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Chile: chega ao fim ciclo de capacitação sobre violência e saúde mental em La Araucanía

A atividade reuniu profissionais da rede pública de saúde mental, responsáveis por prestar assistência à população afetada pela violência no sul do Chile.

Participantes comemoram o fim da capacitação de 60 horas que durou de março a dezembro. Foto: Hector Gonzáles / CICV

"Na cidade onde trabalho, a violência às vezes se torna algo normal e passa a ser parte da vida cotidiana. Portanto, é difícil que as pessoas tenham acesso ao consultório por motivos relacionados com essa questão."

O depoimento da psicóloga Fátima Ubilla, funcionária do Centro de Saúde Familiar (CESFAM) da cidade de Ercilla, é apenas um dos muitos relatos sobre a rotina dos profissionais da rede pública de saúde mental de La Araucanía, no sul do Chile.

Houve muitas situações de violência nessa região, que tem consequências humanitárias para a população, sobretudo em relação com a saúde mental e o bem-estar psicossocial.
Com o objetivo de fortalecer a capacidade dos profissionais para atender as necessidades psicológicas e psicossociais das pessoas afetadas pela violência, entre março e dezembro de 2017, realizou-se um ciclo de 60 horas de treinamento sobre violência e saúde mental, organizado pela Secretaria Regional do Ministério da Saúde do Governo do Chile em La Araucanía, a Cruz Vermelha Chilena e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

A última sessão foi realizada na cidade de Victoria, província de Malleco. Fátima Ubilla foi parte do grupo de 21 profissionais da área de psicologia e assistência social que assistiram à capacitação. Eles trabalham diariamente em centros de saúde da rede pública de Malleco, nas cidades de Collipulli, Curacautín, Ercilla, Traiguén e Victoria.

Fátima destacou que a atividade permitiu conhecer, a partir de uma perspectiva prático-teórica com diferentes análises de casos, as necessidades relacionadas com a saúde mental e o apoio psicossocial de maneira imparcial, sem deixar de atender as particularidades da população.

Para Álvaro Campos, assessor de saúde mental do Departamento Modelo de Atendimento Primário do Ministério da Saúde, a oficina foi uma oportunidade para conhecer os diferentes pontos de vista dos profissionais sobre a situação da região: "Existe uma necessidade de visibilizar todas as realidades possíveis para poder responde melhor às necessidades da população, por exemplo, no que diz respeito ao setor de saúde", afirmou.

Irma Rojas Moreno, assessora do Departamento de Saúde Mental da Subsecretaria de Saúde Pública, destacou a importância de ampliar a visão dos profissionais: "Todas as capacitações que possam ser oferecidas são bem-vindas, pois permitirão que as nossas equipes de saúde conheçam e adquiram ferramentas para se aproximar à população indígena e ajudá-la a partir dessa perspectiva, sem deixar de contemplar as suas problemáticas de saúde específicas e os seus processos de cura", ressaltou.

Em 2018, este ciclo de treinamento voltará a ser realizado com outros profissionais da área de saúde mental e para o qual serão convocados profissionais já capacitados para que participem como facilitadores.

O programa de apoio psicossocial e em saúde mental do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) tem como objetivo mitigar as consequências que a violência tem sobre a saúde mental da população. Isso, presta apoio direto às comunidades e aos grupos afetados. Ao mesmo tempo, o programa se propõe a capacitar a rede oficial de profissionais – que em geral são os primeiros a assistir a população – e que mantém um maior contato com as comunidades.