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Brasil: Encontro de familiares de pessoas desaparecidas marca apresentação pública de relatório

Publicação aponta necessidades, dificuldades e expectativas das famílias de pessoas desaparecidas do caso da "Vala de Perus".

Familiares de pessoas desaparecidas visitam o laboratório onde se encontram os restos mortais do caso "Vala de Perus". Foto: Marizilda Cruppe/CICV.

É uma dor que a gente não consegue superar com facilidade, porque você sempre está naquela expectativa ainda de concluir o que foi realmente que aconteceu.

Olga Miranda, familiar de pessoa desaparecida


Ao longo do ano de 2016, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) conduziu uma Avaliação das Necessidades dos Familiares de Pessoas Desaparecidas durante o regime militar, focada no caso da "Vala de Perus", em São Paulo. Ao todo, foram entrevistados 58 familiares de 32 pessoas desaparecidas. A avaliação permitiu ao CICV coletar, de forma direta, informações das famílias no sentido de entender sua situação atual, suas dificuldades, necessidades e expectativas. Foi possível conhecer e refletir sobre as prioridades expressadas pelas famílias e retransmitir e ampliar a voz das famílias frente às autoridades, apresentando às autoridades recomendações mais adaptadas.

"O relatório amplia e transmite diretamente a voz das famílias e demonstra que mesmo após mais de 40 anos do desaparecimento dos seus entes queridos, as famílias possuem necessidades específicas que devem ser atendidas. O Estado e a sociedade devem ampliar os esforços para apoiar os familiares e para responder às suas necessidades", disse Cleber Kemper, responsável pelo Programa de Pessoas Desaparecidas e Suas Famílias do CICV.


Nos dias 15 e 16 de dezembro, ocorreu o 5° Encontro de Familiares de pessoas desaparecidas do "caso Vala de Perus", em São Paulo. Durante o evento, o CICV comunicou aos familiares a decisão de tornar público o relatório "Naquela Mesa Está Faltando Ele", após solicitação das autoridades e consulta aos entrevistados. "Esse material é fundamental para que a gente possa iniciar o fomento dessa discussão sobre o desaparecimento como um todo no país.", afirmou Cristina Schein, coordenadora da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério dos Direitos Humanos.


A publicação aponta que dentre as prioridades dos familiares entrevistados estão, por exemplo, a necessidade de saber o que aconteceu com seus entes queridos desaparecidos (62%) e a de recuperar e identificar seus restos mortais (57%). De acordo com Marianne Pecassou, coordenadora de Proteção do CICV, "As famílias são as que estão melhor posicionadas para falar das suas próprias necessidades."


Nesta oportunidade, os familiares também puderam visitar o laboratório onde estão armazenados os restos mortais coletados na "Vala de Perus" e receber informações sobre o processo de identificação forense. Além disso, participaram de atividades para troca de experiências e compartilhamento de memórias. "Eu me senti feliz. Total e absoluto conforto. Senti que um daqueles ali é o meu irmão", disse Altair Vasconcelos, familiar de pessoa desaparecida, ao visitar o laboratório forense.

(O relatório) abre, também, o olhar da população, da sociedade, para um grupo que tem necessidades que nunca foram ouvidas.

Samantha Pereira, familiar de pessoa desaparecida.


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O CICV, como uma organização humanitária neutra, independente e imparcial, desenvolve sua ação humanitária em relação às pessoas desaparecidas e seus familiares em várias partes do mundo, pois entende que todas as pessoas, sem distinção, têm o direito de saber o destino e o paradeiro de seus entes queridos e de ter uma resposta adequada às necessidades humanitárias resultantes do desaparecimento de um familiar.

 

"Naquela Mesa Está Faltando Ele" (.pdf, 5.83Mb)

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