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A difícil realidade do conflito armado na Colômbia

O recrudescimento das ações armadas indica que as promessas de paz ainda não se concretizaram nas regiões mais vulneráveis, onde houve uma consolidação integral da presença do Estado e onde a chegada de migrantes implica novos desafios.

A paz ainda esquiva muitos territórios da Colômbia. Em 2019, houve 352 vítimas de artefatos explosivos e minas antipessoal, mais de 25,3 mil pessoas deslocadas em massa e 218 agressões registradas com a Missão Médica. No entanto, estes foram apenas alguns dos tristes indicadores da deterioração das condições humanitárias em várias zonas do país.

Prova disso é que, durante 2019, as nossas equipes no terreno documentaram 987 violações ao DIH e outras normas humanitárias. No total, 77% dos casos foram ameaças, homicídios, atos de violência sexual e recrutamento de menores, entre outros fatos de suma gravidade.

No entanto, trata-se de uma mirada parcial da situação, resultado dos casos que conhecemos em primeira mão nos 13 escritórios que temos no país.

Este panorama desanimador mostra que todos os atores armados na Colômbia continuam desrespeitando as normas mínimas da guerra e deixam a população civil diante das piores consequências das suas ações.

Editorial: Proteger a dignidade em meio ao conflito

Complexo panorama de abusos 

Os abusos de guerra não diminuíram e têm uma configuração diferente em cada região do país. Isso significa que ações como identificar as estruturas dos atores armados, estabelecer um diálogo para lembrar-lhes sobre a sua obrigação de cumprir com as normas humanitárias e explicar a importância de permitir que cheguemos até as vítimas ainda são os nossos grandes desafios como profissionais humanitários, que outras organizações e instituições estatais também enfrentam.

Se não houver vontade para fechar a espiral de dor que muitos colombianos sofrem, as respostas, tão necessárias nesses momentos de incerteza, ficarão somente no papel.

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Muitas crianças em zonas de conflito não puderam ir à escola por estar em meio do conflito armado e a violência. Foto: Clara Araújo / CICV

As agressões à missão médica

Não se pode negar que a resposta institucional às vítimas se fortaleceu, ao mesmo tempo em que as comunidades melhoraram a sua capacidade de autoproteção e organização para a defesa dos seus direitos.

No entanto, este potencial se coloca em risco cada vez que se ataca a capacidade de algo tão essencial como salvar vida.

É impossível calcular a quantidade de doenças que ponde ser prevenidas, complicações médicas e mortes que poderia ter sido evitadas cada vez que um profissional de saúde foi obrigado a fugir ou cada vez que um posto de atendimento teve que fechar por falta de recursos.

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