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Nigéria: uma região à beira de um colapso

O conflito armando no nordeste da Nigéria entre a oposição armada no nordeste do país e o exército nigeriano já custou milhares de vidas e obrigou mais de dois milhões de pessoas a fugir. Além disso, muitas pessoas foram sequestradas, incluindo mais de 200 estudantes de Chibok em abril de 2014. A situação degenerou em uma crise humanitária regional, afetando também países vizinhos como Camarões, Chade e Níger.

Campo de deslocados de Malkohi, em Yola. Mulheres nigerianas afetadas pelo conflito armado costuram vestidos tradicionais em um campo de deslocados em Yola, onde vivem há mais de um ano. CC BY-NC-ND / CICV / J. Serrano Redondo

Uma das maiores preocupações dos deslocados internos é a falta de mantimentos e recursos. Algumas famílias sobrevivem com apenas um pouco de arroz por dia. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) é uma das poucas organizações internacionais presentes no território para prestar assistência.

Hospital Público Especializado de Maiduguri. "Uma granada explodiu na minha loja quando uma criança entrou com ela pensando que era um brinquedo", comenta Umar Abba, 33 anos, paciente de Baga, município situado no estado de Borno. Umar está se recuperando no Hospital Público Especializado de Maiduguri após a amputação de sua perna esquerda. CC BY-NC-ND / CICV / J. Serrano Redondo

Devido ao número de pessoas deslocadas, muitas cidades como Maiduguri viram a sua infraestrutura entrar em colapso.

A maioria dos deslocados foi instalada em escolas, edifícios públicos ou acolhida em casas de família, o que representa uma pesada carga para as comunidades afetadas, já empobrecidas.

Quando as famílias precisaram fugir das suas casas, deixaram o campo abandonado. A produção agrícola e o comércio diminuíram, o que está afetando o tecido socioeconômico como um todo. Muitas pessoas deslocadas que fugiram também perderam contato com os seus familiares.

Campo de deslocados Federal Training Centre em Maiduguri. Muitas vítimas da violência no nordeste da Nigéria, especialmente mulheres, crianças e idosos, tiveram de caminhar 200 km durante dias sem medicamentos. CC BY-NC-ND / CICV / J. Serrano Redondo

Muitas pessoas que fogem da violência não têm acesso a atendimento médico. Mulheres grávidas tiveram que dar à luz em condições muito difíceis. Cirurgiões têm de lidar com lesões que não estão acostumados a tratar, produzidas por explosões de bombas ou balas.

Hospital Público Especializado de Maiduguri. Um anestesista do CICV atende um ferido de bala durante operação. Em parceria com o Ministério da Saúde, a organização oferece atendimento cirúrgico aos feridos por armas de fogo e refugiados que necessitam atendimento de emergência. CC BY-NC-ND / CICV / J. Serrano Redondo

A comunidade internacional tem um papel crucial a desempenhar na cura das feridas físicas e psicológicas que estão afligindo a população civil. Deve-se continuar com o apoio e a assistência às comunidades afetadas para que as fugas no meio da noite e os pesadelos vividos na selva por milhares de mulheres, crianças e idosos sejam coisa do passado.

Campo de deslocados Federal Training Centre em Maiduguri. Estas crianças fugiram com as suas famílias para se salvar quando o conflito armado entre a oposição armada no nordeste do país e o exército nigeriano chegou à sua cidade natal, no estado de Boro. Faz um ano que não podem ir à escola e se vestem com farrapos. CC BY-NC-ND / CICV / J. Serrano Redondo

Artigo publicado originalmente pelo Ministério das Relações Exteriores da Espanha, como parte de uma série de doze histórias sobre o conflito armado e a situação humanitária no nordeste da Nigéria e nos países da bacia do lago Chade.