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Acesso Mais Seguro tem efeitos positivos em municípios brasileiros

A adaptação de metodologias do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para áreas de violência urbana no Brasil passou no teste inicial e já começa a ser expandida com sucesso. Esta é a avaliação dos gestores municipais sobre o Acesso Mais Seguro para Serviços Públicos Essenciais (AMS) durante um encontro nos dias 31 de agosto e 1ode setembro no Rio de Janeiro.

O objetivo do AMS é ajudar os trabalhadores da saúde, assistência social e educação a minimizar os riscos impostos pela violência nas áreas mais vulneráveis das cidades. Os profissionais adotam medidas de autoproteção e desenvolvem protocolos de segurança para emergências. A implementação das ações em diferentes cidades brasileiras será, a partir de agora, monitorada de forma integrada, pelos municípios e pelo CICV, para gerar dados e informações relevantes para os próprios profissionais envolvidos, e também para a organização. Para isso, foram criados indicadores e parâmetros, que também foram discutidos e validados no encontro.

"Esta é uma reunião técnica de "feedback" (retorno) uma vez que muitos agentes perceberam necessidades específicas de seus municípios e precisamos debater como podemos desenvolvê-las ", explicou Filipe Costa Tomé de Carvalho, chefe adjunto da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. "Em situações de violência, não há ferramenta perfeita, é uma construção conjunta; e a nossa lógica aqui é de apoiar, de facilitar o trabalho dos educadores, agentes, assistentes sociais, entre outros".

Esperança

Na análise dos gestores locais, o Acesso Mais Seguro tem sido implementado com sucesso. Embora já estivesse sendo usado para unidades de saúde localizadas em áreas de risco no Rio, a implementação nas escolas municipais é recente. Em meados de agosto, cerca de 120 mil alunos ficaram sem aulas na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro.

"Uma semana de escolas funcionando sem interrupção no Jacarezinho para nós já é um grande presente", afirmou a representante da Secretaria Municipal de Educação do Rio, Aura Liane Pessanha de Souza. "Começamos as oficinas de sensibilização nas escolas no último dia 20 e já deu para notar a diferença de termos um trabalho integrado entre educação e segurança. Hoje, as ações estão mais coordenadas, mais sistematizadas; os professores sabem o que fazer, para onde levar as crianças, por exemplo, como agir", exemplificou.

Segundo Aura, o retorno foi tão positivo que o grupo já estuda a implementação de outras ações pedagógicas para as crianças expostas à violência.
"Precisamos dar esperança para as crianças de algumas comunidades que estão muito assustadas", contou a especialista. "Os menores, quando escutam qualquer barulho, se jogam no chão e choram muito. Os maiores, por sua vez, só brincam de dar tiro", relatou.

A implementação da ferramenta começou no chamado Projeto Rio, entre 2009 e 2015, mas desde o ano passado vem sendo replicada em 12 cidades brasileiras.

Gestores de serviços essenciais contaram sobre suas experiências com o Acesso Mais Seguro (AMS). Foto: Valda Nogueira/ CICV

Porto Alegre

"Não temos números ainda", afirmou a representante da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Tatiana Denardi, "mas dá para sentir que mudou a forma como as equipes das unidades de saúde lidam com situações de violência. Hoje, há muito mais objetividade nas ações e a comunicação também melhorou muito".

"Estamos ainda implementando a questão dos dados, mas dá para sentir claramente a mudança", fez coro a representante da Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio Grande do Sul, Maria Cristina Santos da Silva. "No ano passado, havia regiões em que simplesmente não havia mais visita dos agentes; este ano, eles voltaram para a rua".

Outro ponto importante para Maria Cristina é a tomada de decisão sobre fechar ou não alguma unidade diante de uma situação de violência. A partir da implementação da ferramenta, a decisão não é tomada no calor dos acontecimentos pelo gestor no local, mas em conjunto e a partir de uma sistematização. Isso reduziu o número de fechamentos de unidades em vários municípios.

"A ideia é manter o serviço funcionando, mas garantir a segurança dos funcionários por meio de protocolos", explicou a responsável pelo Programa de Violência Urbana do CICV, Ana Cristina Monteiro.

"Risco zero não existe", acrescentou Filipe Costa Tomé de Carvalho. "Mas com os protocolos de proteção reduzimos muito a possibilidade de alguém ser atingido durante um tiroteio, por exemplo".

Gestores das diferentes cidades puderam trocar experiências no Rio de Janeiro. Foto: Valda Nogueira/ CICV