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Guatemala: mãe e filho se reencontram três décadas depois

Entre Rios, Guatemala, 22 de março de 2013. Cristina Pastor reencontra seu filho Pedro Coc, depois de anos de busca. Com o apoio do CICV, a Associação Onde Estão os Meninos e as Meninas (ADEN, na sigla em espanhol) conseguiu localizar mãe e filho, separados pela violência dos anos 80 na região de Ixil, no departamento de Quiché, Guatemala.

Cristina vivia no povoado de Chel, em Ixil, no departamento de Quiché, com seu marido e o filho Pedro. Quando a população civil foi obrigada a fugir e buscar refúgio nas montanhas, as pessoas perderam tudo, ficando desamparadas. Cristina e seu marido decidiram sair do refúgio temporário para buscar plantas e frutas para comer por causa da grande fome que sentiam. Deixaram o pequeno Pedro com os avós. No caminho foram capturados, ocorrendo, posteriormente, um enfrentamento, graças ao qual Cristina pôde escapar. Vinte e cinco dias depois, ela ficou sabendo que seu marido estava morto. Finalmente, teve que se refugiar no México, onde permaneceu os onze anos seguintes. Quando regressou à Guatemala, em 1993, foi mandada com outros guatemaltecos para a comunidade de Entre Rios, uma região muito distante no departamento de Petén.

Por outro lado, Pedro Coc sobreviveu com seus avós paternos nas montanhas. Seu avô foi obrigado a exercer a função de patrulheiro civil e morreu durante um enfrentamento. Anos mais tarde, sua avó faleceu por desnutrição, deixando Pedro em uma situação de total solidão aos 14 anos.

"Na minha vida, nunca tive o amor dos meus país. Vivi com várias famílias. Algumas pessoas me tratavam bem, como um filho, e outras muito mal, sem sentimentos", lembra Pedro.

O caso Pedro Coc de Paz foi registrado em 11 de fevereiro de 2010 pela ADEN. Em uma visita à comunidade de Entre Rios, a mãe de Pedro solicitou o apoio do CICV e da ADEN para localizar seu filho e seus pais. Durante mais de três anos, a associação buscou Pedro e seus avós em diferentes departamentos do país. Com o apoio do CICV, a informação foi documentada e sistematizada, foram comparados os dados e exames ante mortem de mães e filhos com os quais havia coincidência de datas e locais, foram realizadas visitas de campo e, em muitas ocasiões, depois de longas caminhadas, diferentes testemunhas puderam ser entrevistadas. A associação buscou em comunidades de origem, refúgio e retorno até que, em janeiro de 2013, chegou à conclusão que um jovem que vivia no povoado de Ixil, conhecido como Amacchel, era Pedro Coc de Paz, filho de Cristina Pastor e Tomas Coc.

O reencontro

Na manhã de 26 de março de 2013, a humilde residência de Cristina Pastor amanheceu adornada de flores; o pátio da casa estava ocupado por familiares, amigos, autoridades comunitárias, delegados do CICV e da ADEN. Ao ver seu filho, a senhora Pastor se afastou do grupo familiar e, como os olhos cheios de lágrimas, o abraçou depois de 30 anos de espera por este momento. Após este primeiro abraço, vieram os da avó e dois irmãos de Pedro.

Durante a festa de reencontro, Cristina afirmou: "Não tenho palavras além de todo o agradecimento aos que trouxerem meu filho (...) eu não sabia se ele estava vivo. Não conheço os nomes de quem tanto fez para trazer meu filho, mas desejo que Deus os acompanhe e lhes ajude a seguir fazendo tantas coisas boas".

Para Pedro, hoje com 31 anos, esta experiência equivale a "morrer e nascer duas vezes". "Até agora já conheci meus irmãos, meus avós, meus sobrinhos (...) não foi minha mãe que me quis me deixar na montanha, foi o conflito armado que nos causou tanta dor".

Durante o conflito armado da Guatemala, segundo a Comissão de Esclarecimento Histórico (CEH), desapareceram cerca de 45 mil pessoas. Mediante o programa do CICV sobre pessoas desaparecidas, trabalhou-se, com o apoio de organizações locais, na busca e reencontro de mais de 600 pessoas desaparecidas desde 1999.

Na Guatemala, todos os meses são realizados reencontros e restos mortais são exumados. A história se faz com a força de cada família que busca seus parentes desaparecidos.