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Argentina: a ação humanitária do CICV durante o regime militar

A inauguração da mostra "Junto às Vítimas", do fotógrafo suíço Jean Mohr, no edifício Cuatro Columnas do Espacio Memoria y Derechos Humanos (ex-ESMA), em Buenos Aires, foi também palco de uma mesa redonda sobre a ação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) durante o regime militar na Argentina (1973-1983).

A exposição mostra a situação das vítimas de conflitos, dos refugiados e das comunidades que sofrem em decorrência da guerra, no marco dos 150 anos de ação humanitária do CICV.

Durante a inauguração, a subsecretaria de Política Exterior do Ministério das Relações Exteriores e do Culto, María Carolina Pérez Colmas, destacou que "a Argentina valoriza o trabalho da Cruz Vermelha, que defende os direitos mais básicos à vida e à dignidade humana".

A representante da Chancelaria argentina também destacou a importância de realizar a mostra na ex-ESMA, um lugar que fora destinado a tortura e mortes, hoje transformado em um espaço que defende e promove os direitos humanos. "O CICV avança com muitas discussões relacionadas com as violações aos direitos humanos, os conflitos armados e a paz. Trabalha-se pelo pleno direito humanitário", explicou Pérez.

A chefe da Missão do CICV na Argentina, Alexandra Manescu, lembrou que os golpes de estado no Chile e na Argentina, em 1973 e 1976 "causaram um aumento drástico das consequências humanitárias na região com um elevado número de vítimas, ou seja, mortos, feridos, torturados, detidos, desaparecidos, deslocados, refugiados, entre outros". ©Espacio Memoria (ex-ESMA)

"É uma grande satisfação apresentar esta mostra na ex-ESMA, porque nos permite celebrar os 150 anos do CICV e os laços que temos com a Argentina", manifestou o embaixador da Suíça, Hanspeter Mock, durante a inauguração. O embaixador também destacou que o trabalho de proteção das vítimas realizado pelo CICV é reconhecido mundialmente.

Participaram da mesa redonda Alexandra Manescu, chefe da Missão do CICV na Argentina; María Teresa Piñero, viúva de Angel Georgiadis (detido e executado pelo regime militar) e integrante da Comissão de Levantamento para a Recuperação da Memória Histórica da Chancelaria; Jorge Giles, ex-detido e atual diretor do Museu Malvinas e Ilhas do Atlântico Sul; Eduardo Jozami, ex-detido e diretor do Centro Cultural da Memória Haroldo Conti; e Daniel Tarnopolsky, parente de desaparecidos, membro da Diretoria dos Organismos de Direitos Humanos do Espacio Memoria.

O cadastro de cada pessoa visitada é uma ferramenta que pode ajudar a evitar desaparecimentos.

Alexandra Manescu, chefe da Missão do CICV na Argentina

Manescu lembrou que dois acontecimentos políticos foram determinantes para o estabelecimento e a presença efetiva do CICV na região: os golpes de estado no Chile, em 1973, e na República Argentina, em 1976. "Estes fatos causaram um aumento drástico das consequências humanitárias na região com um elevado número de vítimas, ou seja, mortos, feridos, torturados, detidos, desaparecidos, deslocados, refugiados, entre outros", explicou a chefe da Missão.

 

Segundo o embaixador da Suíça, Hanspeter Mock, o trabalho de proteção das vítimas realizado pelo CICV é reconhecido mundialmente.

O CICV solicitou, em diversas ocasiões, o acesso a determinadas unidades militares, recebendo somente permissão para visitar as Penitenciárias de Magdalena e de Riviera, e nenhuma outra unidade mais. "Apesar disso", destaca Manescu, "a organização conseguiu cadastrar as pessoas privadas de liberdade nesse período da história argentina".

A subsecretária de Política Exterior do Ministério das Relações Exteriores e do Culto da Argentina, María Carolina Pérez Colmas, declarou que o país valoriza o trabalho da Cruz Vermelha, que defende os direitos mais básicos à vida e à dignidade humana.

No final de 1976, o CICV havia cadastrado 3,8 mil detidos; em 1978, 4, 2 mil; em 1979, 3,5 mil; em 1980, 2,1 mil; em 1981, 1,8 mil; em 1982, mil detidos; em 1983, 500; e em 1984, 15 pessoas privadas de liberdade. "É importante destacar que o cadastro de cada pessoa visitada é uma ferramenta que pode ajudar a evitar desaparecimentos", declarou Manescu.

A exposição está aberta para visitas até o dia 8 de junho no prédio da ex-ESMA (Avenida Del Libertador 8151, Cidade Autônoma de Buenos Aires).

O presente artigo contém informações e fotos fornecidas pelo Espacio Memoria (ex-ESMA).

 

Leia o discurso completo da chefe da Missão do CICV na Argentina (em espanhol).

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