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Colômbia: recuperação humanitária dos restos de três irmãos desaparecidos em Córdoba

Esta é a história de três irmãos desaparecidos na Colômbia cujos restos foram recuperados pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

A decisão de procurar emprego no sul de Córdoba (Colômbia), perto do parque nacional Nudo de Paramillo, foi uma das últimas tomadas pelos irmãos *Carlos, Luis e Rafael.

A esperança de melhorar a situação econômica da família desapareceu pouco depois de chegarem à zona, suas vidas foram apagadas por um ator armado e seus corpos foram deixados no meio da floresta.

 

Ricardo Monsalve Gaviria/ CICV

O trabalho forense do CICV é feito muitas vezes em zonas de conflito armado de difícil acesso.

A família soube do ocorrido, tinha informação sobre o local onde seus entes queridos tinham sido enterrados, mas o acesso estava proibido, não era possível recuperar os corpos deles. O ano era 2008 e o tempo começou a passar sem dar esperança e muito menos respostas. Apenas restavam a memória para lembrá-los e a dor para chorá-los.

Dez anos depois, uma das irmãs entrou em contato com o CICV e contou a história de *Carlos, Luis e Rafael. Imediatamente, começou um processo de acompanhamento psicológico e busca, e a família voltou a andar pelo caminho da esperança. "Esses anos têm sido fortes, dolorosos, não tem sido fácil, mas Deus e eles nos deram a força para seguir em frente", disse ela.


Sylvain Bachelerie, delegado do CICV em Córdoba, explicou que o diálogo humanitário foi fundamental para obter não apenas a localização dos três irmãos, mas também o acesso à zona onde foram enterrados, logo no começo da parte mais profunda do Nudo de Paramillo.

"Quando soubemos o local exato, analisamos a questão logística para saber como podíamos acessar a zona e do que precisávamos. Graças aos nossos princípios de neutralidade, imparcialidade e confidencialidade, iniciamos um diálogo humanitário com atores armados da área para anunciar a nossa atividade", acrescentou Sylvain.

Laura Aguilera Jiménez / CICV

Ao longo do processo, a família tem contado com o apoio psicossocial do CICV, que continuará mesmo depois de que o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses entregue os resultados que confirmem ou não as identidades desses homens. </h2>

Sentimos alívio, paz e descanso nos nossos corações, já que deixaremos de buscar. A nossa dor não desaparecerá com isso, ela continuará, mas teremos um lugar aonde levar flores e velas e despedir deles com dignidade.

O mês de junho de 2021 foi, talvez, o mais esperado para a família desses três irmãos, uma data que a família tinha muita fé em que chegasse. Uma equipe do CICV empreendeu a viagem de mais de quatro horas em veículo, seis em mula e 45 minutos a pé em meio a muitos pântanos, rios e morros íngremes.
Parte da família também se deslocou até a zona, eles queriam testemunhar a recuperação dos restos de seus irmãos. Ao chegar ao ponto marcado, a equipe do CICV começou o processo de recuperação. O trabalho foi feito pelas pás, pela força e, acima de tudo, pela vontade.

Aos poucos, começou a ficar evidente o "traço" que, segundo o especialista forense do CICV Ángel Medina Bejarano, revela a parte do terreno que foi modificada para fazer a fossa onde os restos foram colocados. "Quando achamos isso, começamos a trabalhar com ferramentas pesadas e, após a localização dos primeiros ossos, passamos para ferramentas mais leves para limpar os restos que iam aparecendo", explicou o especialista.

Os familiares dos três irmãos não desviaram nunca a atenção da escavação; queriam presenciar cada momento da recuperação. Com eles, sempre, como desde o começo do processo, esteve Gloria Amaya, psicóloga do CICV responsável pela saúde mental e psicossocial, que explica que "todas as nossas ações são orientadas pela prevenção e pelo alívio diante da situação de busca vivida pelos familiares. A ideia é que eles se sintam acompanhados a cada momento, que sintam que os acompanhamos nessa dor, nesse desconforto emocional".

Ricardo Monsalve Gaviria/ CICV

Depois de seis horas de trabalho da equipe do CICV, recuperamos os restos desses três irmãos que perderam a vida em meio a um conflito que não era deles.

Após seis horas de um procedimento forense minucioso, o CICV recuperou os restos de três pessoas. Ao que tudo indica, trata-se dos três irmãos, seus familiares não têm dúvidas, mas a última palavra será do Instituto de Medicina Legal, que confirmará as identidades após receber os ossos.

No local da escavação ficaram uma cruz e um punhado de flores, com os quais a família quis expressar que esse ponto, no meio da floresta, foi um campo santo, um local que foi a última morada de *Carlos, Luis e Rafael durante 13 anos, mas onde não descansavam em paz.

O CICV continuará acompanhando esta família até a culminação do processo e a identificação completa.
Não importa o tempo, nem as condições difíceis: continuaremos buscando as pessoas desaparecidas no marco do conflito armado e da violência. Até mesmo guerras têm limites. #AquiFaltaAlguém.

Ricardo Monsalve Gaviria/ CICR

Não importa o tempo, nem as condições difíceis: continuaremos buscando as pessoas desaparecidas no marco do conflito armado e da violência. Até mesmo guerras têm limites.