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Deslocados na República Centro-Africana: escolhas difíceis

Centenas de milhares de deslocados na República Centro-Africana ainda aguardam a volta para casa para retomar uma vida normal. Já gravemente afetados pelos efeitos do conflito, eles agora devem suportar a presença de homens armados e os incêndios acidentais que destruíram os campos em Kaga Bandoro, Bantagafo e Bambari, aumentando as suas privações.

Várias pessoas morreram ou ficaram feridas no incêndio em Bambari, no centro-leste do país, em que houve grandes estragos, com mais da metade dos abrigos temporários tendo sido reduzidos a cinzas, bem como os pertences dos seus ocupantes, já muito vulneráveis. Incêndios similares ocorreram em Kaga Bandoro e Bantagafo, no norte, felizmente sem mortes.

"Não tive tempo de pegar nada quando o fogo começou. Perdemos tudo que tínhamos para viver no campo: roupas, lençóis e produtos básicos que recebemos das organizações humanitárias. O que será de nós?", pergunta Jeannette Igakola, viúva que vive no campo de Évêché em Kaga Bandoro.

Milhares de pessoas em perigo em todo o país

A situação dos deslocados na capital Bangui não é muito melhor. O acesso precário à água e saneamento os deixa vulneráveis a doenças como malária e diarreia. A escassez de comida está causando um risco de desnutrição.

Muito mais pessoas estão se deslocando atualmente em todo o país. Algumas foram acolhidas por famílias locais, enquanto outras estão acampando na mata em condições muito difíceis. A violência constante nos seus lugares de origem impede a volta dos que querem fazê-lo. Outros preferem esperar para ver como a situação evolui.

"No momento, existem 435 mil deslocados na República Centro-Africana que vivem com privações extremas. O maior desejo deles é voltar para casa assim que a situação permitir", afirmou o chefe da delegação do CICV no país, Jean-François Sangsue.

Kaga Bandaro, République centrafricaine. Les déplacés du site de l’Evêché de Kaga Bandaro n’avaient pas un autre endroit où aller après l’incendie qui a ravagé leur site. Ils sont obligés de refaire une fois de plus leur vie sur place dans le dénuement total.

Kaga Bandoro, República Centro-Africana: Deslocados no campo de Evêché em Kaga Bandoro não têm outro lugar para ir depois que o incêndio destruiu o local. Eles não têm outra escolha do que reconstruir, uma vez mais, as suas vidas, destituídos de tudo. CC BY-NC-ND / CICV / F. Sambia

Entre novembro de 2015 e janeiro de 2016, o CICV realizou as seguintes atividades, em algumas ocasiões em conjunto com os voluntários da Cruz Vermelha Centro-Africana:

  • realizou mais de 250 cirurgias e mais de 1,5 mil consultas no hospital comunitário de Bangui;
  • realizou mais de 10 mil consultas em Kaga Bandoro, incluindo 1 mil atendimentos pré-natal;
  • ofereceu apoio psicossocial a mais de 50 vítimas de violência sexual em Kaga Bandoro;
  • tratou mais de 1,9 mil casos de malária em Birao;
  • possibilitou que mais de 100 pessoas separadas das suas famílias pelo conflito falassem com seus entes queridos por telefone e reunificou três delas com seus familiares;
  • distribuiu água diariamente a mais de 53 mil deslocados em Bangui, Kaga Bandoro e Bambari;
  • garantiu que 10 mil moradores de Ndélé fossem abastecidos com água potável através da rede urbana de distribuição;
  • forneceu comida a mais de 7,5 mil crianças desnutridas em Kaga Bandoro;
  • entregou cestas alimentares a mais de 20 mil deslocados em Bangui e a mais de 7 mil no caminho entre Kaga Bandoro e Ouandago;
  • organizou palestras de conscientização para 45 jornalistas e mais de 100 líderes comunitários sobre a necessidade de proteger os profissionais e estabelecimentos de saúde;
  • sensibilizou mais de 30 instrutores das forças armadas do país e 45 membros de grupos armados sobre os princípios básicos do Direito Internacional Humanitário (DIH);

Além disso, os delegados do CICV visitaram mais de 500 detidos em todo o país. Destes, cerca de 400 receberam artigos de higiene de uso geral e pessoal.