Artigo

Ghouta: de uma região de campos a uma região de escombros

Ghouta significa "campos" em árabe. Era uma região agrícola, que fornecia alimentos e mobília a Damasco e outras regiões da Síria.

Agora é um campo coberto de escombros, concreto e metal retorcido. O contraste é marcante – dos cafés e da vida animada de Damasco são somente dez minutos de carro para encontrar morte e destruição.

A magnitude disso é impossível descrever – deve ser visto de perto. Eu visitei o lugar acompanhando o Diretor de Operações do CICV, Dominik Stillhart. Ele disse que nunca havia visto nada assim em 27 anos de trabalho com o CICV.

Eu vi esse tipo de destruição uma vez na minha vida – na Tchetchênia, mas foi há muitos anos.

Grozny 1995

Uma criança anda de triciclo na Tchetchênia, Rússia. 1995. CC BY-NC-ND / CICV / Charles L. Page

Não há como imaginar quanto tempo levará para limpar os escombros – que provavelmente consistem em milhares de toneladas; e, além disso, poderão ser encontrados no meio todo tipo de material bélico não detonado. Crianças e adultos são mutilados e mortos diariamente em todo o país.

"Precisamos de desminagem mais do que comida e água", diz um morador.

Nos contaram a história de uma família inteira que foi morta, há poucos dias, por uma explosão de um artefato não detonado enquanto trabalhavam no campo.

Um voluntário da filial local do Crescente Vermelho Árabe Sírio me mostrou o que sobrou da escola da região. Tinha um foguete enterrado no canto.

Quando entramos em Harasta, estava tudo em silêncio. É uma carcaça de algo que já foi vivo – e agora está esvaziado. Nenhum prédio foi poupado.

"Passamos o último ano no porão. Agora vivemos no térreo, mas sem o teto. Como vamos conseguir suportar o inverno?"

A ansiedade paira no ar: Como será o futuro? Os meus filhos irão à escola? Como vou poder reconstruir a minha casa? O que vou comer amanhã?

"Eu voltei para Harasta, porque não podia mais viver no lugar para onde fugimos", conta uma mulher que encontramos. "A minha casa está destruída. Alugo um pequeno apartamento aqui e o meu irmão me manda dinheiro do Iraque. Não sei se vou conseguir sobreviver. Não sei como vou aguentar o inverno."

É chocante – e terrivelmente triste – ver sinais de uma vida que não está mais presente: uma fotografia, uma fita velha, um sapato. São fragmentos de histórias que nunca serão ouvidas, já que não se sabe o que aconteceu. Nem nunca se saberá.

Ao mesmo tempo, você vê pessoas começando a voltar a viver – pouco a pouco. Há algumas lojas, uma farmácia, um olival e pedaços de verde ali atrás. Há uma serenidade que é surreal comparada com a destruição ao redor.

O que você percebe também é todas as coisas que você não vê – a vida detrás das portas fechadas.

Os pensamentos e sonhos de um garoto que varre o chão, já que não há escolas para ele ir; o medo das grávidas que têm de fazer uma cesárea programada e assegurar-se de que estejam em um hospital tranquilo; as noites sem dormir das mães de bebês que chegam ao mundo tão pequenos – e devem lutar muito mais que os bebês em hospitais ocidentais.

Não consigo nem chegar a imaginar os níveis de ansiedade e estresse que essas pessoas têm todos os dias.

Como podem aguardar o futuro se tudo o que pensam é sobreviver ao presente?

Anastasia Isyuk, chefe adjunta de Relações Públicas e porta-voz do CICV