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Brasil: CICV acompanha familiares de pessoas desaparecidas

 Uma rede de solidariedade formada por familiares unidos pela mesma dor, a de conviver com o desaparecimento de um ente querido. O Programa de Acompanhamento de Familiares de Pessoas Desaparecidas em São Paulo foi criado e teve seu primeiro encontro neste fim de semana no interior de São Paulo. "Estar com vocês foi maravilhoso", resumiu – em sintonia com o sentimento geral - Alberto Correia dos Santos, que busca por seu filho Rodrigo desde 2012.

Cerca de 30 familiares participaram de atividades lúdicas, sessões informativas, e momentos mais íntimos, como na manhã de domingo em que compartilharam, emocionados, lembranças do convívio com seus filhos, filhas, mães, irmãs, cunhados, genros que estão desaparecidos. "Um mergulho em nossas histórias. Um resgate. Um espaço para desabafar com pessoas que nos entendem" – foram algumas das conclusões dos presentes.

"Este é o inicio de um caminho. Vamos apoiar estas famílias", explicou a coordenadora de Proteção da Delegação Regional do CICV para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, Marianne Pecassou. O objetivo do programa, que durará dois anos, é fortalecer as famílias como um grupo que pode ajudar, escutar, falar, contar suas histórias e criar uma rede para enfrentar melhor a situação difícil pela qual passam.

Quebrar o isolamento

Os familiares de pessoas desaparecidas têm necessidades específicas graves. Apesar disso, são poucas as ações que ajudam a aliviar ou resolver esses problemas. "Por isso, é comum eles ficarem isolados e enfraquecidos", afirma a responsável pelo Programa de Pessoas Desaparecidas e suas Famílias do CICV no Brasil, Larissa Leite.

Para Rita de Cassia de Oliveira, que procura por seu filho há 16 anos, o encontro ajuda muita gente "psicologicamente". "Me sinto bem. As atividades que fizemos e poder encontrar pessoas na mesma situação que a gente ajudam bastante", conta.

Fabio Azeredo, Responsável pelo Programa Saúde Mental e Apoio Psicossocial do CICV, fez um balanço positivo. "Foi gerado um movimento em que o próprio grupo tem um efeito terapêutico entre os que já se conheciam e os que estão entrando agora, o que é uma surpresa muito boa", avaliou. Parte dos familiares está em contato com o CICV desde 2018.

"Essa reunião nos dá muita força. Um fio só é fraco, dois são um pouco mais fortes, três fios são resistentes. É importante que as famílias se unam", ilustra Leonardo da Cruz. Maria Helena, mãe de Wellerson, conta como é difícil conviver com a angústia de ter um filho desaparecido e como ter apoio "é muito especial".

O Programa de Acompanhamento tratará de temas como o direito de saber, reconhecimento, relações familiares e comunitárias, saúde física, acesso a direitos, meios de vida e apoio emocional e psicológico.

Durante 2017, 82.684 casos de desaparecimento foram reportados às polícias civis no Brasil, segundo levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O CICV trabalha com autoridades locais e familiares, procurando ajudar na construção de melhores respostas a esse fenômeno.

Objetivos do Programa de Acompanhamento de Familiares de Pessoas Desaparecidas

✓ Fortalecer os participantes e seus familiares para que não fiquem paralisados pela incerteza e consigam lidar com as dificuldades relacionadas ao desaparecimento de seu ente querido

✓Facilitar o acesso à informação e a serviços que são importantes para a promoção dos seus direitos, saúde, segurança e bem-estar

✓ Inspirar e capacitar representantes de órgãos públicos e membros de outras organizações interessadas a realizar atividades de acompanhamento de outros familiares de pessoas desaparecidas

Foto S.Lefcovich/CICV

Os familiares se reúnem na Praça da Sé antes de viajar para o interior paulista.

Foto S.Lefcovich/CICV

Familiares compartilham lembranças dos seus entes queridos desaparecidos.

Foto S.Lefcovich/CICV

Responsável pelo Programa de Pessoas Desaparecidas do CICV e familiares dialogam sobre os seus direitos.

Foto S.Lefcovich/CICV

Alongamentos auxiliam os participantes a descontrair.

Foto G.Guedes/CICV

Mais de 30 pessoas participaram do primeiro encontro do Programa de Acompanhamento do CICV.