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Zimbábue: Separados pela distância, conectados por Wi-Fi

Ketsia no Campo de Refugiados de Tongogara no leste de Zimbábue

Ketsia Kahozi Bizvii está buscando desesperadamente pelo seus dois irmãos e uma irmã – Kevin, Jonathan e Asnath. A moça de 17 anos não tem notícias deles desde novembro de 2017 depois de fugir da sua casa em Kivu do Sul na República Democrática do Congo. Ela chegou sozinha ao Campo de Refugiados de Tongogara em Chipinge, leste de Zimbábue, no fim de 2017.

"Não tenho nenhum número de telefone [da família]. Isso [o Wi-Fi] vai me ajudar a encontrar a minha família que ficou no Congo," diz.

Ketsia acessou o Facebook com o Wi-Fi do escritório da Cruz Vermelha de Zimbábue no acampamento para se comunicar com as tias e primos da República Democrática do Congo. Eles dão informações para a busca dos seus irmãos. A adolescente diz que as conversas ajudam a manter o seu ânimo já que os familiares reiteram constantemente para que ela fique forte.

"Posso falar com as pessoas que eu conhecia antes. Conheci novas pessoas no acampamento, mas elas não me conhecem de antes. É melhor falar com as pessoas que eu conhecia, me dá esperanças que um dia eu me encontre com os meus irmãos."

Caleb no Campo de Refugiados de Tongogara no leste de Zimbábue

Caleb Baleza Byabushi encontra um lugar com sombra, ao lado de uma parede, para se proteger do sol forte e escrever no seu laptop como qualquer outro rapaz de 25 anos. Diferentemente dos rapazes da sua geração, Caleb não está on-line para conversar com os amigos, assistir vídeos no YouTube ou olhar o Instagram. Como Ketsia, ele também busca a família, da qual se separou quando fugiu de casa em Kivu do Sul, na República Democrática do Congo, em 2016 por questões de segurança.

Caleb, Ketsia e outros refugiados recebem ajuda diariamente para acessarem o Wi-Fi gratuito dos voluntários, Daniel Masanka e Remmyson Mwape – conhecidos afetuosamente como Mr. Daniel e Remmy. Eles trabalham juntos com a oficial de campo do programa Restabelecimento de Laços Familiares, Lilian Musimwa, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), para prestar este serviço à comunidade de refugiados. 

"Quando as pessoas fogem dos conflitos, elas se separam dos seus parentes e algumas não têm forma de se comunicar com os que ficaram para trás. Introduzimos um serviço de Wi-Fi no campo para permitir que os refugiados tenham acesso a telefone e outros aparelhos para usar a internet durante 30 minutos, uma vez por mês", explica Lilian. "Algumas das pessoas que ajudamos se deslocam até três quilômetros para poder ter acesso a esse serviço, que é a única maneira que eles têm de saber que os seus entes queridos estão bem", acrescenta.

Desde que o projeto começou em janeiro de 2018, foram feitas aproximadamente 3 mil conexões através do serviço.

O Campo de Refugiados de Tongogara abriga 12 mil refugiados. Inclui famílias, menores desacompanhados e crianças separadas. O CICV e a Cruz Vermelha do Zimbábue trabalham para ajudar as famílias separadas por conflito armado e violência a restabelecer ou manter contato com os seus entes queridos mediante o oferecimento de Wi-Fi e serviço telefônico gratuitos.