltou que a violência recai em maior parte sobre os profissionais locais. Um estudo realizado em 2012 e 2013, em 23 países onde o CICV atua, registrou 1809 incidentes de violência contra profissionais, pacientes, ambulâncias e estabelecimentos de saúde. Sendo que 90% dos afetados são trabalhadores do país, e não estrangeiros. Uma parte dos ataques é realizada pelas forças de segurança (31%) e outra, por grupos armados não estatais (32%) e indivíduos que não formam nenhum grupo (14%).

 

Para o médico Miguel Jorge, feridos e doentes têm o direito de receber tratamento médico adequado. “No Brasil, não temos conflitos como em outros países, mas a violência causa pressões sobre as equipes de saúde, que muitas vezes não podem exercer suas funções e chegam a abandonar seus postos de trabalho”, ressaltou Jorge. Há muitos exemplos sobre este problema no país, que preocupa a AMB.
 

Em 2000, o Sindicato dos Médicos de São Paulo (SIMESP) realizou um estudo com médicos da Grande São Paulo que apontou que 41% deles estiveram expostos a violência por três ou mais vezes, sendo que nos hospitais públicos esta exposição é três vezes maior do que nos hospitais privados. A situação, segundo o levantamento, se repete com maior frequência nos serviços de pronto-atendimento (62%).

Já a enfermeira Angela Alvarez relatou casos de profissionais impedidos de trabalhar por causa de ameaças de morte e a consequente falta de atenção à saúde da população, em especial às comunidades mais carentes.

 Alexandre Teixeira Trino, coordenador adjunto do Departamento de Atenção Especializada e Temática do Ministério da Saúde, disse estar trabalhando com o mapeamento das áreas de risco para profissionais de saúde. Foto: Alan Santos/CICV

 

Alexandre Teixeira Trino informou que o MS está mapeando as áreas de risco para os profissionais da saúde. “A identificação dessas áreas permitirá qualificar médicos, enfermeiros, pessoal administrativo de hospitais e postos de saúde para que saibam relacionar-se com as comunidades e mitigar os riscos gerados por atores responsáveis pela violência, de modo a buscar formas de garantir um atendimento ético à população”, afirmou.  O MS prevê uma atenção prioritária aos territórios mais vulneráveis com baixos indicadores sociais, e que estão expostos à violência.

 

Antes do debate, os palestrantes e o público foram conhecer a exposição ‘Assistência à Saúde em perigo: Líbia e Somália no olhar de André Liohn’. Foto: Alan Santos/CICV
 

Ciclo de debates


Este foi o segundo e último debate realizado dentro da programação da mostra  fotográfica “Assistência à Saúde em Perigo: Líbia e Somália no Olhar de André Liohn". Em 11 de setembro, uma mesa-redonda reuniu jornalistas de alguns dos maiores veículos do país para debater sobre os “Desafios da cobertura jornalística em situações de conflito armado e emergências”. Participaram da mesa o repórter fotográfico André Liohn e a repórter especial do jornal O Estado de São Paulo Adriana Carranca. O editor assistente de Mundo, do Correio Braziliense, Sílvio Queiroz, mediou os debates.

A exposição “Assistência à Saúde em Perigo: Líbia e Somália no Olhar de André Liohn” reúne 70 imagens realizadas pelo premiado fotojornalista entre 2010 e 2013 na Somália e na Líbia e denunciam ao público a precariedade e a insegurança no atendimento aos feridos de guerra e às equipes de socorro. A mostra fica em cartaz em Brasília, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios, até 25 de outubro, com visitação de terça a domingo, das 9h às 18h30. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos.