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Moçambique: gentileza e humanidade guiam trabalho do Movimento da Cruz Vermelha em tempos difíceis

Presente em Moçambique há mais de 40 anos e atuante em momentos cruciais da história recente do país, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho celebra a importância da gentileza e da humanidade no Dia Internacional da Cruz Vermelha deste ano, dia 8 de maio.

Os atos de gentileza têm guiado funcionários e voluntários em seu trabalho humanitário diário para ajudar as pessoas afetadas pelas consequências dos conflitos armados, das mudanças climáticas e problemas sociais e de saúde. Maior rede humanitária do mundo, o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho atua em 192 países e é composto pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e as 192 Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho – entre elas a Cruz Vermelha de Moçambique.

Nesta entrevista conjunta, a secretária geral da CVM, Cristina Uamusse, a coordenadora do CICV para a Cooperação com o Movimento, Deborah Bushor, e a chefe da Federação Internacional da Cruz Vermelha (FICV) para Moçambique e Angola, Naemi Heita, falam sobre os princípios fundamentais que unem o Movimento, as atividades prioritárias e a importância dos atos de gentileza diários em nosso trabalho.

Que desafios a pandemia trouxe nos últimos anos para o trabalho humanitário em Moçambique?

Cristina Uamusse – Nos últimos anos, as restrições impostas pela pandemia da Covid-19 afetaram não apenas a população no mundo todo mas também o trabalho humanitário. Em Moçambique não foi diferente e tivemos que respeitar as restrições ao reduzir a nossa circulação no terreno, suspender reuniões e capacitações presenciais e nos adaptarmos de forma geral. Mas também tivemos e ainda temos um papel importante na conscientização da população sobre a importância de se vacinar contra a Covid-19. Nossos voluntários atuam junto com o CICV no apoio à campanha nacional de vacinação, explicando às comunidades sobre as vacinas e as medidas de prevenção. Nestes tempos difíceis, a gentileza e a humanidade com que nossos colegas têm trabalhado diariamente representam importantes ferramentas para continuar ajudando quem mais precisa.

Que outras atividades são desempenhadas pela CVM em Moçambique ?

Cristina Uamusse – A CVM faz um importante trabalho de apoio às autoridades na prevenção e cuidados da saúde das pessoas, bem como em treinamento de primeiros-socorros e formação dos voluntários. Nossas equipes fazem trabalho de redução de riscos de desastres, de ajuda à população durante desastres naturais e de entrega de kits de primeira necessidade no norte do país.

O que são os princípios fundamentais do Movimento Internacional da Cruz Vermelha?

Deborah Buschor – O Movimento Internacional da Cruz Vermelha segue sete princípios fundamentais, que são eles humanidade, imparcialidade, neutralidade, independência, voluntariado, unidade e universalidade. Estes sete princípios fundamentais resumem a ética do Movimento, constituindo a essência do nosso enfoque para ajudar as pessoas afetadas por conflitos armados, desastres naturais e outras situações de emergência.

O que significam os princípios de imparcialidade e neutralidade na prática?

Deborah Buschor - O princípio da imparcialidade significa que quando prestamos ajuda não fazemos nenhuma distinção de nacionalidade, raça, religião, condição social nem orientação política. Nós nos dedicamos a socorrer os indivíduos na medida dos seus sofrimentos, atendendo às suas necessidades e dando prioridade às mais urgentes. Por outro lado, a neutralidade significa que o Movimento abstém-se de tomar parte em hostilidades ou em controvérsias, em qualquer momento, de ordem política, racial, religiosa e ideológica. Esse princípio é fundamental para que possamos conservar a confiança de todos e garantir um acesso humanitário seguro às áreas em que estão as pessoas afetadas por conflitos armados e desastres naturais.

Quais são as principais atividades do CICV em Moçambique?

Deborah Buschor – Nossas equipes atuam na assistência às pessoas afetadas pelo conflito armado em Cabo Delgado, melhorando o acesso à assistência à saúde e à água potável por meio da construção, expansão ou melhoria de centros de saúde e de redes distribuição e bombeamento de água. Também ajudamos no restabelecimento de laços familiars de pessoas separadas pela violência, um trabalho realizado em conjunto com a CVM. Além disso, distribuímos kits de ajuda emergencial para que as pessoas deslocadas possam recomeçar suas vidas nos lugares em que se encontram e fornecemos kits de pesca e agricultura para que possam ter uma fonte de renda. Nas províncias centrais e de Cabo Delgado, apoiamos a campanha nacional de vacinação contra Covid-19 facilitando o transporte de doses e equipes de vacinação.

Quais são as principais atividades da Federação Internacional da Cruz Vermelha em Moçambique?

Naemi Heita – A Federação Internacional da Cruz Vermelha atua antes, durante e depois de desastres e emergências para responder às necessidades e melhorar a vida das pessoas vulneráveis. Em Moçambique, trabalhamos neste momento para apoiar as pessoas afetadas pelos ciclones Gombe e Ana nas províncias centrais e do norte do país, avaliando as necessidades, distribuindo kits de ajuda emergencial e ajudando as famílias afetadas a se restabelecerem. Em Moçambique e outros países da região do sul na África, a mudança climática tem causado consequência cada mais graves, muitas vezes combinadas em áreas onde já existem os efeitos da violência, deixando a população ainda mais vulnerável.

Os voluntários são muito importantes para o Movimento da Cruz Vermelha, não é?

Naemi Heita – O Movimento da Cruz Vermelha tem 14 milhões de voluntários no mundo comprometidos em apoiar pessoas necessitadas por meio de diferentes actos de amabilidade. Os voluntários são cruciais para a Cruz Vermelha, no ambito de salvar vidas durante o ciclone ou inundação, ou durante uma epidemia. Em Moçambique, os voluntários actuam na conscientização sobre a importância do recebimento de vacinas e preparação em desastres.