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Colômbia: a ameaça constante dos artefatos explosivos

A presença, uso e abandono de artefatos explosivos continua causando múltiplas consequências humanitárias, incluindo confinamentos, deslocamentos, traumas psicológicos e angústia. Essas sequelas, conquanto menos visíveis do que outros efeitos, são igualmente graves, sendo que transformam de forma total e profunda a vida das populações.

Em 2022, comunidades inteiras experimentaram medo, ansiedade e impotência, já que a ameaça constante desses artefatos as impediu de transitarem livremente pelos seus territórios, pescarem, caçarem e acessarem suas safras e outros meios de subsistência. Além disso, o problema restringe o acesso das comunidades a serviços básicos de saúde e educação, aumentando a vulnerabilidade de crianças e adolescentes que, diante da falta de espaços seguros, correm maior perigo de serem envolvidos em conflitos armados.

A quantidade de vítimas diretas é outra prova da gravidade do problema. No ano passado, registramos 515 vítimas de minas antipessoal, resíduos explosivos de guerra, artefatos lançados e artefatos de detonação controlada. Dessas pessoas, 56 faleceram e o restante sobreviveu com sequelas físicas e psicológicas para a vida toda.

Os casos foram registrados em 18 departamentos da Colômbia, mas seis foram especialmente afetados: 70 % das vítimas concentraram-se em Cauca, Antioquia, Arauca, Nariño, Norte de Santander e Meta. A análise do fenômeno de uma perspectiva territorial apresenta vários destaques como, por exemplo, as novas áreas aonde o problema se expandiu.

De 86 munícipios que registraram acidentes no ano passado, 57 % não tinham informado vítimas em 2021. Além disso, em 2022, foram identificados 26 municípios novos afetados por artefatos explosivos que não tinham registrado vítimas nos últimos quatro anos. Esses dados provam a estreita relação entre a evolução do problema e as dinâmicas dos conflitos armados e da violência, que passam por permanente reconfiguração e podem variar expressivamente de uma área a outra.

2022 foi o ano com maior número de vítimas de acidentes com dispositivos explosivos. o número mais alto desde 2017

Outro aspecto relevante é o impacto de cada tipo de artefato explosivo. No ano passado, as vítimas de minas antipessoal e resíduos explosivos de guerra diminuíram 13 % em comparação com 2021, ao passo que aumentou o impacto dos incidentes com artefatos explosivos lançados e de detonação controlada, responsáveis por 69 % do total de vítimas registradas em 2022.

Um terceiro aspecto, e um dos mais relevantes, são os efeitos do problema na população civil. Das vítimas registradas no ano passado, 54 % foram pessoas civis, incluindo 43 menores de idade.

Essa situação e outros efeitos do fenômeno aumentaram a complexidade do panorama para as comunidades. Por exemplo, em 30 munícipios que registraram acidentes com artefatos explosivos, a população também teve que aguentar deslocamentos em massa e confinamentos. Também foram registrados incidentes desse tipo em áreas onde, mesmo sem vítimas diretas registradas, a presença de artefatos explosivos tem efeitos devastadores.

Todos os aspectos apresentados acima são provas da magnitude do problema e do sofrimento que ele causa à população. É fundamental sensibilizar os atores armados, as instituições do Estado e a cidadania sobre a realidade das comunidades, uma realidade que não é normal nem deveria ser normalizada.